terça-feira, 12 de novembro de 2024

O QUE É GOOGLE NOTEBOK LM? COMO USAR?


O Google Notebook LM é uma IA que, basicamente, transforma grandes volumes de texto em informações fáceis de digerir. Você pode subir arquivos como PDFs, documentos, textos ou links, e a IA gera resumos, guias de estudo e até explicações simplificadas sobre o tema. Imagine poder fazer perguntas diretamente para os documentos que você carrega no sistema e receber respostas rápidas e objetivas. O melhor? Isso pode ser aplicado tanto no meio acadêmico quanto no profissional.

Exemplos de Aplicação

  • Recebeu cinco PDFs sobre um tema complexo para uma reunião importante? O Google Notebook LM pode te ajudar a resumir o conteúdo em poucos minutos.

  • Está estudando para provas e quer resumir todos os materiais de forma organizada? A ferramenta também permite que você agrupe até 50 fontes e crie guias de estudo automáticos.

Agora que você já conhece o básico, vamos mergulhar no passo a passo para usar essa IA a seu favor.

Como Acessar e Configurar o Google Notebook LM

O processo para começar a usar a ferramenta é simples:

  1. Acesse o Google Notebook LM: Basta ir ao site notebooklm.google.com e fazer login com sua conta Google. Caso sua conta esteja configurada em português, a interface já estará disponível nesse idioma.

Criando Seu Primeiro Notebook

Uma vez dentro da ferramenta, você precisará criar um caderno de anotações virtual, chamado de notebook. Para isso:

  1. Clique em Criar Notebook.

  2. Carregue Seus Documentos: Adicione os arquivos ou links que deseja que a IA analise. Pode ser um documento específico, como uma tese acadêmica, ou vários documentos que você quer agrupar em um único local.

    • Você pode subir arquivos diretamente do seu Google Drive, ou até inserir links de sites e documentos em diversos formatos, como PDF, TXT, Markdown, entre outros.

Dica: A ferramenta permite que você adicione até 50 fontes diferentes, o que é ótimo se você tem vários livros ou artigos sobre o mesmo tema.

Gerando Guias de Estudo e Resumos Automáticos

Depois de carregar seus documentos, você pode começar a gerar resumos, guias de estudo, ou até mesmo criar perguntas para a IA responder com base no conteúdo. Veja como fazer isso:

  1. Criar Resumos: A IA automaticamente vai analisar o conteúdo do documento e gerar um resumo detalhado, destacando os pontos principais.

  2. Guias de Estudo: No menu da ferramenta, escolha a opção Criar Guia de Estudo e a IA irá criar um guia completo para você.

  3. Perguntas Frequentes (FAQs): Você pode pedir para a IA gerar uma lista de perguntas frequentes sobre o documento. Isso é muito útil para quem está revisando conteúdos técnicos e quer focar em dúvidas comuns.

  4. Criação de Sumário: Caso você precise de um índice para navegação rápida dentro do conteúdo, a IA também pode criar um sumário detalhado.



Conversando com a IA: Entenda o Conteúdo em Nível Profundo

Aqui entra uma das partes mais poderosas da ferramenta: interagir diretamente com a IA. Você pode fazer perguntas específicas sobre o conteúdo que acabou de carregar e obter respostas imediatas. Exemplo prático:

Imagine que você subiu uma tese de mestrado complexa sobre robótica. Se o conteúdo for difícil de entender, você pode simplesmente perguntar:

Não entendi muito bem o assunto, consegue explicar resumidamente para um jovem de 14 ou 15 anos?

A IA vai adaptar a resposta para um nível mais acessível. E se isso ainda for muito complexo, você pode simplificar ainda mais:

Explique para uma criança de 5 anos.

Isso facilita o entendimento de conceitos complexos, como algoritmos ou documentações técnicas.

Exemplo de Prompt Simplificado:

Imagine que você está trabalhando com um estudo sobre AGVs (veículos guiados automaticamente) e quer simplificar o conceito para explicar para uma criança:

Explique para uma criança de 5 anos.

Resposta da IA: Imagine que temos um carrinho robô que gosta muito de brincar de seguir linhas. Ele é muito esperto e consegue andar sozinho seguindo uma linha desenhada no chão. A brincadeira fica ainda mais divertida quando ele está carregando presentinhos.

Funcionalidades Extras: Crie Podcasts e Linhas do Tempo

O Google Notebook LM também oferece outras funcionalidades incríveis, como:

  • Criação de Podcasts: A IA pode gerar um podcast a partir dos seus materiais, permitindo que você escute o conteúdo enquanto faz outras atividades, como dirigir ou se exercitar. No momento este recurso só está disponível para inglês.

  • Linha do Tempo: Se você está estudando um tema que envolve uma sequência de eventos, como História ou o desenvolvimento de uma tecnologia, a IA pode criar uma linha do tempo com os eventos principais.

Conclusão: Uma Ferramenta Poderosa para Estudantes e Profissionais

Seja você um estudante precisando revisar grandes volumes de conteúdo ou um profissional lidando com documentações técnicas complexas, o Google Notebook LM é a ferramenta ideal para otimizar seu tempo e melhorar sua compreensão. Com ele, você pode resumir documentos, gerar guias de estudo e até criar um podcast personalizado para estudar onde quiser.

Aplique essa tecnologia no seu dia a dia e veja a diferença que ela pode fazer nos seus estudos e na sua produtividade. Não esqueça de compartilhar essa dica com seus amigos e colegas de trabalho — afinal, uma ferramenta tão poderosa merece ser conhecida por todos!





domingo, 3 de novembro de 2024

Inteligência Artificial vai superar a humana até 2029, prevê futurista do Google

 



Ray Kurzweil, engenheiro do Google e renomado futurista, fez previsões ousadas sobre a inteligência artificial. Segundo ele, até 2029, a IA alcançará a inteligência humana em várias tarefas, e em 2045, ocorrerá a “singularidade tecnológica”. Essas previsões estão no seu novo livro, “The Singularity is Nearer”.

Kurzweil também acredita que até 2029 alcançaremos a “velocidade de escape da longevidade”. Isso significa que, para cada ano que passa, a ciência permitirá que os humanos estendam suas vidas por mais de um ano. Ele prevê que o envelhecimento será revertido por meio de biotecnologia avançada. Nano robôs injetados na corrente sanguínea repararão e melhorarão funções biológicas no nível celular, possibilitando uma extensão da vida de forma indefinida.

Ray Kurzweil, engenheiro do Google e renomado futurista, fez previsões ousadas sobre a inteligência artificial. Segundo ele, até 2029, a IA alcançará a inteligência humana em várias tarefas, e em 2045, ocorrerá a “singularidade tecnológica”. Essas previsões estão no seu novo livro, “The Singularity is Nearer”.

Kurzweil também acredita que até 2029 alcançaremos a “velocidade de escape da longevidade”. Isso significa que, para cada ano que passa, a ciência permitirá que os humanos estendam suas vidas por mais de um ano. Ele prevê que o envelhecimento será revertido por meio de biotecnologia avançada. Nano robôs injetados na corrente sanguínea repararão e melhorarão funções biológicas no nível celular, possibilitando uma extensão da vida de forma indefinida.

IA Igual à Humana em 2029

Kurzweil acredita que até 2029 a Inteligência Artificial Generativa (IAG) será capaz de realizar qualquer tarefa intelectual que um ser humano pode fazer. Desde 1999, ele mantém essa previsão, e mesmo com os avanços recentes, ele acha que esse prazo pode parecer conservador para alguns especialistas. Ele destaca três desafios que a IA precisa superar:
  • Memória contextual limitada: As IAs atuais têm dificuldades em lembrar e usar informações de forma consistente.
  • Falta de senso comum: As IAs não entendem o mundo como os humanos, o que limita suas capacidades.
  • Interação social insuficiente: As IAs não interagem de forma natural e intuitiva como as pessoas.
Kurzweil está confiante de que esses problemas serão resolvidos em breve, permitindo que a IA iguale e até supere a inteligência humana em várias áreas.
Kurzweil prevê que em 2045 a IA vai desencadear uma “explosão de inteligência” e mudanças profundas na sociedade. Esse momento, chamado de singularidade tecnológica, permitirá a fusão entre humanos e máquinas.

As pessoas poderão conectar seus cérebros à nuvem, aumentando drasticamente suas capacidades cognitivas. Ele vê essa fusão como um passo crucial na evolução humana, desbloqueando um potencial sem precedentes para a criatividade e a solução de problemas em escala global.

As previsões de Kurzweil se baseiam na ideia de crescimento exponencial do poder computacional, conhecida como Lei de Moore. Essa tendência já apoiou muitas de suas previsões anteriores, como o surgimento da internet e a vitória de computadores sobre campeões de xadrez humanos.

Esses avanços também levantam questões éticas e existenciais importantes. A integração entre humanos e IA pode levar a mudanças sociais e políticas profundas. Além disso, a criação de uma IA superinteligente apresenta riscos significativos relacionados ao controle e à alinhamento com os valores humanos. É essencial considerar cuidadosamente as implicações a longo prazo desses desenvolvimentos.

Quem é Ray Kurzweil?

Raymond Kurzweil


Raymond Kurzweil, nascido em 12 de fevereiro de 1948, em Nova Iorque, é um renomado futurista e engenheiro do Google, conhecido por suas previsões ousadas sobre o futuro da inteligência artificial (IA) e a tecnologia. Ao longo de sua carreira, ele se destacou como pioneiro em várias áreas tecnológicas, incluindo reconhecimento ótico de caracteres, síntese de voz, reconhecimento de fala e teclados eletrônicos.
Kurzweil cresceu no Queens, em Nova Iorque, filho de judeus que escaparam da Áustria antes da Segunda Guerra Mundial. Desde jovem, demonstrou interesse por tecnologia e ficção científica, incentivado por seu tio, um engenheiro da Bell Labs. Em 1963, escreveu seu primeiro programa de computador, usado por pesquisadores da IBM para processar dados estatísticos.

Ainda no ensino médio, Kurzweil desenvolveu um programa de reconhecimento de padrões que analisava obras de compositores clássicos e sintetizava suas próprias canções em estilos similares. Esse projeto rendeu a ele um prêmio na Feira Internacional de Ciência em 1965 e um convite para o programa de televisão “I’ve Got a Secret”.

Em 1974, Kurzweil fundou a Kurzweil Computer Products, Inc., desenvolvendo o primeiro sistema de reconhecimento ótico de caracteres capaz de ler qualquer fonte de texto. A invenção permitiu a criação da “Máquina Leitora de Kurzweil”, que ajudava pessoas cegas a “ler” textos através de síntese de voz. Essa inovação foi amplamente reconhecida e utilizada, incluindo pelo músico Stevie Wonder.

Kurzweil também se aventurou na música eletrônica, fundando a Kurzweil Music Systems em 1982. Ele criou sintetizadores capazes de imitar com precisão instrumentos musicais reais, como o Kurzweil K250, lançado em 1984. Sua empresa foi vendida para a coreana Young Chang em 1990, mas Kurzweil continuou como consultor por vários anos.

Na área de reconhecimento de fala, Kurzweil criou a Kurzweil Applied Intelligence em 1987, desenvolvendo o primeiro sistema comercial de reconhecimento de fala com amplo vocabulário. Esse sistema foi posteriormente utilizado em produtos médicos, facilitando a criação de relatórios por médicos através da fala.

Kurzweil é autor de vários livros influentes sobre tecnologia, saúde e o futuro. Seu primeiro livro, “The Age of Intelligent Machines” (1990), discute a história da IA e faz previsões sobre desenvolvimentos futuros. Em 1998, ele publicou “The Age of Spiritual Machines”, aprofundando suas teorias sobre o futuro da tecnologia. Outros lançamentos incluem “Fantastic Voyage: Live Long Enough to Live Forever” (2004), com Terry Grossman, e “The Singularity Is Near” (2005), onde ele explora o conceito de singularidade tecnológica.

Em 2014, Kurzweil lançou “How to Create a Mind”, onde eleva suas explorações sobre inteligências artificiais a novos patamares.
Kurzweil recebeu vários prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Grace Murray Hopper (1978), o Prêmio Dickson de Ciências (1994) e a Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação (1999). Ele também foi incluído no National Inventors Hall of Fame.

Fonte: O Antagonista

sábado, 5 de outubro de 2024

ARTIGO: FRONTEIRAS DIGITAIS DA HISTORIOGRAFIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA ERA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

 

FRONTEIRAS DIGITAIS DA HISTORIOGRAFIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA ERA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Ana Isabel Braga de Aguiar – Historiadora e Especialista em Inteligência Artificial na Educação

Resumo:
Este artigo aborda as transformações que a era digital tem proporcionado à historiografia, especialmente no contexto das Humanidades Digitais. A digitalização de fontes e a criação de novas metodologias possibilitam um avanço na pesquisa histórica, mas também trazem desafios no que tange à curadoria de dados, mediação crítica e utilização de plataformas colaborativas. Explorando essas fronteiras, o artigo analisa como historiadores podem se beneficiar dessas inovações, ao mesmo tempo em que propõe uma reflexão sobre as implicações tecnológicas e metodológicas no campo da historiografia.

Palavras-chave: Historiografia Digital, Humanidades Digitais, Curadoria de Dados, Plataformas Colaborativas, Edições Críticas, Inteligência Artificial.


Introdução

Nas últimas décadas, a digitalização de documentos históricos e o avanço da tecnologia da informação abriram novas oportunidades para a prática historiográfica. As Humanidades Digitais, uma intersecção entre ciências humanas e tecnologia, têm oferecido novas abordagens para o estudo do passado, trazendo ferramentas inovadoras para a pesquisa, análise e interpretação de fontes históricas. Contudo, como qualquer avanço tecnológico, essas mudanças também vêm acompanhadas de desafios que os historiadores precisam enfrentar. Este artigo pretende discutir as fronteiras digitais da historiografia, enfocando o papel do historiador na mediação entre o conhecimento histórico e as novas tecnologias, e as novas possibilidades proporcionadas pela era digital.

Humanidades Digitais: Uma Nova Abordagem para a Historiografia

As Humanidades Digitais surgem como uma resposta ao volume crescente de informações e à transformação do meio digital como repositório de conhecimento. A historiografia, enquanto disciplina profundamente conectada às fontes primárias, tem sido impactada por essa mudança de suporte. Segundo Manovich (2002), a digitalização das fontes tem implicações não apenas para o acesso, mas também para a forma como interpretamos e narramos o passado. Os documentos históricos, que antes eram restritos a arquivos físicos, estão agora disponíveis online, permitindo que pesquisadores do mundo inteiro acessem e analisem simultaneamente essas fontes.

A vantagem das Humanidades Digitais, no entanto, não se restringe ao acesso facilitado. O campo permite novas formas de analisar e visualizar dados, como a criação de mapas históricos interativos, análises de redes sociais e até o uso de inteligência artificial para detectar padrões em grandes volumes de dados. Isso redefine não apenas as metodologias de pesquisa, mas também as narrativas construídas a partir dessas novas ferramentas.

O Papel do Historiador na Curadoria de Dados Digitais

Com o avanço das tecnologias digitais, os historiadores passaram a desempenhar um papel essencial como curadores de dados. A vasta quantidade de informações disponíveis na internet exige uma atenção especial para a seleção, interpretação e apresentação dessas fontes. Como afirma Gitelman (2013), "o dado bruto é uma ficção", e o trabalho do historiador se torna essencial na escolha de quais dados incluir em suas análises e de como contextualizá-los adequadamente.

Nesse sentido, a curadoria de dados digitais requer uma abordagem crítica que leve em consideração a autenticidade das fontes, a sua relevância e o seu impacto nas narrativas históricas. Além disso, o historiador precisa dominar as ferramentas digitais utilizadas para acessar e interpretar essas fontes, uma vez que as novas tecnologias muitas vezes moldam as narrativas de maneiras inesperadas.

Plataformas Colaborativas e a Democratização do Conhecimento Histórico

Outra inovação trazida pela era digital é o surgimento de plataformas colaborativas, que permitem uma democratização sem precedentes do conhecimento histórico. Ferramentas como enciclopédias digitais e bancos de dados colaborativos tornaram possível a contribuição de vários pesquisadores para o desenvolvimento de narrativas históricas. Essas plataformas permitem a criação de edições críticas de textos digitalizados, onde múltiplos autores podem contribuir para a análise e interpretação de uma fonte, tornando o processo historiográfico mais dinâmico e inclusivo.

Por exemplo, projetos como o Digital Public Library of America e o Europeana oferecem repositórios de documentos históricos digitalizados que podem ser acessados e utilizados por historiadores e o público em geral. Esse tipo de plataforma não apenas facilita o acesso a fontes históricas, mas também promove um trabalho colaborativo que enriquece a pesquisa.

Desafios e Limitações das Fontes Digitais

Embora as fontes digitais tragam inovações significativas para a historiografia, também apresentam desafios que os historiadores precisam considerar. Um dos principais desafios é a questão da confiabilidade das fontes. Ao contrário dos arquivos físicos, onde o contexto de produção de um documento é mais claro, as fontes digitais podem ser facilmente manipuladas ou descontextualizadas, o que impõe a necessidade de uma análise rigorosa por parte do historiador.

Outro desafio importante é a preservação digital. A transitoriedade de formatos digitais pode resultar na perda de informações valiosas ao longo do tempo. Segundo Duranti (2009), a preservação digital é um dos principais obstáculos para garantir que as futuras gerações tenham acesso a fontes históricas na era digital. O historiador, portanto, além de se preocupar com a análise crítica das fontes, também deve estar atento às questões de preservação e arquivamento digital.

Inteligência Artificial e as Novas Fronteiras da Pesquisa Histórica

Com o advento da inteligência artificial, novas possibilidades surgem para a pesquisa histórica. Ferramentas de machine learning e data mining podem ser utilizadas para identificar padrões em grandes volumes de dados históricos, permitindo que os historiadores façam descobertas que antes seriam impossíveis de serem percebidas devido à limitação humana na análise de grandes conjuntos de dados. No entanto, como argumenta Presner (2016), o uso de IA na historiografia deve ser acompanhado de uma abordagem crítica, garantindo que os resultados obtidos sejam contextualizados e não vistos como substitutos da análise humana.

O uso de IA na historiografia também levanta questões éticas e metodológicas. A automatização de certos processos historiográficos pode levar à padronização excessiva das narrativas históricas, o que pode resultar em interpretações simplistas ou reducionistas de eventos complexos. Assim, o historiador continua a desempenhar um papel central na interpretação dos dados gerados por essas ferramentas, garantindo que as narrativas históricas sejam ricas e contextualizadas.

Considerações Finais

A era digital tem desafiado os historiadores a repensarem suas práticas e a adaptarem suas metodologias às novas ferramentas e plataformas disponíveis. Embora as Humanidades Digitais ofereçam inúmeras oportunidades para a pesquisa histórica, elas também trazem desafios significativos, especialmente no que se refere à curadoria de dados, confiabilidade das fontes e preservação digital.

O papel do historiador, portanto, torna-se ainda mais crucial na mediação entre o passado e o presente digital. Ao dominar as novas tecnologias e atuar como curador e mediador de fontes digitais, o historiador não apenas preserva a integridade da pesquisa histórica, mas também contribui para uma compreensão mais profunda e plural do passado.

Referências Bibliográficas:

  • DURANTI, Luciana. Archives and Digital Preservation: The Preservation of the Integrity of Electronic Records. Chicago: University of Chicago Press, 2009.

  • GITELMAN, Lisa. Raw Data is an Oxymoron. Cambridge: MIT Press, 2013.

  • HARARI, Yuval Noah. Nexus: Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

  • MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: MIT Press, 2002.

  • PRESNER, Todd. Critical Theory and the Digital Humanities. Los Angeles: University of California Press, 2016.


sábado, 7 de setembro de 2024

A Inteligência artificial seria uma Luneta Mágica?






Luneta Mágica é uma fábula que se sustenta em um enredo metafórico e versa sobre as agruras de Simplício, um rapaz absurdamente míope, crédulo e sem filtro interpretativo. Aprendiz de feiticeiro, tem em uma luneta mágica sua pandora a lhe mostrar o mundo e sua luta incessante entre o bem, o mal e seus escrutínios. 

O herói da trama assim se define: “Chamo-me Simplício e tenho condições naturais ainda mais tristes do que o meu nome. Nasci sob a influência de uma estrela maligna, nasci marcado com o selo do infortúnio. Sou míope; pior do que isso, duplamente míope – míope física e moralmente. 

Miopia física: — a duas polegadas de distância dos olhos não distingo um girassol de uma violeta. E por isso ando na cidade e não vejo as casas. 

Miopia moral: — sou sempre escravo das ideias dos outros; porque nunca pude ajustar duas ideias minhas. E por isso quando vou às galerias da Câmara temporária ou do Senado, sou consecutiva e decididamente a favor do parecer de todos os oradores que falam pró e contra a matéria em discussão. 

Se ao menos eu não tivesse consciência dessa minha miopia moral!… mas a convicção profunda de infortúnio tão grande é a única luz que brilha sem nuvens no meu espírito”.

Suponho que a leitura se faz necessária porque estamos balançando ao sabor das informações que pululam nas mídias e nas redes sociais. E para agravar a deriva somos mais antenados do que reflexivos, mais caixa de ressonância do que curadores do próprio pensamento. “Sou sempre escravo das ideias dos outros; porque nunca pude ajustar duas ideias minhas.”

Para sacudir mais o balançado e o mexido, surge a novidade preocupante da inteligência artificial com o ChatGPT, que é capaz de responder a questões de concursos, a provas escolares e universitárias e de produzir textos coerentes, coesos e adequados para questões acadêmicas, jurídicas, médicas, culturais e, mais ainda, até de imitar o estilo de renomados escritores.

Cogita-se que o ChatGPT, em breve, interagirá com a voz humana e oferecerá com rapidez impossível ao homem respostas às indagações da vida e do mundo. Por enquanto, consta que não cria e não inventa, mas se aproxima disso a depender das perguntas feitas e das possibilidades de articulação das informações oferecidas. É habilitado, inclusive, a oferecer resposta aparentemente crítica à sua própria condição de máquina: “Como uma máquina, eu não tenho capacidade de sentir desejos ou vontades”. A criatividade é uma característica humana e não pode ser atribuída a máquinas ou programas de computador. 

A máquina em questão pode ser muito útil à escola e extremamente perigosa também. E ameaçadora aos Simplícios da vida moderna — seres míopes, incapazes de produzir um pensamento autônomo ou autoral.

No entanto, uma escola arraiga a um projeto pedagógico que não explora a hipótese, a indagação, a elaboração, a imaginação, a fabricação, a idealização, a conclusão. E ainda faltam o contraste, a crítica, a validação, a contestação, a estimação, o julgamento, a formulação. Sem esquecer da invenção, montagem, projeção, prospecção, exame, questionamento, previsão, solução, e a proposição. Formará muitos Simplícios, incapazes de uma autonomia crítica. 

Por isso, o desespero bateu à porta e à aorta, e virou de cabeça para baixo o universo escolar. Muitas instituições de ensino estão buscando caminhos para proibir o inevitável, coibindo o plágio e a “cola” de estudantes e universitários que terão à disposição uma máquina generosa pronta a oferecer articulação de pensamento, elaboração de textos e respostas a um sem-número de indagações feitas nos bancos acadêmicos. Seria mais razoável, que os alunos se debruçassem sobre as informações e extraíssem algum olhar criativo.

Decerto, esse caminho não será simplório demais (para não escapar do campo semântico do nosso protagonista). A jornada dos jovens no mundo será espinhenta e árdua se não remodelarmos na comunidade escolar (pais, professores, pedagogos, diretores e governantes) a visão de escola, de conteúdo, de habilidades e de competências. Diante disso, precisamos estar atentos e fortes à viração dos ventos que sopram no mundo digital.

Não há mais lugar para uma escola baseada apenas em perguntas que remetem à articulação, à análise e à elaboração de respostas e pesquisas ao que já está posto. Não faz mais sentido insistir em uma rota única, em um samba de uma nota só que torna alheia a descoberta do mundo.

Formamos muitos Simplícios ao longo do tempo. É preciso oferecer condições aos estudantes para que eles encontrem situações-problema para inferir, criar, cogitar, propor, solucionar e tecer o trabalho fino com as informações que chegam do mundo analógico e digital. Assim sendo, o ChatGPT e suas variações serão ferramentas mais contributivas do que assustadoras.

Fonte do texto: https://revistaeducacao.com.br/2023/04/04/inteligencia-artificial-escola-pensante/