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sábado, 5 de outubro de 2024

ARTIGO: FRONTEIRAS DIGITAIS DA HISTORIOGRAFIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA ERA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

 

FRONTEIRAS DIGITAIS DA HISTORIOGRAFIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA ERA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Ana Isabel Braga de Aguiar – Historiadora e Especialista em Inteligência Artificial na Educação

Resumo:
Este artigo aborda as transformações que a era digital tem proporcionado à historiografia, especialmente no contexto das Humanidades Digitais. A digitalização de fontes e a criação de novas metodologias possibilitam um avanço na pesquisa histórica, mas também trazem desafios no que tange à curadoria de dados, mediação crítica e utilização de plataformas colaborativas. Explorando essas fronteiras, o artigo analisa como historiadores podem se beneficiar dessas inovações, ao mesmo tempo em que propõe uma reflexão sobre as implicações tecnológicas e metodológicas no campo da historiografia.

Palavras-chave: Historiografia Digital, Humanidades Digitais, Curadoria de Dados, Plataformas Colaborativas, Edições Críticas, Inteligência Artificial.


Introdução

Nas últimas décadas, a digitalização de documentos históricos e o avanço da tecnologia da informação abriram novas oportunidades para a prática historiográfica. As Humanidades Digitais, uma intersecção entre ciências humanas e tecnologia, têm oferecido novas abordagens para o estudo do passado, trazendo ferramentas inovadoras para a pesquisa, análise e interpretação de fontes históricas. Contudo, como qualquer avanço tecnológico, essas mudanças também vêm acompanhadas de desafios que os historiadores precisam enfrentar. Este artigo pretende discutir as fronteiras digitais da historiografia, enfocando o papel do historiador na mediação entre o conhecimento histórico e as novas tecnologias, e as novas possibilidades proporcionadas pela era digital.

Humanidades Digitais: Uma Nova Abordagem para a Historiografia

As Humanidades Digitais surgem como uma resposta ao volume crescente de informações e à transformação do meio digital como repositório de conhecimento. A historiografia, enquanto disciplina profundamente conectada às fontes primárias, tem sido impactada por essa mudança de suporte. Segundo Manovich (2002), a digitalização das fontes tem implicações não apenas para o acesso, mas também para a forma como interpretamos e narramos o passado. Os documentos históricos, que antes eram restritos a arquivos físicos, estão agora disponíveis online, permitindo que pesquisadores do mundo inteiro acessem e analisem simultaneamente essas fontes.

A vantagem das Humanidades Digitais, no entanto, não se restringe ao acesso facilitado. O campo permite novas formas de analisar e visualizar dados, como a criação de mapas históricos interativos, análises de redes sociais e até o uso de inteligência artificial para detectar padrões em grandes volumes de dados. Isso redefine não apenas as metodologias de pesquisa, mas também as narrativas construídas a partir dessas novas ferramentas.

O Papel do Historiador na Curadoria de Dados Digitais

Com o avanço das tecnologias digitais, os historiadores passaram a desempenhar um papel essencial como curadores de dados. A vasta quantidade de informações disponíveis na internet exige uma atenção especial para a seleção, interpretação e apresentação dessas fontes. Como afirma Gitelman (2013), "o dado bruto é uma ficção", e o trabalho do historiador se torna essencial na escolha de quais dados incluir em suas análises e de como contextualizá-los adequadamente.

Nesse sentido, a curadoria de dados digitais requer uma abordagem crítica que leve em consideração a autenticidade das fontes, a sua relevância e o seu impacto nas narrativas históricas. Além disso, o historiador precisa dominar as ferramentas digitais utilizadas para acessar e interpretar essas fontes, uma vez que as novas tecnologias muitas vezes moldam as narrativas de maneiras inesperadas.

Plataformas Colaborativas e a Democratização do Conhecimento Histórico

Outra inovação trazida pela era digital é o surgimento de plataformas colaborativas, que permitem uma democratização sem precedentes do conhecimento histórico. Ferramentas como enciclopédias digitais e bancos de dados colaborativos tornaram possível a contribuição de vários pesquisadores para o desenvolvimento de narrativas históricas. Essas plataformas permitem a criação de edições críticas de textos digitalizados, onde múltiplos autores podem contribuir para a análise e interpretação de uma fonte, tornando o processo historiográfico mais dinâmico e inclusivo.

Por exemplo, projetos como o Digital Public Library of America e o Europeana oferecem repositórios de documentos históricos digitalizados que podem ser acessados e utilizados por historiadores e o público em geral. Esse tipo de plataforma não apenas facilita o acesso a fontes históricas, mas também promove um trabalho colaborativo que enriquece a pesquisa.

Desafios e Limitações das Fontes Digitais

Embora as fontes digitais tragam inovações significativas para a historiografia, também apresentam desafios que os historiadores precisam considerar. Um dos principais desafios é a questão da confiabilidade das fontes. Ao contrário dos arquivos físicos, onde o contexto de produção de um documento é mais claro, as fontes digitais podem ser facilmente manipuladas ou descontextualizadas, o que impõe a necessidade de uma análise rigorosa por parte do historiador.

Outro desafio importante é a preservação digital. A transitoriedade de formatos digitais pode resultar na perda de informações valiosas ao longo do tempo. Segundo Duranti (2009), a preservação digital é um dos principais obstáculos para garantir que as futuras gerações tenham acesso a fontes históricas na era digital. O historiador, portanto, além de se preocupar com a análise crítica das fontes, também deve estar atento às questões de preservação e arquivamento digital.

Inteligência Artificial e as Novas Fronteiras da Pesquisa Histórica

Com o advento da inteligência artificial, novas possibilidades surgem para a pesquisa histórica. Ferramentas de machine learning e data mining podem ser utilizadas para identificar padrões em grandes volumes de dados históricos, permitindo que os historiadores façam descobertas que antes seriam impossíveis de serem percebidas devido à limitação humana na análise de grandes conjuntos de dados. No entanto, como argumenta Presner (2016), o uso de IA na historiografia deve ser acompanhado de uma abordagem crítica, garantindo que os resultados obtidos sejam contextualizados e não vistos como substitutos da análise humana.

O uso de IA na historiografia também levanta questões éticas e metodológicas. A automatização de certos processos historiográficos pode levar à padronização excessiva das narrativas históricas, o que pode resultar em interpretações simplistas ou reducionistas de eventos complexos. Assim, o historiador continua a desempenhar um papel central na interpretação dos dados gerados por essas ferramentas, garantindo que as narrativas históricas sejam ricas e contextualizadas.

Considerações Finais

A era digital tem desafiado os historiadores a repensarem suas práticas e a adaptarem suas metodologias às novas ferramentas e plataformas disponíveis. Embora as Humanidades Digitais ofereçam inúmeras oportunidades para a pesquisa histórica, elas também trazem desafios significativos, especialmente no que se refere à curadoria de dados, confiabilidade das fontes e preservação digital.

O papel do historiador, portanto, torna-se ainda mais crucial na mediação entre o passado e o presente digital. Ao dominar as novas tecnologias e atuar como curador e mediador de fontes digitais, o historiador não apenas preserva a integridade da pesquisa histórica, mas também contribui para uma compreensão mais profunda e plural do passado.

Referências Bibliográficas:

  • DURANTI, Luciana. Archives and Digital Preservation: The Preservation of the Integrity of Electronic Records. Chicago: University of Chicago Press, 2009.

  • GITELMAN, Lisa. Raw Data is an Oxymoron. Cambridge: MIT Press, 2013.

  • HARARI, Yuval Noah. Nexus: Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

  • MANOVICH, Lev. The Language of New Media. Cambridge: MIT Press, 2002.

  • PRESNER, Todd. Critical Theory and the Digital Humanities. Los Angeles: University of California Press, 2016.


sábado, 23 de dezembro de 2023

PONTOS DE CULTURA DE FORTALEZA

 



PROJETO PONTOS DE CULTURA HISTÓRICA DE FORTALEZA

 

A cidade de Fortaleza é vista, por grande parte de sua população, como um lugar sem memória. Haja vista a especulação imobiliária e a falta de cuidados dos órgãos competentes e dos próprios moradores do local. Essa forma de pensar/agir esconde o legítimo valor histórico de nossa cidade.

Tomando como ponto de partida o Centro , ao caminhar por suas ruas e praças, nos deparamos com prédios centenários , árvores raras, arquitetura com várias influências locais e internacionais e uma riqueza imensurável em diversos templos religiosos.

Há quem diga que Fortaleza não possui museus. Isso é uma grande inverdade. Temos dezenas de museus que muitas vezes se tornam invisíveis pra imensa maioria porque não foi estimulado em nosso povo o desejo de saber, conhecer e se aprofundar sobre  a história desta Fortaleza tão imensa e privilegiada, com vista para o Oceano Atlântico, o que também faz de nossa cidade o ponto de menor distância entre Brasil e Europa, um exemplo disso é o fato de sermos a primeira cidade do Brasil com cabo submarino de fibra ótica, inaugurado em 2021 que liga Fortaleza(Brasil) e Sines (Portugal). A capital do Ceará tornou-se o ponto mais conectado do mundo, segundo o governo brasileiro.

Por que temos tanta tecnologia, tanto turismo, tanta natureza, tanta gente que ri, que faz piada de tudo, tanta gente inteligente e essa mesma gente desconhece sua história?

É em busca dessa e de outras respostas que resolvi iniciar essa caminhada pelos bairros, ruas, praças e avenidas de Fortaleza para conhecer e fazer conhecer a nossa riqueza histórica.

Em nossas escolas, infelizmente, o estudo da História do Ceará foi excluído, faz um bom tempo. Essa exclusão contribui ainda mais para apagar nossas memórias.

E aqui estou eu: cidadã fortalezense, historiadora e apaixonada por cultura! Trago comigo o sonho e a missão de valorizar e trazer à luz o que muitas vezes parece esquecido, desvalorizado e escondido.  

Certa vez, no centro da cidade, buscava uma referência para chegar ao Sobrado Drº José Lourenço (primeiro edifício de três andares da cidade), e fiquei estarrecida com o desconhecimento de pessoas no seu entorno. Trabalhadores, ambulantes ... pessoas que circulam pelo local diariamente, sequer se deram conta do que se tratava esse local de tantas histórias e memórias. Isso me entristeceu e me deixou angustiada!

Nossa história é nosso maior tesouro. Todos nós temos o direito de usufruir dessa riqueza histórica e cultural. Por que valorizamos o que é do outro,  o que é de fora e desprezamos o que é nosso?  Quem tem interesse em apagar essas memórias do imaginário popular? 

Essas e outras tantas perguntas serão respondidas e outras mais surgirão ao longo dessa aventura histórica e cultural que inicia em Fortaleza mas que pretende ultrapassar nossas fronteiras e quem sabe, expandir esse projeto para outras cidades do estado e quiçá do país. 


VEJAMOS OS PASSOS QUE JÁ TRILHAMOS NESSA CAMINHADA HISTÓRICA E CULTURAL! 













sábado, 25 de novembro de 2023

ROMA ANTIGA EM 3D

 


A empresa americana Flyover Zone lançou um tour virtual 3D pela Roma Antiga. Um time de antropólogos, engenheiros de software e designers foi formado para compor o conteúdo, que inclui narração de guias especializados no período histórico. A Roma do ano 320 d.C foi meticulosamente recriada, incluindo pontos famosos como o Coliseu, o Circo Máximo, o Fórum Imperial e o Panteão. Todos os cenários foram recriados com base em pesquisas feitas a partir das ruínas encontradas na região, algumas das quais existem até hoje.


PARA FAZER A VISITA COMPLETA  - CLIQUE AQUI


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

DICA DE LEITURA

 

 

Livro: ASSIM NA MORTE COMO NA VIDA. 
Autor: Henrique Sérgio de Araújo Batista - Coleção Outras Histórias número 14.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

PROFESSORES E PROFESSORAS DE HISTÓRIA SÃO MESMO DOUTRINADORES?



Acusação é infundada e revela desconhecimento não só do processo de ensino-aprendizagem, como também do conhecimento histórico.


 Reino de Kush (ou “Reino de Cuxe”) foi um antigo reino africano fundado 1000 a.c. Ele estava localizado ao sul do Egito, em uma região que se chamava Núbia e que hoje corresponde ao Sudão. Essa sociedade africana se tornou tão importante que, em certo ponto de sua história, chegou a dominar o Egito. Certa vez, durante uma aula sobre esse reino, perguntei à turma se haveria alguma relação, legado ou aprendizagem que nós pudéssemos ter, em nosso presente, com o Reino de Kush. Ao fazer isso, minha intenção era problematizar o processo colonizador europeu na África e na Ásia, no século XIX, bem como os efeitos terríveis desse processo para os povos daqueles continentes até hoje. O exercício foi muito produtivo. Durante a conversa, exploramos a questão do racismo estrutural, a nossa visão de um Egito majoritariamente branco e da violência, no Brasil contemporâneo, contra os negros e suas expressões religiosas e culturais.

Dias depois desta aula, fiquei sabendo que o familiar de um dos alunos havia nos criticado em uma rede social. Segundo seu entendimento, eu estaria extrapolando nosso papel como professor e “doutrinando” a turma. A pessoa acreditava que a reflexão sobre o Reino de Kush era um modo de criar “acirramentos políticos” e de “tomar partido” (mas de que ou de quem?), além de minimizar a importância dos brancos na construção da nossa sociedade. Logo, eu estaria doutrinando os estudantes, pois estaria realizando uma interpretação e não uma descrição dos fatos do passado, “livre de elementos ideológicos”, como ela acreditava que deveria ser uma aula.

Esse acontecimento não é incomum, infelizmente: a acusação de que professores e professoras de História doutrinam suas turmas se tornou muito frequente nos últimos anos. Mas e aí, os docentes estão realmente se valendo do seu lugar na sala de aula para “doutrinar” suas turmas? A resposta é não, e vamos tentar, a partir de agora, explicar porque isso não é nem um pouco verdade.

Doutrinas




Em primeiro lugar, faz parte do currículo escolar de História explicar aos alunos o que são “doutrinas”. Mas o que são doutrinas?  De acordo com os principais dicionários da Língua Portuguesa, uma doutrina consiste em um “conjunto coerente de ideias de um sistema filosófico, político, religioso ou econômico a serem transmitidas ou ensinadas”. Ou seja, doutrina nada mais é do que um corpo de ideias. Cada doutrina tem uma interpretação das coisas, seja no âmbito político, religioso e econômico etc. E a história das sociedades está cheia de doutrinas. Não é possível conhecer uma sociedade do passado sem passar pelas doutrinas que a nortearam. Portanto, a aula de História deve ensinar doutrinas diversas e se o faz é porque há, no mundo, inúmeros sistemas de pensamento e formas de entender a realidade.

Apesar disso, o Ensino de História, no Brasil e em vários outros países, nem sempre conseguiu apresentar muito bem aos estudantes da disciplina a diversidade de doutrinas que caracterizaram as sociedades no passado. Por muito tempo, o Ensino de História privilegiou doutrinas e visões de mundo marcadamente europeias, silenciando sobre doutrinas de outros povos e culturas. Vale dizer, por exemplo, que durante muito tempo as aulas de história não discutiam a cultura e as doutrinas religiosas de matriz africana, dedicando-se, quase exclusivamente, às religiões e doutrinas grega, romana e cristã.

Isso acontecia porque a aula de História era afetada por uma visão de mundo específica: a do agente colonizador europeu. Durante séculos, o Brasil foi colonizado por uma nação europeia, e isso deixou marcas profundas em nossa sociedade, a começar pela forma como entendemos a história. Acostumamo-nos, por exemplo, a ver os povos africanos e os povos indígenas como povos atrasados, passivos e sem protagonismo, enquanto que os povos europeus seriam aqueles que fizeram a humanidade realmente avançar, produzindo uma cultura “universal”.

Há algumas décadas, essa forma de escrever a história mudou. Historiadores e historiadoras em todo o mundo passaram a estudar, pesquisar e escrever muito mais sobre outros povos e culturas, e recentemente, essa “nova história”, muito mais plural e representativa, chegou, ainda que timidamente, aos livros didáticos. Acontece que, como toda mudança, essa gerou desconforto. Algumas pessoas entenderam que falar, por exemplo, de religiões de matriz africana, era o mesmo que diminuir a importância das religiões cristãs, ou ainda, que explorar a história dos povos da Ásia e os seus feitos ao longo do tempo, era o mesmo que ignorar a cultura europeia. O professor, ao fazer isso, estaria “doutrinando” suas turmas.

Ora, nada mais equivocado do que esse pensamento. O que essa “nova história” fez foi corrigir um enorme erro nas narrativas que eram ensinadas aos alunos e alunas. Ela trouxe diálogo e múltiplos olhares para sala de aula, tornado o ensino de história muito mais interessante e próximo da realidade dos alunos. Não há nada de doutrinação nisso.  

    

Não há como “recuperar o passado como ele realmente foi”



Em segundo lugar, não é possível apenas descrever os fatos do passado “tal como ocorreram”. Os historiadores falam sobre o passado, mas não o conseguem reproduzir. O que passou, passou. A priori, não existe um “fato histórico”. São os historiadores, ao escreverem sobre o passado, que determinam o que será um “fato histórico” e o que não será “fato histórico”. Mas calma, isso não quer dizer que o historiador seja um ficcionista. O que estamos dizendo é que o tempo passado é sempre mediado por esse historiador, que é uma pessoa carregada de subjetividades, métodos (que podem ser bem diferentes) e ideologias. Mesmo narrativas que parecem ser puramente descritivas possuem a intervenção do historiador, afinal de contas, ele poderia ter escolhido determinados eventos ao invés de outros.

No final do século XIX, muitos historiadores acreditavam que poderiam realmente descrever o passado exatamente como ele foi. Mas ao longo do século XX, os historiadores abandonaram essa visão ingênua da profissão. Então, quando falamos de história, falamos de um conhecimento sobre o passado que é sempre mediado, ou ainda, de uma narrativa que obedece a uma determinada visão de mundo. Assumir isso não equivale a assumir qualquer tipo de doutrinação por parte do professor, mas que a história é feita por pessoas e essas pessoas não estão alheias ao mundo ao seu redor. Professores de história possuem diferentes visões do passado, assim como professores de biologia possuem diferentes visões sobre a vida e arquitetos possuem diferentes visões sobre como as cidades devem ser construídas.

Aqueles que acusam os professores de história de doutrinação continuam acreditando, como alguns historiadores do século XIX, que é possível escrever a história como “ela realmente aconteceu”. Em outras palavras, acreditam que existe uma forma de ir ao passado e produzir sobre ele uma narrativa que seja puramente descritiva, sem qualquer tipo de mediação, sem qualquer interferência de natureza política ou ideológica, quase como um computador. Mas mesmo o mais potente dos computadores seria incapaz de produzir uma história livre de algum tipo de “lente”, pois esse computador precisaria ter em seu banco de dados uma série de “fatos históricos”, e “fatos históricos”, como já vimos, não nascem assim, eles precisam ser assim considerados por uma pessoa, com todas as suas preferências e visões de mundo.

A História é uma ciência especializada em estudar o passado e a realidade em geral. Ela cria interpretações e, ao fazer isso, permite que os estudantes e as pessoas em geral possam pensar sobre o que ocorreu no passado e, ao mesmo tempo, sobre o que ocorre no presente. O passado não é acessível por uma máquina fotográfica que retrataria com precisão tudo o que ocorreu. Ele é uma fonte de onde criamos interpretações que nos ajudam a entender a nós mesmos.

Por exemplo, se pensarmos sobre o passado da medicina ocidental, conseguiremos entender como, num processo de autocrítica constante, a pesquisa permitiu que pudéssemos compreender como as mulheres foram vistas pelos discursos médicos como um ser que deveria ser controlado e, muitas vezes, internadas em hospitais psiquiátricos. Saber e interpretar esse passado permitirá aos estudantes que olhem não apenas para a história da ciência, mas para si mesmos e para as relações que eles estabelecem com as mulheres. A ideia, portanto, é aprender para construir futuros melhores do que o nosso presente. Quem sabe um futuro sem feminicídios. 

Tábulas rasas?




Em terceiro lugar, precisamos considerar que os estudantes não são “tábulas rasas”, incapazes de dialogar, de ter opiniões e elaborar críticas. As crianças e os jovens são seres abertos a aprender com o mundo e o fazem através de intensas trocas, nunca apenas passivamente aceitando tudo aquilo que se lhes diz ou ensina. A ideia de doutrinação é completamente vazia e se sustenta na frágil ideia de que os mais jovens têm menos condições de aprender sobre a vida. Ora, pois, são justamente os jovens que têm mais capacidade de aprender e entender o mundo. Quem assistiu a uma aula de História sabe muito bem que o debate e o diálogo aberto ocorrem entre estudantes e professores, na busca de compreender melhor o que ocorreu no passado, mas também como as coisas podem ser melhores no presente. É nessa aula de História que crianças e jovens poderão, ao exercitar o diálogo, desenvolver sua competência crítica, elemento central para sua vida e para a vida da sociedade.

O tom acusatório com que apontam professores de História de doutrinadores apenas tem o objetivo de continuar, contraditoriamente, a mostrar um mundo baseado em apenas uma doutrina, uma mesma visão de mundo, àquela legada, através do genocídio e da escravização, pelo colonizador.

Uma aula de História é um espaço público onde se aprende sim doutrinas e teorias diversas, mas é, sobretudo, o lugar onde se aprende a conviver, a difícil arte da convivência, do respeito e do diálogo. Um jovem que não vai à escola e não frequenta uma aula de História onde pode debater e discutir com seus colegas e professores, não aprende a entender a pluralidade do mundo. Uma criança ou um jovem não são “tábulas rasas”, incapazes de dialogar, de contestar ou de resistir. Uma aula sobre o Reino de Kush permitiu a eles muito conhecimento sobre um povo que esteve, por séculos, afastado do direito de ser visto como um povo com cultura, vida e complexidade. Mas, também despertou neles muita curiosidade para saber por que o Reino de Kush não fazia parte dos currículos de História ou por que não se estudava/estuda as religiões de matriz africana em sala de aula.

Como citar este artigo

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de; MULLET, Nilton. Professores e professoras de história são mesmo doutrinadores? (Artigo) In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/professores-e-professoras-de-historia-sao-mesmo-doutrinadores/. Publicado em: 27 jul. 2021. ISSN: 2674-5917.

domingo, 4 de dezembro de 2022

INAUGURAÇÃO DA PINACOTECA DO ESTADO DO CEARÁ


 
A HISTÓRIA SE CONTRÓI COM CONHECIMENTO.

  • A Pinacoteca do Ceará possui 9.275 metros quadrados de área total.
  • É um museu integrante da Rede Pública de Equipamentos da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult -­ CE) localizado nos galpões da antiga Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), tombados pelo patrimônio da União, na Praça da Estação.
  • Faz parte do Complexo Cultural Estação das Artes e vem para atender a uma demanda reivindicada há mais de 80 anos do campo das artes no Estado.
  • Pinacoteca do Ceará: Rua 24 de Maio, s/n - Complexo Cultural Estação das Artes
  • A Pinacoteca do Ceará é um equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante.
  • As exposições são gratuitas e abertas ao público de quinta a sábado, das 12h às 20h (último acesso às 19h), e aos domingos, das 10h às 18h (último acesso às 17h).











A HISTÓRIA DA ESTAÇÃO JOÃO FELIPE




  • A historia da estação João Felipe é diretamente ligada a historia das ferrovias no Ceará se iniciando com a construção da Estação de Fortaleza da Estrada de Ferro de Baturité.
MORRO DO CROATÁ - SAIBA MAIS AQUI
ESTAÇÃO DAS BORBOLETAS


  • Em 20 de janeiro de 1872 se deu o início da construção da primeira estrutura da estação sendo usado o terreno onde ficavam o Morro do Croatá (antiga base militar do século XVII e que em 1859 foi construído o observatório astronômico da Comissão científica idealizada por D. Pedro II, apelidada de “Comissão das Borboletas”) e o Campo da Amélia (onde existia um jardim de 1830 construído para homenagear a II Imperatriz do Brasil, D. Amélia Leuchtthemberg).

  • A inauguração do primeiro prédio foi em 30 de novembro de 1873. A locomotiva Hunslet nº 01, carinhosamente chamada de “A Fortaleza” foi a primeira a andar sobre os trilhos da cidade. As primeiras locomotivas do Ceará foram trazidas de Leeds, na Inglaterra. Depois de desembarcadas no Poço da Dragas (antigo porto de Fortaleza), foram arrastadas por tração animal e trilhos portáteis para a estação que não havia sido terminada ainda.

Na imagem vemos a Locomotiva Fortaleza que depois foi vendida como ferro velho e desmontada. 



  • No terreno ocupado atualmente pela estação João Felipe, na praça da estação, funcionou o cemitério de São Casimiro.
Foto antiga da Estação João Felipe logo após a destruição do Cemitério São Casemiro para sua construção. Fonte da Foto: Fortaleza Nobre


  • A partir de 1865, o campo santo ficou em completo abandono até que, em 1877 foi decidido sua demolição. As autoridades da época mandaram exumar alguns restos e os recolher ao cemitério de São João Batista. Em 1878 já estava tudo em ruínas: grades quebradas, túmulos destruídos, ossadas espalhadas pelo chão e animais pastando tranquilamente.

  • A estação central foi construída sobre esses túmulos antigos. Projetada e construída com planta do engenheiro Henrique Foglare, no local do antigo cemitério de São Casemiro praticamente com mão-de-obra dos retirantes da seca de 1877 em terreno que pertencia à sesmaria de Jacarecanga, de procedência da família Torres que fez doação a uma sociedade de oficiais do exército para o exercício de soldados.

Obra de Engenharia de Henrique Foglare 1877,
com mão de obra de retirantes da seca.



  • A Confraria de São José declarou-se dona da região e mais tarde a aforou à via férrea de Baturité. A obra, teve sua pedra fundamental lançada em 30 de novembro de 1873, mas somente foram iniciadas as obras em 1879, sendo, assim, inaugurada em 9 de junho de 1880.

  • Em 1946, quando era Presidente da República o Dr. José Linhares, cearense de Baturité, a Estação Central da RVC passou a ser chamada com o nome de Professor João Felipe, em homenagem ao ilustre engenheiro ferroviário cearense, nascido em Tauá, em 23 de março de 1861.




  • No dia 13 de janeiro de 2014, após anos funcionando como ponto final das linhas sul (Esta encerrou suas atividades em 2009 na estação João Felipe para dar continuidade as obras da linha sul do metrô) e oeste do sistema de trens urbanos de Fortaleza a estação foi desativada para dar seguimento as obras da Linha Leste do metrô de Fortaleza.

Primeiro trecho asfaltado da Av. Leste Oeste em 1973.


Características da Estação João Felipe



  • A edificação se desenvolveu em um único pavimento, e domina completamente o espaço urbano da praça Praça Castro Carreira (Conhecida popularmente como Praça da Estação). A fachada do bloco central possui colunas sobre pedestal encimado por frontão triangular, e escadaria demarcando o acesso ao interior do edifício. As fachadas contíguas possuem fenestração com aberturas em arco pleno, arrematadas superiormente por cornijas e platibandas.

  • O Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, conhecido como Estação das Artes, é um complexo cultural de 67 mil m² localizado no centro histórico da cidade de Fortaleza, ocupando o local da centenária edificação que abrigou a antiga estação ferroviária Professor João Felipe .






Referências

  • Governo do Estado entrega Complexo Cultural Estação das Artes Belchior após obras de restauro e modernização». Governo do Estado do Ceará. 31 de março de 2022. Consultado em 27 de maio de 2022
  • Estação Professor João Felipe». PATRIMÔNIO PARA TODOS. 11 de agosto de 2010
  • Estação João Felipe». www.fortalezaemfotos.com.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2018
  • Praça da Estação». www.fortalezanobre.com.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2018
  • Estação João Felipe será desativada - Cidade - Diário do Nordeste». Diário do Nordeste. Consultado em 3 de fevereiro de 2018
  • Estação João Felipe é desativada para embarques e desembarques | O POVO». www20.opovo.com.br. Consultado em 11 de março de 2018
  • Estação João Felipe». www.fortalezaemfotos.com.br. Consultado em 11 de março de 2018

domingo, 20 de novembro de 2022

MUSEU SIARÁ MINIATURA

 



O Museu Siará em Miniatura, em Fortaleza, reúne reproduções de patrimônios de Fortaleza e outras cidades do estado e é uma ótima opção para quem quer conhecer mais um pouco da história do Ceará e da capital cearense.

Durante a semana, são realizadas visitas monitoradas para estudantes de escolas particulares e públicas com a finalidade de conhecer o patrimônio arquitetônico. O espaço conta com mais de 1.500 peças em miniatura, feitas e doadas pela artista plástica Eliete Dantas.




Ao visitar o museu, é possível ver com detalhes as cidades de Aquiraz, a primeira capital do Ceará, como também Redenção, o primeiro município brasileiro a libertar os escravos. Já Fortaleza na década de 20 começa no Forte Nossa Senhora da Assunção. Depois a história da Igreja São José, hoje Catedral Metropolitana, a farmácia Osvaldo Cruz, a Santa Casa de Misericórdia e o Teatro José Alencar.

"O museu Ceará em Miniatura é um dos projetos do Instituto Intervalo, que trabalha o patrimônio identidade. É importante preservar para conhecer e conhecer para preservar".


Serviço
Siará em Miniatura
Avenida Alberto Craveiro, 2222, Castelão
(Dentro do Condomínio Espiritual Uirapuru)
Telefone: (85) 98791.0891
Agende sua visita.