Só sabe do hoje, da sua
vida precária,
Rotina eterna da falta
de amor e de pão.
Em casa encontra a
"fartura do faltar",
Falta a comida, roupas,
livros e cadernos.
Na sua vida há pouco
carinho, pouca atenção e muitas vezes falta o amor.
Em casa e na escola
descobre a constante falta de respeito,
Quando vai à escola
leva poucos sonhos, poucas crenças...
A falta de dignidade
está presente ao seu redor.
A criança pobre se vira
como pode,
Para ajudar a pagar as
despesas da família.
Busca na caixa de
engraxate, nos carregos da feira,
Busca nas lavagens e
guardas de carros sua esperança de sobrevivência.
Para quem nasce pobre é
muito, muito difícil fugir dele.
Por mais que se
esforce,
Por mais que tente
modificá-lo,
Mesmo que estude todas
as lições de aula e de casa,
Mesmo assim ele não
estará representado nos diversos conteúdos,
Pois a dureza da sua
vida não está presente nas linhas e nem nas entrelinhas dos livros didáticos.
A criança pobre tem
muito a dizer, mas, como falar?
Para quem falar?
Poucos saberão da sua
vida, dos seus pensamentos, dos seus sonhos...
A sua linguagem ainda é
considerada vulgar,
Suas palavras são
consideradas incorretas,
Estão fora dos padrões
convencionais.
Um dia a criança pobre
deixará a escola que serve a pobreza,
Então ficará com
saudades da escola pichada,
Das carteiras
quebradas,
Dos colegas amigos e
até dos não amigos...
Mesmo nas dificuldades,
sei que aquele menino da escola publica tentou fazer o seu melhor possível,
Deixou no coração dos
professores a marca do desejo de crescer,
Deixou naquelas carteiras
a esperança de um amanhã melhor...
Sua vida está cheia de
descasos, de gritos, de intolerâncias...
A criança da escola
publica não entende o poder das diferenças da divisão de classes sociais,
Quando deixa a escola
espera um futuro luminoso e muito feliz.
Depara-se com o
desemprego ou com o subemprego.
Aprendeu que a
necessidade premente de sobreviver,
Aprendeu que a fome, a
miséria, o descaso da sociedade que pode ser levado a um túnel escuro da
marginalidade.
Será que a sociedade
vai ensiná-lo a voltar para o caminho correto ou não há volta possível?
Se não conseguir mudar
o seu percurso, no amanhã, quando ele acordar para o seu futuro, já será tarde
demais...
Mas, em seu lugar, na
carteira vazia daquela escola publica estará outro menino que, um dia também
sonhará com o futuro mais adequado, conforme foi sonhado,
Sem saber que o seu
futuro já está traçado na cartilha do mundo desigual, desumano, impiedoso dessa
nossa sociedade capitalista.
E agora?
E você cidadão? Será
que pode ajudar a construir uma sociedade mais igualitária?
Maria José De Azevedo Araujo
Poema pesado e contundente. Existem realidades q destroem nosso coração e a falta de solução para um problema tão grave... Por isso não podemos tolerar corrupção nem incompetência política nem desonestidade por parte de ninguém além de começarmos a fazer o que fazemos pouco: cobrar uma educação eficiente que permita a criança pobre mudar de vida. Um beijo, minha querida. Belo post, embora triste como a vida.
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