Por Isabel Aguiar (historiadora / professora)
Por volta de 1820, pouco antes da Independência, o Brasil
era mais rico do que a Austrália e quase tão rico quanto a Suécia. Passados
três séculos, australianos e suecos lideram os rankings de desenvolvimento
humano e vivem em sociedades que estão entre as mais avançadas do mundo.
Por que o Brasil ficou para trás?
Por que não enriqueceu como os Estados Unidos, um país também de passado colonial escravocrata?
Tais
questões, há anos, ocupam o trabalho de historiadores. A ideia é a de que a
economia brasileira especializou-se na produção de mercadorias básicas, por
isso industrializou-se tardiamente.
Um exemplo disso, foi na segunda metade do século XIX,
enquanto a alfabetização se tornou obrigatória nos Estados Unidos, na Suécia e
em muitos países europeus, o Brasil era um mar de analfabetos. A educação era algo exclusivo da elite.
Suécia e Estados Unidos tinham 80% da população alfabetizada em 1870 . A baixa
escolaridade representou um obstáculo ao desenvolvimento. Os trabalhadores eram
incapazes de realizar trabalhos mais elaborados.
O atraso econômico do Norte e Nordeste do Brasil em relação
ao Sul e Sudeste também decorre do diferencial na educação e do atraso no
desenvolvimento do capital humano de maneira geral.
É a luta de classes que gera um determinado equilíbrio e a
partir desse equilíbrio as instituições são formadas. A diferença na imigração, ou seja, no capital
humano dos imigrantes, explica praticamente toda a diferença de renda que havia
entre o Brasil e os Estados Unidos em 1900.
A elite brasileira foi muito esperta. Instituiu o ensino
superior privado gratuito para os seus filhos, mas não investiu no ensino
público básico. Para deixarmos de ser um país atrasado, precisamos desmontar
esse tipo de privilégio.
Charge: A elite brasileira. Por Ribs
Devemos destacar o exemplo
da China que é hoje (ano 2020) a
segunda maior economia do mundo, caminhando para, em menos de uma década,
superar os EUA, tanto como economia, quanto em desenvolvimento científico e
tecnológico, com todas as implicações daí decorrentes para a geopolítica e as
estratégias de segurança e hegemonia que transitam da atual unipolaridade
(herança da Guerra Fria) para uma multipolaridade cujos contornos ainda não
podem ser definidos.
Esta China, potência econômica, política e militar global
que não cessa de crescer, era, em 1949, um país paupérrimo, arruinado pelo
colonialismo europeu, invadido e saqueado ao longo de séculos, e, naquela
altura, às voltas com uma revolução social. Era um país de camponeses
miseráveis, quando nós brasileiros já aspirávamos à industrialização e à
urbanização.
POR QUE O BRASIL NÃO SE DESENVOLVE?
- 1- O Brasil de hoje suspende os investimentos públicos de um modo geral.
- 2- O Brasil hoje suspende investimento em infraestrutura de forma específica.
- 3- O Brasil reduz os gastos em educação e ciência e tecnologia,
- 4- O Brasil renuncia a projetos estratégicos, como a cibernética e o programa espacial, fundamentais para o desenvolvimento e a segurança de qualquer país de nosso porte, ou que, como já almejamos, pretenda desempenhar um papel de sujeito no concerto internacional.
- 5- Nossa balança comercial retorna aos contornos do início do século passado (séc. XX), dependente da exportação de matérias-primas sem valor agregado, antes pau-brasil, ouro, prata e pedras preciosas das minas gerais, depois açúcar e depois café; agora soja e carne e minério de ferro.
- 6- Nossa participação na economia global atinge o pior nível em 38 anos; a fatia do País em bens e serviços é de 2,5%, contra um pouco mais de 3% em 2011.
- 7- No plano da educação, o projeto de nossas classes dominantes, das quais o bolsonarismo é expressão obscena, é destruir com a escola pública e o ensino gratuito, quando a educação, isto é, o acesso ao conhecimento, é o único instrumento que pode dar ao pobre chances de ascensão social e ao País condições de competitividade num mundo.
- 8- O Brasil perde a competitividade no mundo que já vive a chamada 4ª Revolução Industrial (perdemos o tempo de todas as outras) assinalada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.
Como lembrava Darcy Ribeiro, a tragédia da educação
brasileira não se deve a erros de planejamento. Mas, sim, a seus acertos. Esse
fracasso é o prêmio de um projeto bem sucedido de nossas perversas classes
dominantes, para quem o desenvolvimento nacional ou a melhoria da qualidade de
vida de nosso povo jamais foram uma questão central.
Muito boa e reflexiva esta postagem. Pena do nosso país com essa elite do atraso no comando desde sempre. Isso temos que mudar!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário!
ExcluirOi, Isabel, parabéns pelo texto! 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾 Até quando, no Brasil, se manterá os privilégios das elites em detrimento do atraso econômico, e, portanto, das situações de exclusão dos trabalhadores!?
ResponderExcluirObrigada pelo comentário!
ResponderExcluir