Francisco José do
Nascimento nasceu em 15 de abril de 1839, em Canoa Quebrada, Ceará. De família
de pescadores, foi criado pela mãe, a rendeira Matilde, e ficou conhecido por
muitos anos como o Chico da Matilde. Seu pai morreu tentando a vida num seringal
na Amazônia, quando Francisco José ainda era garoto.
Tendo que trabalhar muito
cedo, começou como menino de recados a bordo do navio Tubarão. Depois passou à
profissão de prático, para finalmente chegar a prático-mor da barra do Porto de
Fortaleza. Francisco José só aprenderia a ler aos 20 anos de idade.
A seca que assolou o Ceará
entre os anos de 1877 e 1879 desorganizou a produção do estado e matou de fome,
de varíola e de cólera mais de um quarto da população. Durante a tragédia, foi
organizada uma campanha de socorro às vítimas e Francisco, ao participar do
esforço de ajuda à população, conheceria João Cordeiro, o então
comissário-geral dos Socorros Públicos. O laço entre os dois se estreitaria com
a causa abolicionista.
Arrasados pela seca e pelo
cólera, os grandes proprietários escravistas do Ceará, para minimizar seus
prejuízos, procuraram vender seus escravos aos fazendeiros do sudeste, onde
havia grande demanda de mão-de-obra em função do cultivo do café. O preço era
favorável. Mas, para isto, era preciso embarcá-los no Porto de Fortaleza.
Ao longo da década de
1880, começaram a surgir sociedades civis engajadas na luta abolicionista, como
a Sociedade Cearense Libertadora, fundada em 1880, e que tinha João Cordeiro
como presidente. Esta sociedade teve apoio incondicional de Francisco, que
chegou a ser eleito seu diretor. Sob o slogan de “no Ceará não se embarcam
escravos”, os jangadeiros, liderados por Francisco, impediram o embarque de
cativos, bloqueando o porto. Francisco foi ameaçado com perseguições e com uma
ação judicial por crime de sedição. Mas graças à sua vigilância e ação firme, o
porto se manteve inviolável. Sem alternativa, os senhores de escravos acabaram
concordando com a liberdade de seus cativos.
A notícia espalhou-se
rapidamente em todas as cidades, sendo decretado o fim da escravidão no estado
do Ceará. Em 1884, o estado foi o primeiro a abolir a escravidão, quatro anos
antes do restante do Brasil.
O jangadeiro Francisco
José do Nascimento foi herói da abolição no Ceará. Sua bravura no bloqueio do
porto de Fortaleza, impedindo o embarque de escravos, rendeu-lhe o apelido de
Dragão do Mar.
Em 25 de março de 1884, os
abolicionistas da Corte levaram-no ao Rio de Janeiro para uma visita de 15
dias, com direito a desfile ao longo da cidade e festas em sua homenagem.
Com o advento da
República, João Cordeiro assumiu brevemente a presidência do estado. Nessa
ocasião, entregou ao Dragão do Mar a patente de Major-Ajudante de Ordens do
Secretário-Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará, em
reconhecimento de sua bravura. A Guarda Nacional era uma das corporações mais
importantes do estado brasileiro e com grande visibilidade social.
O Dragão do Mar faleceu em
1914 em Fortaleza.
Fonte: A cor da cultura
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