Protestos pedem fim do regime autoritário de Hosni Mubarak, que governa desde 1981
Inspirados na revolta que derrubou o governo da Tunísia no início do ano, milhares de egípcios compareceram a um grande protesto nas ruas do país no último dia 25 de janeiro. O movimento, reforçado convocado pela internet, ganhou o apoio de ativistas islâmicos.
Desde então, todos os dias, mais e mais manifestações surgiram pelo país. A polícia inicialmente tentou reprimir as manifestações e cerca de 300 pessoas podem ter morrido nos embates, de acordo com uma estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas).
Nesta quarta-feira (2), manifestantes a favor de Mubarak invadiram a principal concentração opositora ao presidente, a praça Tahrir, no centro do Cairo. O confronto, com direito a disputas em camelos e cavalos, provocou a morte de mais dedez pessoas e deixou mais de mil feridos. Intimidações a jornalistas passaram a ser registradas com mais frequência e até mesmo profissionais brasileiros sofreram com o cerco.
O que motivou a revolta?
O movimento no Egito explodiu depois que uma onda de protestos derrubou o governo autoritário da Tunísia. O então presidente do país do norte da África, Zine el Abidine ben Ali, fugiu do solo tunisiano em 14 de janeiro. Também há manifestações no Iêmen, na Jordânia e em outros países árabes.
No Egito, os manifestantes acusam o regime de Mubarak de repressão, fraudes eleitorais, corrupção, responsabilidade pela pobreza e pelo desemprego no país, de mais de 80 milhões de habitantes.
Na última terça-feira (1º), os manifestantes convocaram a Marcha do Milhão, que colocou uma multidão nas ruas do Cairo, de Alexandria e de outras cidades. Os egípcios desafiaram o toque de recolher imposto pelo regime, que também cortou os sinais de internet e de telefone, para conter os protestos.
Quem está contra o governo?
A oposição no Egito é dividida em dois grandes grupos. O primeiro e mais organizado é a Irmandade Muçulmana, um partido islâmico fundado em 1929.
O grupo foi posto na ilegalidade por Mubarak, sob pressão dos Estados Unidos, que temem a influência islâmica nos governos da região.
O outro grupo, formado pela classe média e setores pró-Ocidente, passou a ser liderado pelo Prêmio Nobel da Paz, Mohammed ElBaradei. O diplomata, ex-diretor da AIEA (agência nuclear da ONU), voltou ao país e está liderando o movimento de oposição.
A Irmandade Muçulmana já indicou que aceita um governo de coalizão nacional liderado por ElBaradei, que já negocia com os EUA as bases de uma transição no país.
Por que o Egito é tão importante?
O Egito é considerado vital para a estabilidade no Oriente Médio e no norte da África e o mundo teme que a instabilidade no país comprometa a já inflamada região.
Além de ser o guardião do Canal de Suez, por onde passa boa parte do comércio internacional, o país, além da Jordânia, é o único a reconhecer o Estado de Israel.
O Egito é o quarto país que mais recebe recursos dos EUA – R$ 2,5 bilhões (US$ 1,5 bilhão) por ano. Mubarak tem sido um aliado histórico dos americanos, que temem que o fim do regime abra caminho para que a Irmandade Muçulmana assuma o poder.
Esse é também o principal temor de Israel, já que o grupo islâmico tem ligações com o Hamas palestino (grupo fundamentalista que controla a vizinha faixa de Gaza). O Ocidente também teme que a irmandade instaure um regime islâmico no país.
O que irá acontecer?
A maioria dos analistas não acredita que Mubarak consiga se manter no poder. Na última terça-feira (1º), o presidente tentou acalmar os protestos declarando que não será candidato à reeleição em setembro.
A decisão do líder de 82 anos, com saúde frágil, já era possível antes da crise e a expectativa era a indicação de seu filho, Gamal Mubarak, 47 anos, para o cargo. No entanto, nesta quinta-feira (3), o vice-presidente do país, Omar Suleiman, disse na TV estatal que Gamal também não concorrerá. Suleiman também disse que está excluído do processo eleitoral.
Nos últimos dias, o Exército chegou a dar sinais de que pode abandonar a lealdade a Mubarak, ao tomar a decisão de não reprimir os protestos. Muitos militares estão desertando e se juntando aos manifestantes.
O regime também perdeu o apoio de governos internacionais como o dos EUA, que pediram uma transição com ordem para o país.
Fonte http://noticias.r7.com
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