Se o primeiro beijo foi
dado na pré-história, ninguém sabe, ninguém viu (ou, pelo menos, ninguém
registrou). Não há desenhos em cavernas, artesanatos ou pinturas em tecidos que
indiquem o costume de encostar os lábios entre nossos ancestrais. Nem a civilização
egípcia, prodigiosa em suas expressões artísticas e provas documentais, que
retratou em pinturas e esculturas seus hábitos de caça, alimentação e até suas
relações sexuais, deixou qualquer traço que pudesse sugerir um beijo.
As mais antigas
referências do beijo na boca vieram do Oriente, mais precisamente dos
hindus. Há um registro de aproximadamente 1200 a.C., no livro védico Satapatha
(textos sagrados em que se baseia o bramanismo), recheado de sensualidade: “Amo
beber o vapor de seus lábios”. Mais explícito e malicioso, o
Mahabarata (poema épico com mais de 200 mil versos, compilados em
aproximadamente 1000 a.C.) descreve: “Pôs a sua boca em minha boca, fez um
barulho e isso produziu em mim um prazer”.
Algum tempo depois, outro
texto indiano, o Kama Sutra, um compêndio sobre os preceitos do prazer escrito
entre 400 e 200 d.C., apresentou uma versão mais amadurecida sobre o assunto,
com cerca de 200 passagens detalhando a prática, a moral e a ética do beijo.
A importância do Kama
Sutra não é só a de fornecer talvez o primeiro glossário sobre o tema. Ele é a
principal referência para determinar a idade do beijo. Segundo o antropólogo
americano Edgar Gregersen, em seu livro Práticas Sexuais – A História da
Sexualidade Humana, o texto tem um importante papel histórico, pois dá a pista
de que o costume de beijar representa uma continuação de tradições muito anteriores.
“O Kama Sutra está repleto de referências históricas e geográficas que remetem
a tradições antigas. A partir dele podemos rastrear as origens do beijo e
concluir que ele é mais velho que a civilização hindu e mais jovem que a
pré-história”, afirma Gregersen.
Alexandre, o Grande
beijador
Alexandre , O Grande |
Se os hindus foram pioneiros
ao descrever suas aventuras bucais, os invasores de suas terras devem ter sido
os primeiros difusores da prática: os soldados de Alexandre, o Grande. Eles
dominaram parte da Índia, entre 327 e 325 a.C., e, quando partiram para outras
terras, levaram na bagagem esse ensinamento lascivo. A partir de então, por
onde passavam, em sua trilha de guerras e conquistas, espalharam o hábito de
beijar.
Foi mais ou menos assim –
entre tapas e beijos –,e por essa época, que o hábito estreou em grande estilo
na capital do mundo antigo: Roma. Lá, com os requintes do tempero local, ele
desmembrou-se em três versões:
- o osculum, o beijo de amizade;
- o basium, mais sensual, entre homem e mulher;
- o savium, que o poeta Ovídio definiu como “de língua, voluptuoso e vergonhoso”.
O BEIJO PARA OS GREGOS
Para os gregos o beijo tinha funções
protocolares, quase burocráticas: beijava-se para selar um acordo e para
demonstrar respeito. Os cidadãos de mesmo nível social encostavam os lábios. Se
um deles era de uma casta inferior, o beijo era no rosto. E quando a diferença
social era ainda maior, os lábios de um desciam aos pés do outro.
A IGREJA CRISTÃ PROÍBE O BEIJO
Se até então tudo era
festa, a partir do século IV os beijoqueiros passaram a enfrentar uma crescente
oposição da Igreja Cristã.
Incomodada com a sensualidade do beijo e
preocupada em eliminar esse símbolo do Império Romano, ela o instituiu como um
gesto religioso, de adoração às imagens dos santos e louvação a Deus.
Nos anos
de trevas que se seguiram na Europa, ao longo da Idade Média, o beijo
permaneceu ilícito e perigoso, acusado de propagar doenças do corpo e da alma.
Mas, mesmo com todas as restrições, ele resistia e ganhava adeptos. Tanto que,
no século XII o Papa Inocêncio III travaria uma verdadeira cruzada contra o
inimigo, banindo-o dos ritos religiosos e proibindo-o na vida mundana. “Beijo
com objetivo de fornicação é pecado mortal, mesmo que a fornicação não se
consume”, dizia o édito de Sua Santidade. Tarde demais. O beijo já fazia parte
dos hábitos sociais e íntimos dos casais.
No século XVII, já
glamourizado e muito popular nas cortes europeias, o beijo de língua, o savium
dos romanos, ganhou o nome que tem até hoje: beijo francês. Na época, os
puritanos ingleses ficaram impressionados com o grau de libertinagem que
caracterizava o beijo em terras gaulesas.
Pelas mãos da Inglaterra, os
franceses ficariam para sempre conhecidos aos olhos do mundo pela volúpia com
que se entregavam às carícias labiais. O curioso é que, na França, o beijo de
língua ficou conhecido como beijo inglês. Mais do que revanchismo, os franceses
associavam o beijo de língua à importância que os ingleses davam àquela forma
de beijar, que para eles era tão comum.
O BEIJO DOS PRÉ-COLOMBIANOS
Existe certo paralelismo
histórico no que toca à trajetória do beijo. Nem todo esporte labial de alcova
advém dos hindus. Na Antiguidade, populações pré-colombianas viam no ato de
unir os lábios um gesto quase suicida.
“Eles acreditavam que a alma poderia
sair pela boca e que o beijo era uma maneira de arrancá-la do corpo”, afirma o
antropólogo Fernando Segolin, professor da PUC de São Paulo.
Ou seja, havia o
beijo, mas com um sentido completamente diferente da tradição indo-europeia.
(Que, felizmente, é a que chegou até nós.) O contato labial era geralmente
ritual e simbolizava a intenção de comer a outra pessoa, uma manifestação do
aspecto antropofágico dessas culturas.
VOCÊ SABIA QUE OS ÍNDIOS BRASILEIROS
NÃO BEIJAVAM NA BOCA?
Os índios brasileiros, apesar de serem conhecidos
pela maneira espontânea com que lidam com o sexo, a nudez e as demonstrações de
carinho, não beijavam antes da chegada dos europeus.
“Não é uma questão de
pudor, tabu ou medo. O beijo simplesmente não fazia parte dos hábitos afetivos
da maioria dos índios, soava como algo estranho, sem sentido”, diz a
antropóloga Betty Mindlin, da PUC de São Paulo.
OS JAPONESES NÃO TINHAM
UMA PALAVRA PARA DESIGNAR O BEIJO
Menos indiferentes, mas também
reprovadores, os japoneses, até a metade do século XX, não tinham sequer
uma palavra para designar o beijo. Quando foi exposta em Tóquio, em 1924, a
escultura O Beijo, de Auguste Rodin, célebre artista francês, gerou protestos
inflamados.
O Beijo, de Auguste Rodin |
Só a partir da influência
norte-americana no Japão, na segunda metade do século XX, o beijo passou a ser
chamado de kissu, importado do kiss inglês. Segundo Otto Best, filósofo alemão
e professor de Literatura da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, o repúdio ao beijo no oriente não está ligada ao beijo em si, mas ao caráter público da intimidade.
“Por muito tempo se pensou que os japoneses não se beijavam. Hoje, sabe-se que,
a exemplo dos chineses, eles mantinham esse hábito, mesmo antes da influência
ocidental, porém de maneira discreta, restrita à intimidade dos casais. Ainda
hoje, os japonese mantêm uma certa resistência em beijar em público”.
POR QUE NOS BEIJAMOS?
De início, é preciso dizer
que parece não haver relação entre o ato de beijar e qualquer instinto
primordial e inato. Há mais de um século, o próprio Charles Darwin tratou do
assunto no livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872. “Nós
europeus estamos já tão habituados ao beijo como um sinal de afeto, que o
poderíamos considerar como inato para a humanidade. No entanto, não é o caso”,
escreveu Darwin.
Só os humanos se beijam.
Há comportamentos similares nos animais, mas nenhum com conotações sexuais e
emocionais. Segundo Otto Best, considerado o pesquisador que mais se aprofundou
no tema – seus dois livros sobre o assunto, Der Kuss, Eine Biographie (“O
Beijo, Uma Biografia”) e Die Sprache der Kusse (“A Língua dos Beijos”), ambos
inéditos no Brasil, são considerados referências obrigatórias –, o hábito de
beijar carrega heranças culturais e naturais, as duas passadas de mãe para
filho.
“O aspecto instintivo se baseia na alimentação boca-a-boca, praticada
por povos primitivos e herdada de nossos ancestrais. Já o beijo cultural surgiu
como um símbolo para demonstrar afeto e intimidade”
(Otto Best).
Para o antropólogo Vaughn
Bryant, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, deve haver uma raiz comum
entre o beijo moderno e nossos hábitos primevos. Mas ela poderia, no máximo,
indicar uma motivação para o prazer.
“O beijo pode ter evoluído do hábito de
lamber o corpo de outros de nossa espécie, durante os rituais de catação de
parasitas, ou da troca de alimentos entre mãe e cria, ambos comportamentos
comuns à maioria dos primatas” (Vaughn Bryant) .
Ele crê ter sido o olfato que nos
aproximou.
“O beijo é um comportamento aprendido e arrisco dizer que surgiu
como uma saudação proveniente do hábito de nossos ancestrais de cheirar os corpos
uns dos outros. Eles tinham o olfato muito desenvolvido e identificavam pelo
faro, não pela visão, seus parceiros sexuais” (Vaughn Bryant).
A prática teria evoluído
para o beijo, quando o homem primitivo percebeu que unir as bocas era mais
prazeroso que friccionar os narizes.
Ainda assim, o beijo com o
nariz persiste até hoje.
“Nas ilhas do sul do Pacífico, por exemplo, não existe
o hábito de unir os lábios, mas sim o de esfregar os narizes em sinal de afeto
ou disposição sexual” (Vaughn Bryant).
O QUE ACONTECE DURANTE O BEIJO?
Durante o beijo você:
- movimenta 29 músculos, dos quais 17 são da língua.
- Os batimentos cardíacos aceleram, vão de 60 a 150, fazendo uma espécie de exercício pro coração.
- Um beijo caprichado gasta em média 12 calorias.
- o beijo estimula a liberação de hormônios que causam bem-estar.
- Na troca de saliva, a boca é invadida por cerca de 250 bactérias, 9 miligramas de água, 18 de substâncias orgânicas, 7 decigramas de albumina, 711 miligramas de materiais gordurosos e 45 miligramas de sais minerais.
A IMPORTÂNCIA DO BEIJO PARA A HISTÓRIA
Acreditam alguns que o ato
do beijo não é natural, mas que com o tempo fora aprendido.Que o hábito tem
origem na relação mãe e filho. Há milhares de anos, depois de sugar o peito, a
criança recebia alimentação sólida mastigada pela mãe e passada à boca, como
fazem certos tipos de aves. O que contraria certas culturas da Nova Guiné e do
sudoeste da África que tinham o hábito de fornecer comida mastigada aos bebês,
mas nunca se beijaram até ter o primeiro contato com europeus.
Alguns
historiadores acreditam que o beijo está relacionado ao ato de cheirar e de
reconhecer pelo odor os indivíduos de uma mesma família.
O beijo é um fator muito
importante no relacionamento e repleto de significados para homens e mulheres.
Algumas prostitutas, por exemplo,não beijam porque o ato de beijar significa ter intimidade.
O BEIJO: UM ATO SAGRADO
Desde a época de Cristo, o beijo já
possuía sua importância, como o famoso beijo de Judas.
O beijo de Judas |
Considerado um dos beijo
mais famosos do mundo, foi o beijo que Judas Iscariotes usou para trair Cristo
antes da crucificação dele. Um beijo que possui profundo significado nas
práticas espirituais cristãs.
O BEIJO NA IDADE MÉDIA
Na Idade Média Idade
Média, o beijo foi também uma demonstração de status na sociedade. Os súditos
de um rei deveriam antes beijar seu anel, seu manto, suas mãos, ou mesmo o
chão. Da mesma forma, as pessoas pressionavam os seus lábios no anel do papa. O
beijo na boca representava uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o
vassalo (significava “dou minha palavra”).
CURIOSIDADE!!
Foi apenas no século XVII que os
homens acabaram com o hábito de beijar uma pessoa do mesmo sexo, sem afeto
envolvido.
DO SAGRADO AO COMUM
Não há muitos registros
sobre os beijos no mundo ocidental até a época do Império Romano. Os romanos
costumavam usar o beijo para o cumprimento de amigos e familiares. Os cidadãos
beijavam a mão do Imperador e, naturalmente, as pessoas beijavam seus
parceiros.
Os romanos tinham três categorias para o beijo:
*osculum era um beijo na
bochecha
*basium era um beijo nos
lábios
*savolium era um beijo
profundo
O beijo também teve sua
função nos primórdios da Igreja Cristã. Os cristãos com frequência se
cumprimentavam com um osculum pacis: beijo sagrado. De acordo com essa
tradição, o beijo sagrado causava uma transferência de espírito entre as duas
pessoas que se beijavam. A maioria dos pesquisadores acredita que o objetivo
desse beijo era estabelecer vínculos familiares entre os membros da igreja e
fortalecer a comunidade.
Até 1528, o beijo sagrado
era parte da missa católica. No século XIII, a Igreja Católica o substituiu por
um cumprimento de paz.
A Reforma Protestante no século XVI removeu totalmente o
beijo da prática protestante. Na verdade, o beijo sagrado não exercia uma
função na prática católica religiosa moderna, embora alguns cristãos beijem
símbolos religiosos, como o anel do Papa, por exemplo.
Embora, atualmente, poucos
religiosos incorporem o beijo sagrado, o beijo ainda prevalece na cultura
ocidental.
Hoje em dia, as pessoas se beijam em várias situações por motivos
diversos. Todavia, nem todos os beijos são felizes e de alegria. Obras da
literatura como "Romeu e Julieta" descreveram beijos como
"perigosos" ou "mortais" quando compartilhados com as
pessoas erradas. Alguns estudiosos do folclore e críticos literários vêem o
vampirismo como um símbolo dos perigos físicos e emocionais decorrentes de se
beijar a pessoa errada.
O beijo está em todo
lugar. Na história, literatura, religião, música, filmes, na tv, e até na
astrologia, onde alguns acreditam que existem tipos de beijos para cada signo e
que há combinações.
NA ARTE
Uma das mais famosas pinturas do mundo sobre o assunto
é O beijo (original: Der Kuss, 1907-1908), a obra-prima de Gustav Klimt. Um
quadro extremamente simbólico e belo, extravagante, dotado de erotismo e
poesia. Cujo alguns especialistas afirmam que o quadro seria um retrato de Klimt
com Emilie Flöge,(Viena, 1874 – Viena 1952) – eterna companheira e musa do
artista.
O PRIMEIRO BEIJO DO CINEMA
Este foi o primeiro beijo
do cinema. Do filme O Beijo (1896), filmado por Thomas Edison, com apenas 26
segundos. O filme foi protagonizado por John C. Rice e May Irwin. Na época,
beijar era uma coisa para se fazer apenas entre 4 paredes.
SAIBA MAIS AQUI
Fonte: Superinteressante, Obvious
Maravilha!
ResponderExcluirum beijo pra a isabel que mandou bem demais nesse texto
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