segunda-feira, 26 de abril de 2010

O QUE É O ATEÍSMO?


O ateísmo é considerado como uma posição ideológica em relação à crença em deuses. Não pode ser considerado como um tipo específico de religião já que, na maioria das definições aceitas, para que uma dada perspectiva seja classificada como tendo caráter religioso, esta deve ter como elemento central um ou mais deuses, ou entidades divinas. Certas correntesfilosóficas podem ser consideradas como ateístas, mas o conceito de ateísmo não se prende a uma filosofia ou religião específica. Devemos lembrar que algumas correntes do Budismo eJainismo podem ser denominadas ateístas por não apresentarem nenhuma definição de deus, (mas isso é controverso e não devemos confundir Budismo com ateísmo, ou, muito menos, o inverso).
De fato, existem tantos ateus, diferentes entre si, quanto as pessoas de uma dada população, no seu todo. Pelo simples fato de uma pessoa ser ateísta, não se pode inferir que esta pessoa esteja alinhada a qualquer crença positiva particular (isto é, que não se limite à ausência de crença) e não implica a aceitação de qualquer sistema filosófico específico. O ateísmo também não é uma visão do mundo ou um modo de vida: existem ateus com os mais diversos gostos musicais, preferências políticas, clubes de futebol, escolhas morais, etc. Além disso, o indivíduo ateu não é necessariamente ligado aocomunismo ou a qualquer outro sistema particular de organização social. Os ateus representam muitas vertentes do espectro político. Obviamente, o fato de os ateus discordarem das idéias de pessoas religiosas não significa que defendam a perseguição dos religiosos - embora algumas correntes políticas tenham optado pela repressão, como na antiga União Soviética, alegando que os religiosos tinham sido cúmplices do regime czarista.
Em discursos contra o ateísmo são, ainda, frequentes algumas acusações infundadas e que entrariam mesmo em contradição com a própria definição do termo. Por exemplo, os ateus não defendem a adoração de Satã (do hebraico satan, "o adversário"), já que a crença em forças demoníacas só faria sentido se se aceitasse a existência de um ou mais deuses. O Satanismo, portanto, é uma religião por definição, sendo rejeitada pelos seguidores do ateísmo. As crenças típicas da "nova era", ou semelhantes, são também rejeitadas, em princípio, por qualquer ateu.

Tipos de ateus


Diagrama de Venn mostrando a relação entre as definições de ateísmo fraco/forte e ateísmo implícito/explícito.
Em termos gerais, o ateu é visto como alguém que aspira à objetividade e que recusa qualquer dogma. Muitos são céticos. Recusam-se a acreditar em algo por meio da , essencialmente e assumidamente irracional. A mesma fé que, sendo o sustentáculo das crenças de grande parte dos teístas, não o é obrigatoriamente: as idéias teístas nem sempre dependem dela. Muitos ateus consideram que a concepção mais frequente de divindade, tal como é apresentada pela maioria das religiões, é essencialmente autocontraditória, sendo logicamente impossível a sua existência. Outros ateus também podem ser levados a rejeitar a ideia de um deus por estar em desacordo com sua ideologia.
Alguns dos que poderiam ser chamados ateus não se identificam com o termo, preferindo ser chamados de agnósticos, ou seja, ainda que deixem aberta essa possibilidade, não afirmam nem negam a existência de qualquer entidade divina, de modo que não orientam a sua vida ou suas escolhas com base no pressuposto na existência de potências sobrenaturais. Nesse caso, o agnosticismo identificar-se-ia com o "ateísmo fraco". Para muitos, o verdadeiro ateu não aceitaria nenhuma das posições acima, sendo que julga a inexistência de deuses pela impossibilidade física ou lógica dos mesmos. Não abre chance a possibilidades, pois já estaria provada pela natureza em si sua posição. Essa corrente é a também chamada de "ateísmo forte". Em última instância, há vários tipos de ateus e muitas justificativas filosóficas possíveis para o ateísmo. Desse modo, se quiser descobrir por que uma pessoa em particular diz ser ateísta, o melhor é perguntar-lhe directamente.

O ateísmo no mundo e na história


Mapa indicando a porcetagem de população irreligiosa por país. Quanto mais escuro o país, maior é a porcentagem de pessoas irreligiosas.
A Encyclopædia Britannica estima que cerca de 2,5% da população mundial se classifica como ateísta. Parte considerável da população mundial, cerca de 20%, descreve-se como "não-religiosa" - termo que engloba agnósticos e deístas. O ateísmo é um pouco mais preponderante na Europa e naRússia do que nos Estados Unidos e raramente se encontra no terceiro mundo (existe, contudo, em Estados que durante a Guerra Fria eram considerados do 2º mundo, onde o ateísmo é ideologia oficial do Estado, como a República Popular da China, a Coreia do Norte e Cuba uma elevada percentagem de ateus). De acordo com uma pesquisa de 2003, 33% dos franceses adultos dizem que o termo "ateu" define muito bem sua posição sobre religião. Destaca-se 59% da população da República Checa, que se declara como ateísta.

O mapa mostra o resultado de uma pesquisa da Eurobarômetro realizada em 2005. As cores indicam a porcentagem de pessoas em cada paísque responderam "Eu acredito que exista um Deus". Os países marcados em cinza não foram incluídos na pesquisa.
É possível que o ateísmo esteja mais disseminado do que as pesquisas sugerem. Ateus que expressam abertamente a sua opinião passam frequentemente a carregar um estigma social, correndo o risco de seremdiscriminados, ou, em alguns países, condenados à morte. Alguns adeptos de visões teístas julgam aqueles que não professam qualquer crença em divindades como sendo amorais ou não confiáveis - inadequados, portanto, como membros da sociedade. O ateísmo já foi considerado crime em muitas sociedades antigas, sendo-o ainda em algumas da actualidade. As escrituras de muitas religiões condenam os descrentes. Podemos encontrar um exemplo bíblico na história de Amaleque. Na Europa Medieval, o ateísmo era tido como amoral e muitas vezes criminoso; ateus podiam ser sentenciados à morte na fogueira,[18] especialmente em países onde actuava a Inquisição. Enquanto o Protestantismo sofria discriminação e perseguição pela então dominante Igreja Católica Romana[19][20], Calvino também defendia a morte de ateus e hereges na fogueira.[21] O fato é que algumas igrejas, seitas ou grupos perseguiram, e ainda hoje perseguem, aqueles que não compartilham de suas interpretações religiosas, perseguindo ateus e teístas - mesmo aqueles que fazem parte da mesma religião mas que se insiram em grupos, seitas ou igrejas com interpretações religiosas distintas.

Karl Marx, fundador docomunismo, um dos mais famosos ateus da história.
Por outro lado, o ateísmo é, por vezes, a posição oficial de países comunistas, como a ex-União Soviética, o ex-bloco Oriental e a República Popular da China. Karl Marx, ateu e descendente de rabino judeu, afirmava que religião é "o ópio do povo". Queria com isto afirmar que esta existe para encobrir o verdadeiro estado das coisas numa sociedade, tornando os indivíduos mais receptivos ao controle social e exploração. Concomitantemente, afirmava que a religião era "a alma de um mundo sem alma", querendo assim dizer que a experiência religiosa surgia como uma reação normal de busca de sentido numa realidade social alienante. Doutrinas marxistas à parte, o fato é que tais Estados encontraram um meio de desencorajar todas as religiões no intuito de enfraquecer quaisquer possíveis centros de oposição ao seu completo controle sobre esses Estados. Na União Soviética e na República Popular da China, eram toleradas algumas igrejas que se submetiam ao estrito controle do estado. É notável que a resistência ao comunismo frequentemente encontrasse focos em assuntos religiosos, e ao papa João Paulo II é muitas vezes dado o crédito de ter ajudado a terminar com o comunismo no Leste Europeu. A luta do Dalai Lama pela independência do Tibet seria outro exemplo.

Richard Dawkins, um dos mais influentes ateus da atualidade.
Desde a Segunda Guerra Mundial, toda formatura militar nos Estados Unidos é acompanhada pelo freqüente uso dos dizeres "Não existem ateus em trincheiras"[carece de fontes]. Durante a Guerra Fria, o fato de os inimigos dos EUA serem oficialmente ateus ("Comunistas sem Deus") e o Macartismo somaram-se à visão de que ateus não são confiáveis nempatriotas. Na campanha presidencial de 1987 nos (oficialmente seculares) EUA, George H. W. Bush disse "não sei se ateus deveriam ser considerados como cidadãos nem como patriotas. Essa é uma nação sob Deus."[22] Declarações similares foram feitas durante a discussão que cercava a inclusão da frase "sob Deus" no Juramento de Lealdade Americano, palavras que foram adicionadas ao juramento no início do período da Guerra Fria.
Apesar das atitudes do período de Guerra Fria, os ateus são legalmente protegidos da discriminação nos EUA e são os mais fortes advogados da separação legal entre igreja e Estado. Os tribunais estadunidenses regularmente interpretam o requisito constitucional em relação à separação entre Igrejae Estado como sendo protetor da liberdade dos descrentes, e também proibindo o estabelecimento de qualquer estado religioso. Os ateus muitas vezes resumem a situação legal com a frase: "Liberdade religiosa também significa liberdade da não religião."
A despeito dos preconceitos, a desfiliação religiosa cresce em vários países, incluindo os lusófonos. No Brasil, de acordo com dados do IBGE,[23] 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população declaram-se sem religião, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas. A religião não é a única fonte de formulação de valores éticos e morais, pois a secularização das sociedades é algo inegável.

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