Por J. Terto de Amorim e Lucia Furquim Werneck Xavier
Uma jovem senhora de
287 anos, em plena forma! Mais do que uma capital estadual, uma capital
mundial, visitada anualmente por cerca de 95 mil turistas estrangeiros em busca
de sua vitalidade. Mas o que conhecemos da infância dessa senhora?
Se atualmente Fortaleza
atrai tantos turistas, na primeira metade do século dezessete, a região
conhecida como Siara, não despertou muito o interesse nem de portugueses nem de
holandeses. Foi somente a partir de 1649 que um povoamento sistemático foi
iniciado sob a liderança de Mathias Beck. Praticamente do nada, Beck conseguiu
gradativamente reagir um fortim e um posto colonial avançado, servindo não só
de colônia penal, mas principalmente fornecendo à capital do Brasil Holandês
madeira e farinha, tão necessários na época sem esquecer, o pau violeta para a
Europa.
O fortim serviu
posteriormente para abrigar guarnições portuguesas e atualmente encontra-se aí
o quartel da 10ª Região Militar. Os vestígios do forte são os canhões que
decoram alguns jardins privados e, também, os que estão no pátio da citada
instituição militar.
Embora não haja dúvidas
de que em Fortaleza são poucos os restos do forte que Matias Beck mandou
construir sob o Bergh Marajaitiba, engana-se quem pensa que só esses canhões,
testemunhas silenciosas de um passado que pouco se conhece, são os únicos
testemunhos desse Siara-Neerlandês. Documentos históricos tais como cartas,
relatórios, diários e mapas sobre essa época é o que não faltam. O que falta é
estudá-los para, assim, produzir conhecimento detalhado desse período, uma vez
que o pouco que se sabe foi baseado em estudos não sistemáticos com base
sobretudo em traduções que ficam a desejar.
Um bom exemplo desse
desconhecimento é o famoso Mapa do Forte, documento existente no Arquivo
Nacional dos Países Baixos em Haia. Uma inspeção superficial a olho nu revela
os erros do copista uma vez que a legenda não condiz com fatos recentemente
trazidos à tona por pesquisadores não cearenses. Destaca-se que tal mapa é uma
das cartas cartográficas mais antigas de Fortaleza. O original acima citado
nada mais é do que uma das três cópias que foram enviadas para o Recife. Não
seria de se espantar, dentro em breve, descobrir-se que Matias Beck guardou
para si o original dos mapas da região onde viveu e trabalhou entre 1649 en
1654.
Logo, se com os olhos abertos vemos Fortaleza ainda festejar
os seus 287 anos de existência, continuamos ainda de olhos fechados para o seu
nascimento e infância.
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