Atualmente, o desenvolvimento
tecnológico e medicinal nos passa uma falsa impressão de que o hábito de tomar
banhos, assim como outros cuidados com a higiene pessoal, se aprimorou com o
passar do tempo. Um dos mais famosos casos que refutam essa afirmação se
encontra na própria história do Brasil, quando os portugueses se intrigavam com
o hábito dos nativos de se banharem por diversas vezes ao dia. Contudo, as
peculiaridades sobre o banho não para por aí...
Entre os antigos egípcios é onde
encontramos os mais antigos relatos sobre o hábito de se tomar banho. Segundo
documentos de mais de 3000 anos, o ato de tomar banho era sagrado e parecia ser
uma forma de purificar o espírito do indivíduo. Não por acaso, eles tomavam
cerca de três banhos em um só dia. Para muitos especialistas, o ritual acabou
afugentando essa civilização de várias epidemias e pragas comuns à Antiguidade.
Na lendária civilização cretense,
os banhos faziam parte dos intervalos que ordenavam a realização de banquetes.
Sendo um dos povos que participaram da formação da civilização grega, os
cretenses tiveram essa tradição mantida pelos povos que habitaram a Hélade.
Para os gregos, o contato com a água integrava o processo de educação de seus
jovens. De acordo com as várias representações da época, o indivíduo bem
ensinado tanto dominava a leitura, assim como praticava a natação.
No decorrer da Antiguidade, os
romanos, visivelmente influenciados pela cultura grega, ampliaram a recorrência
do hábito realizando a construção das famosas termas. Uma terma consistia em um
edifício repleto de vários salões que contavam com vestiários, saunas e
diversas piscinas. Ligeiramente semelhantes aos resorts do mundo contemporâneo,
algumas dessas construções romanas também contavam com bibliotecas, jardins e
restaurantes.
Se no Império Romano as pessoas
não tinham o menor pudor de se banharem nesses locais públicos, na Idade Média
a coisa mudou bastante de figura. O papa Gregório I foi um dos mais importantes
precursores do repúdio ao banho ao dizer que o contato com o corpo era via mais
próxima do pecado. Dessa forma, o tomar banho se transformou em uma atividade
anual e acontecia em um simples barril de água. Fora disso, os asseios diários
eram feitos pelo uso de panos úmidos.
Se no Ocidente a moda do banho
estava em baixa, os povos orientais trataram de manter o hábito bem ativo entre
os seus comuns. Nos países de origem turco-árabe temos ainda hoje as hamans,
luxuosas casas de banho onde os muçulmanos tomam banho, depilam, passam por
sessões de massagem, branqueiam os dentes e se maquiam. Com o advento das
Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, o hábito de tomar banho ganhou algum
espaço nos fins da Idade Média.
Nos séculos XVI e XVII, as noções
de saúde e doença mais uma vez se tornou uma afronta ao hábito de se tomar
banho regularmente. Nessa época, os médicos acreditavam que as doenças
consistiam em manifestações malignas que tomavam o corpo do indivíduo por meio
de suas vias de entrada. A partir dessa premissa, a classe médica concluiu que
o banho em excesso alargava os poros da pele e, com isso, deixava o sujeito
suscetível a uma doença.
Somente no século seguinte, com a
ascensão da ciência iluminista, que o banho foi redimido como um meio de se
cuidar da saúde. Contudo, as várias décadas de uma cultura avessa ao contato do
corpo com a água conseguiu manter certa resistência ao banho. Em vários relatos
do século XIX, temos a descrição de doentes que foram obrigados a tomar banho à
força.
A popularização do banho só
aconteceu de fato no Ocidente a partir da década de 1930. Nessa época, a
lavagem do corpo era realizada aos sábados, mesmo dia em que as peças íntimas
das crianças eram trocadas. Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de
reconstrução de várias casas permitiu que os chuveiros fossem disseminados por
toda a Europa. Atualmente, nosso banho deixou de ser um ato público, mas ainda
é premissa fundamental para que os outros tenham uma boa impressão de nós
mesmos.
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