quinta-feira, 10 de junho de 2021

UMA CONVERSA COM POVOS INDÍGENAS DO CEARÁ: CONHECER PARA VALORIZAR!



Hoje, 10 de junho de 2021 , foi um dia especial para mim, enquanto professora de História, e para os alunos do Colégio Patronato - Fortaleza - Ce.

A conversa foi transmitida via Google Meet. 

 Enriquecemos nossos conhecimentos e procuramos descontruir alguns estereótipos vinculados à imagem do povo indígena brasileiro, especialmente, do povo indígena do Estado do Ceará.



Esse momento foi pensado a partir do estudo do tema abordado no livro didático. Os estudantes questionaram se aquela imagem que é transmitida de geração a geração nos livros escolares condizem ou não com a realidade. E nada melhor que uma conversa descontraída com os próprios povos indígenas para entender melhor sobre o assunto.

Convidamos para um bate papo o Mateus Tremembé (universitário, pesquisador e liderança em seu povoado) e a Nádia Pitaguary ( filha do cacique Pitaguary ).


A IMPORTÂNCIA DESSE ENCONTRO



Para tratarmos de questões educacionais relativas à temática indígena, se faz necessário antes revermos alguns pontos de equívoco sobre a visão que se tem e que se nutre de diversas formas a respeito das populações indígenas e que é disseminado no Brasil.

O primeiro equívoco é tratar todos os diferentes povos indígenas como um índio genérico, como se praticassem e compartilhassem a mesma cultura, a mesma crença e a mesma língua.

O segundo tipo de pensamento equivocado é considerar a cultura indígena como atrasada e primitiva.

O terceiro equívoco é o “congelamento das culturas indígenas”, como se qualquer transformação na imagem que se tem do índio causasse estranhamento e fosse passível do julgamento do que se é ou se deixou de ser. Há sempre uma imagem fixa do que é ser índio na memória da maioria dos brasileiros.


 É uma imagem de como o índio deve ser: “nu ou de tanga, no meio da floresta, de arco e flecha, tal como foi descrito por Pero Vaz de Caminha. Quando um índio não se enquadra nessa imagem ele é visto como não sendo mais índio, como um “civilizado”.

O quarto equívoco é considerar que os índios fazem parte apenas do passado brasileiro. Um dos legados mais graves do ponto de vista do colonialismo, pois ao taxar de “primitivas” as culturas indígenas passou-se a considerá-las como um obstáculo ao progresso e à modernidade.


O quinto equívoco é a não consideração do índio como parte da formação identitária do Brasil. De acordo com Freire, as matrizes europeias, indígenas e africanas, todas plurais, formaram de cor, cultura, língua, gentes, o país que somos hoje. Portanto, um inventário desse aporte cultural múltiplo deve ser feito a fim de estarmos cientes do que herdamos histórica e culturalmente, ao invés de eleger através da “história dos vencedores”, uma dessas matrizes como preponderante de nossa formação.

Levando em conta a existência desses equívocos podemos refletir e pautar nossas práticas educativas num rumo distinto.

É perceptível, no livro didático, que pensar em povos indígenas quase automaticamente nos remete a um deslocamento no tempo e no espaço: os indígenas são deixados no passado ou em algum recôndito da Floresta Amazônica. Como se isso configurasse um impedimento quase intransponível para aproximar os alunos da temática, mas na verdade há um equívoco no olhar e ele se deve ao fato do livro didático ser formulado num regime de lei em que a visão sobre os povos indígenas era sempre enviesada e de cunho político-ideológico empenhado em apagá-los da história atual como algo que existiu um dia, no passado e que deve repousar lá, no fundo do baú da história brasileira. No entanto, esses equívocos precisam ser questionados e transformados na prática educativa, já que só para citar esse último aspecto levantado, no Estado do Ceará , vivem 15 povos indígenas, espalhados por 18 municípios. São comunidades que guardam com orgulho suas manifestações culturais e tradições milenares e que lutam pelos seus territórios, costumes e tradições.



Esses povos são: Anacé, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Pitaguary, Potiguara, Tapeba, Tabajara,Tapuia-Kariri, Tremembé,Tubiba-Tapuia,Tupinambá e Karão.

Segundo a ONU, existem cerca de 370 milhões de indígenas em 90 países, o que representa em torno de 5% da população mundial. Trata-se de mais de 5 mil grupos diferentes que falam aproximadamente 7 mil línguas. No Brasil, de acordo com dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, há 896,9 mil indígenas presentes em todos os estados brasileiros. São 305 etnias, que falam 274 línguas. Há ainda um grande número de povos isolados, não contabilizados pelo Censo. O Brasil tem a maior concentração de povos isolados conhecida no mundo.


VEJA O NOSSO BATE PAPO AQUI








4 comentários:

  1. Obrigada professora por nós permitir esse momento de vivência e crescimento. Foi muito enriquecedor.

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  2. Que momento rico de conhecimento, muito bom professora Isabel, precisamos levar esse tipo de conhecimento que não consta nos livros didáticos, nossos jovens precisam entender e aprender a gostar da nossa cultura para valoriza-la. Parábens a todos.

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