domingo, 27 de dezembro de 2020

O PROPOSITAL ATRASO ECONÔMICO DO BRASIL

 



Por Isabel Aguiar (historiadora / professora)

Por volta de 1820, pouco antes da Independência, o Brasil era mais rico do que a Austrália e quase tão rico quanto a Suécia. Passados três séculos, australianos e suecos lideram os rankings de desenvolvimento humano e vivem em sociedades que estão entre as mais avançadas do mundo.

 



Por que o Brasil ficou para trás? 




Por que não enriqueceu como os Estados Unidos, um país também de passado colonial escravocrata? 

Tais questões, há anos, ocupam o trabalho de historiadores. A ideia é a de que a economia brasileira especializou-se na produção de mercadorias básicas, por isso industrializou-se tardiamente.

 Porém, para muitos historiadores e economistas, a verdadeira causa da pobreza brasileira em relação a europeus e americanos foi o atraso no desenvolvimento do capital humano.

Um exemplo disso, foi na segunda metade do século XIX, enquanto a alfabetização se tornou obrigatória nos Estados Unidos, na Suécia e em muitos países europeus, o Brasil era um mar de analfabetos.  A educação era algo exclusivo da elite. Suécia e Estados Unidos tinham 80% da população alfabetizada em 1870 . A baixa escolaridade representou um obstáculo ao desenvolvimento. Os trabalhadores eram incapazes de realizar trabalhos mais elaborados.




O atraso econômico do Norte e Nordeste do Brasil em relação ao Sul e Sudeste também decorre do diferencial na educação e do atraso no desenvolvimento do capital humano de maneira geral.

É a luta de classes que gera um determinado equilíbrio e a partir desse equilíbrio as instituições são formadas.  A diferença na imigração, ou seja, no capital humano dos imigrantes, explica praticamente toda a diferença de renda que havia entre o Brasil e os Estados Unidos em 1900.

 


A elite brasileira foi muito esperta. Instituiu o ensino superior privado gratuito para os seus filhos, mas não investiu no ensino público básico. Para deixarmos de ser um país atrasado, precisamos desmontar esse tipo de privilégio.


Charge: A elite brasileira. Por Ribs


Devemos destacar o exemplo
  da China que é hoje (ano 2020)  a segunda maior economia do mundo, caminhando para, em menos de uma década, superar os EUA, tanto como economia, quanto em desenvolvimento científico e tecnológico, com todas as implicações daí decorrentes para a geopolítica e as estratégias de segurança e hegemonia que transitam da atual unipolaridade (herança da Guerra Fria) para uma multipolaridade cujos contornos ainda não podem ser definidos.

 


Esta China, potência econômica, política e militar global que não cessa de crescer, era, em 1949, um país paupérrimo, arruinado pelo colonialismo europeu, invadido e saqueado ao longo de séculos, e, naquela altura, às voltas com uma revolução social. Era um país de camponeses miseráveis, quando nós brasileiros já aspirávamos à industrialização e à urbanização.

 

POR QUE O BRASIL NÃO SE DESENVOLVE?




 

  • 1- O Brasil de hoje suspende os investimentos públicos de um modo geral.
  • 2- O Brasil hoje suspende investimento em infraestrutura de forma específica. 
  • 3- O Brasil reduz os gastos em educação e ciência e tecnologia, 
  • 4- O Brasil  renuncia a projetos estratégicos, como a cibernética e o programa espacial, fundamentais para o desenvolvimento e a segurança de qualquer país de nosso porte, ou que, como já almejamos, pretenda desempenhar um papel de sujeito no concerto internacional. 
  • 5- Nossa balança comercial retorna aos contornos do início do século passado (séc. XX), dependente da exportação de matérias-primas sem valor agregado, antes pau-brasil, ouro, prata e pedras preciosas das minas gerais, depois açúcar e depois café; agora soja e carne e minério de ferro.
  • 6- Nossa participação na economia global atinge o pior nível em 38 anos; a fatia do País em bens e serviços é de 2,5%, contra um pouco mais de 3% em 2011.

  • 7- No plano da educação, o projeto de nossas classes dominantes, das quais o bolsonarismo é expressão obscena, é destruir com a escola pública e o ensino gratuito, quando a educação, isto é, o acesso ao conhecimento, é o único instrumento que pode dar ao pobre chances de ascensão social e ao País condições de competitividade num mundo.
  • 8- O Brasil perde a competitividade no mundo que já vive a chamada 4ª Revolução Industrial (perdemos o tempo de todas as outras) assinalada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas.

 


 

Como lembrava Darcy Ribeiro, a tragédia da educação brasileira não se deve a erros de planejamento. Mas, sim, a seus acertos. Esse fracasso é o prêmio de um projeto bem sucedido de nossas perversas classes dominantes, para quem o desenvolvimento nacional ou a melhoria da qualidade de vida de nosso povo jamais foram uma questão central.


AGORA VAMOS VER UMA ENTREVISTA ESCLARECEDORA  SOBRE O ATRASO DO BRASIL COM O SOCIÓLOGO JESSÉ SOUZA , AUTOR DO LIVRO " A ELITE DO ATRASO".   VALE A PENA VER, OUVIR E REFLETIR .... 









4 comentários:

  1. Muito boa e reflexiva esta postagem. Pena do nosso país com essa elite do atraso no comando desde sempre. Isso temos que mudar!

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  2. Oi, Isabel, parabéns pelo texto! 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾 Até quando, no Brasil, se manterá os privilégios das elites em detrimento do atraso econômico, e, portanto, das situações de exclusão dos trabalhadores!?

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