sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Ensino com IA e ensino da IA



A inteligência artificial tem sido bastante citada como fonte de soluções para a área da educação, principalmente para facilitar os processos de ensino e compreensão de conteúdos.


Desde 1997, existe a “International Artificial Intelligence in Education Society” (IAIED), a Sociedade Internacional sobre a inteligência artificial na Educação, uma comunidade interdisciplinar que une os campos da ciência da computação, da educação e da psicologia para promover pesquisa e desenvolvimento de ambientes de aprendizado interativo e adaptativo para estudantes de todas as idades e em todos os domínios.



A sociedade conduz conferências sobre o tema. A primeira delas foi realizada em 1983, antes mesmo da formalização da entidade.

A partir do exemplo da conferência, é possível perceber que o interesse sobre os usos da inteligência artificial para educação não são novos e que já somam anos de experiências e iniciativas, sendo facilmente aplicados ao contexto da Educação Aberta e da construção de espaços democráticos e livres de acesso à educação.

Por meio do relatório “Inteligência libertada: um argumento para a IA na educação” , a empresa Pearson, em parceria com a University College London, afirmou que a IA oferece a possibilidade de aprendizado mais personalizado, flexível, inclusivo e envolvente.

Ela pode fornecer aos professores e alunos as ferramentas que nos permitem responder não apenas ao que está sendo aprendido, mas também, como está sendo aprendido e como o aluno se sente.

Pesquisa realizada também pela Pearson, em 2019 ouviu estudantes com idades entre 16 e 70 anos, de diversos países, e apontou que 81% dos entrevistados acreditam que a aprendizagem vai se tornar cada vez mais autônoma com o uso da IA. A imensa maioria acredita que a IA será positiva para a educação (77% dos respondentes).

No entanto, ao mesmo tempo que pode trazer benefícios, a IA envolve diversos riscos, que são quase sempre desconhecidos ou ignorados por estudantes, pais, educadores e gestores educacionais.

Cada vez mais, as tecnologias dependem dos nossos dados pessoais para se tornar mais eficiente. Trata-se de um contexto paradoxal, bem destacado pelo relatório da Universidade de Buckingham, sobre visão ética da IA na educação, que pontua a necessidade de cautela na introdução da IA no ambiente de aprendizagem, uma vez que, se a tecnologia pode contribuir para aumentar o acesso à educação, potencializar a aprendizagem, além de ampliar oportunidades para uma formação fundamentada em valores humanos, pode também se tornar uma forma de vigilância e controle.

Não existe outro caminho para vislumbrar relações sociais assertivas, a partir dos constantes avanços e transformações gerados pelas tecnologias, que não passe pela educação: compreender os riscos envolvidos e a forma como o relacionamento das pessoas com o digital molda a realidade.

Sem uma reflexão aprofundada em relação a benefícios e riscos, não teremos avanços de fato em formação integral ou desenvolvimento de competências cidadãs, do ponto de vista da educação como um direito humano.


Ensino com IA e ensino da IA



Os usos de inteligência artificial que poderiam ajudar a área da educação são considerados, especialmente, em duas formas.

  • A primeira envolve diretamente as aplicações de IA, ou seja, soluções tecnológicas para o avanço do ensino, como plataformas e ferramentas direcionadas.
  • Entre elas, constam os chamados ambientes ou plataformas adaptativas, que fomentam a aprendizagem por meio da experiência única e personalizada, de cada aluno ou educador.
  • Para tanto, tais soluções coletam dados sobre cada experiência dos usuários, como seus interesses, dificuldades e histórico, e geram percursos de aprendizagem adaptados para cada realidade.
  • A construção de tais trilhas de aprendizagem passa pela coleta de informações não só de alunos, mas dos educadores e das diretrizes pedagógicas.
  • Estão incluídos nessa forma, ainda, as análises de dados que permitem identificar gargalos e percalços enfrentados durante o processo de aprendizagem de determinado conteúdo.

Nesse caso, por exemplo, a IA pode auxiliar na identificação de como a situação socioeconômica do aluno, suas características emocionais, ou a própria interação com a tecnologia afetam (facilitam ou dificultam) a apreensão do conhecimento.

  • A segunda forma seria ensinar a própria lógica de funcionamento da inteligência artificial, isto é, propiciar o aumento da compreensão sobre como se dá o processo de aprendizado de máquina.

A Escola Sesc de Ensino Médio, no Rio de Janeiro, criou um itinerário formativo de Matemática e IA, que utiliza uma rede neural simples chamada WISARD, para a introdução de conceitos de aprendizagem de máquina, por meio de robótica educacional.

Para compreender o seu funcionamento é necessário saber realizar operações matemáticas básicas, entre elas, efetuar cálculos porcentuais e reconhecer representações de imagens binárias, bem como possuir habilidades que envolvem o pensamento combinatório e processos aleatórios.

Conheça mais exemplos de usos da inteligência artificial na educação, selecionando os itens abaixo:

TUTORIA PERSONALIZADA:


Criações de currículo e atividades específicas para cada estudante, adaptáveis conforme o uso, interesse, talentos, necessidades e aprendizado de cada um.

APRENDIZAGEM COLABORATIVA



Auxílio na formação mais acertada de grupos de trabalho, mapeando estudantes e juntando-os conforme interesses ou habilidades para a atividade em questão.

Auxílio na identificação automática dos resultados de discussões em grupo. Um educador, por exemplo, conduzindo discussões em grupos com grande quantidade de estudantes, pode contar com a IA para resumir os resultados dos debates e identificar grupos que estejam fugindo de foco ou se equivocando e que, portanto, requerem maior atenção.

CORREÇÃO DE TAREFAS



Ferramentas de pontuação de provas e atividades em que uma máquina, ao receber insumo de correções feitas por humanos, avalia, automaticamente, o material, tornando as correções cada vez mais assertivas por meio da coleta de mais dados.

MAPEAMENTO DE COMPORTAMENTO



Suporte na coleta e análise de dados sobre a frequência de estudantes e suas respostas aos estímulos educacionais. Por exemplo, uma IA pode auxiliar na identificação de estudantes em risco de abandonar os estudos ou na geração de formas de avaliação que medem a aprendizagem enquanto ela está ocorrendo.

REALIDADE VIRTUAL AUMENTADA



Plataformas de realidade virtual viabilizam a interação durante a aprendizagem, colocando estudantes imersos virtualmente em cenários que facilitam a visualização dos conteúdos. Já as de realidade aumentada promovem a integração de elementos ou informações virtuais no mundo real. Um exemplo bem famoso é o jogo Pokemon Go.

CHATBOTS EDUCATIVOS E ASSISTENTES VISTUAIS



Agentes pedagógicos virtuais capazes de interagir com estudantes, respondendo a questões pontuais, indicando conteúdos, dando feedback.

AUXÍLIO A PESSOAS COM DEFICIÊNCIA – PCD



Soluções tecnológicas para auxiliar o acesso à educação por PCD. Por exemplo, recursos que utilizam a Linguagem de Processamento Natural para transformar conteúdo educativo falado em conteúdo escrito, e vice-versa, ou disponível em ferramentas interativas no computador.

FORMAÇÃO DE CONTEÚDO PEDAGÓGICO



Mapeamento automatizado de tendências em recursos educacionais e catalogação de temas, para posterior curadoria e uso por educadores.

TROCA ENTRE PROFESSORES



Plataformas que atuam na geração de planos de aula e materiais didáticos com sugestões adaptadas para cada profissional.


 Cuidados e oportunidades que a IA inspira, entre eles:



Não permitir que os resultados obtidos a partir da IA sejam utilizados para categorizar (rotular) as pessoas de maneira estanque e estereotipada.
Deve haver uma responsabilidade ética na utilização dos dados, para não favorecer interesses econômicos (não à mercantilização dos dados) nem informações tendenciosas/preconceituosas.

Para que a IA possa ser, de fato, utilizada na educação, questões sobre justiça e equidade precisam ser observadas.

Apesar de empresas e entusiastas da inteligência artificial propagarem um mundo de possibilidades, é vital não se deixar deslumbrar pela tecnologia e avaliar caso a caso quando é necessária a implementação de ferramentas tecnológicas, tomando decisões conscientes sobre os riscos envolvidos no uso massivo de tais recursos.

Vale considerar a mensagem do pesquisador Yuval Harari, uma das principais referências no tema na atualidade.

Para finalizarmos o assunto, assista ao vídeo abaixo:




Fonte: Inteligência Artificial e o Novo Contexto da Cultura Digital  - Fundação Bradesco


 Referências

CENTRO DE INOVAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA. Notas Técnicas #16: Inteligência Artificial na educação. Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), 2019. Disponível em <https://cieb.net.br/inteligencia-artificial-na-educacao/>. Acesso em: 3 mar. 2021.

CIRIACO, D. 10 filmes imperdíveis sobre Inteligência Artificial. Canaltech. 23 de Setembro de 2015. Disponível em: <https://canaltech.com.br/cinema/filmes-imperdiveis-sobre-inteligencia-artificial-49625/>. Acesso em abr. 2021.

DAMASCENO, H. L. C. Tudo sobre tod@s: Redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais. Interfaces da educação. V. 9 n. 27, 2018. Disponível em <https://periodicosonline.uems.br/index.php/interfaces/article/view/3276>. Acesso em: 15 fev. 2021.

SHUTTERSTOCK. Disponível em: <https://www.shutterstock.com>. Acesso em: 18 mai. 2020.




M para facilitar os processos de ensino e 

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