sexta-feira, 12 de outubro de 2012

POBRE CRIANÇA POBRE




A criança vítima da pobreza, da miséria, não sabe do seu amanhã.
Só sabe do hoje, da sua vida precária,
Rotina eterna da falta de amor e de pão.
Em casa encontra a "fartura do faltar",
Falta a comida, roupas, livros e cadernos.
Na sua vida há pouco carinho, pouca atenção e muitas vezes falta o amor.
Em casa e na escola descobre a constante falta de respeito,
Quando vai à escola leva poucos sonhos, poucas crenças...
A falta de dignidade está presente ao seu redor.
A criança pobre se vira como pode,
Para ajudar a pagar as despesas da família.
Busca na caixa de engraxate, nos carregos da feira,
Busca nas lavagens e guardas de carros sua esperança de sobrevivência.
Embora ainda não saiba o seu futuro já estava determinado quando nasceu;
Para quem nasce pobre é muito, muito difícil fugir dele.
Por mais que se esforce,
Por mais que tente modificá-lo,
Mesmo que estude todas as lições de aula e de casa,
Mesmo assim ele não estará representado nos diversos conteúdos,
Pois a dureza da sua vida não está presente nas linhas e nem nas entrelinhas dos livros didáticos.
A criança pobre tem muito a dizer, mas, como falar?
Para quem falar?
Poucos saberão da sua vida, dos seus pensamentos, dos seus sonhos...
A sua linguagem ainda é considerada vulgar,
Suas palavras são consideradas incorretas,
Estão fora dos padrões convencionais.
Um dia a criança pobre deixará a escola que serve a pobreza,
Então ficará com saudades da escola pichada,
Das carteiras quebradas,
Do professor desvalorizado e desrespeitado,
Dos colegas amigos e até dos não amigos...
Mesmo nas dificuldades, sei que aquele menino da escola publica tentou fazer o seu melhor possível,
Deixou no coração dos professores a marca do desejo de crescer,
Deixou naquelas carteiras a esperança de um amanhã melhor...
Sua vida está cheia de descasos, de gritos, de intolerâncias...
A criança da escola publica não entende o poder das diferenças da divisão de classes sociais,
Quando deixa a escola espera um futuro luminoso e muito feliz.
Depara-se com o desemprego ou com o subemprego.
Aprendeu que a necessidade premente de sobreviver,
Aprendeu que a fome, a miséria, o descaso da sociedade que pode ser levado a um túnel escuro da marginalidade.
Será que a sociedade vai ensiná-lo a voltar para o caminho correto ou não há volta possível?
Se não conseguir mudar o seu percurso, no amanhã, quando ele acordar para o seu futuro, já será tarde demais...
Mas, em seu lugar, na carteira vazia daquela escola publica estará outro menino que, um dia também sonhará com o futuro mais adequado, conforme foi sonhado,
Sem saber que o seu futuro já está traçado na cartilha do mundo desigual, desumano, impiedoso dessa nossa sociedade capitalista.
E agora?
Será que nada poderá mudar esta realidade?
E você cidadão? Será que pode ajudar a construir uma sociedade mais igualitária?
Maria José De Azevedo Araujo



Um comentário:

  1. Poema pesado e contundente. Existem realidades q destroem nosso coração e a falta de solução para um problema tão grave... Por isso não podemos tolerar corrupção nem incompetência política nem desonestidade por parte de ninguém além de começarmos a fazer o que fazemos pouco: cobrar uma educação eficiente que permita a criança pobre mudar de vida. Um beijo, minha querida. Belo post, embora triste como a vida.

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