Funk carioca, arroz com feijão, pipa e, claro, tráfico e violência foram apresentados nesta terça-feira (18) aos frequentadores do Festival de Cannes, mais influente evento do cinema mundial da atualidade. O cartão de visitas é "Cinco vezes favela - Agora por nós mesmos", projeto capitaneado por Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães, que reúne curtas-metragens realizados por jovens cineastas originários de comunidades carentes do Rio de Janeiro.
Exibido fora da competição oficial, o longa-metragem pretende passar uma imagem diferente da favela. "Existe uma tentativa de construção de uma identidade completamente diferente dos estereótipos e lugares-comuns que a gente vê em geral na imprensa e na televisão quando o assunto é favela", explicou Diegues em entrevista ao G1 nesta tarde. "Este é um filme que tem um humor, uma luz no horizonte, uma preocupação moral que não são normais no chamado 'filme de favela'," defendeu.
As histórias, selecionadas em uma oficina de roteiros promovida nas próprias comunidades em 2007, lidam com temas que vão desde o garoto esforçado que quer cursar direito mas tem de vender droga para conseguir o dinheiro do ônibus, ou o menino que quer agradar o pai e trabalha como guardador para juntar dinheiro e comprar um frango assado, até o moleque corajoso que ousa cruzar a fronteira invisível entre dois morros rivais e ir buscar sua pipa que caiu lá do lado "dos alemão".
As interpretações e diálogos seguem uma linha de produções de TV - lembra a série "Cidade dos homens" às vezes -, e os finais são quase sempre felizes. Uma exceção é o curta "Concerto para violinos", de Luciano Vidigal, que tem no elenco o ator Thiago Martins na pele de um traficante que é encurralado pela polícia e pelo líder da facção inimiga depois de roubar armas de uma delegacia local. Mas o PM encarregado recuperar as armas é um amigo de infância do traficante.
"O 'Cinco vezes favela' mostra uma favela de dentro para fora, e não de fora para dentro. O 'Cidade de Deus' mostrou uma favela de bandido. O 'Tropa de elite' mostrou uma favela de policiais. E este filme mostra uma favela de trabalhadores, de moradores de verdade", afirmou Thiago Martins, que é criado na comunidade do Vidigal e começou a trabalhar como ator lá, no grupo Nós do Morro. Seu professor era Luciano Vidigal, diretor do curta do qual participa.
"Fico muito feliz de estar fazendo parte desse projeto agora, que mostra que o cinema das comunidades está crescendo bastante, com qualidade e muita dedicação."
Nenhum comentário:
Postar um comentário