A luta pelos direitos
políticos das mulheres começou ainda no século 18. No início da RevoluçãoFrancesa, o Marquês de Condorcet – matemático, filósofo e iluminista – foi uma
das primeiras vozes a defender o direito das mulheres. Nos debates da
Assembleia Nacional, em 1790, ele protestou contra os políticos que excluíam as
mulheres do direito ao voto universal, dizendo o seguinte: “Ou nenhum indivíduo
da espécie humana tem verdadeiros direitos, ou todos têm os mesmos; e aquele
que vota contra o direito do outro, seja qual for sua religião, cor ou sexo, desde
logo abjurou os seus”.
As ondas
revolucionárias francesas chegaram na Inglaterra e os escritores progressistas
Mary Wollstonecraft – no livro A Vindication of the Rights of Woman (1792) – e
William Godwin – no livro An Enquiry Concerning Political Justice (1793) –
também defenderam os direitos das mulheres e a construção de uma sociedade
democrática, justa, próspera e livre.
Mas a luta pelo direito
de voto feminino só se transformou no movimento sufragista após os escritos de
Helen Taylor e John Stuart Mill. O grande economista inglês escreveu o livro
The Subjection of Women (1861, e publicado em 1869) em que mostra que a
subjugação legal das mulheres é uma discriminação, devendo ser substituída pela
igualdade total de direitos.
Com base no pensamento
destes escritores pioneiros, o movimento sufragista nasceu para estender o
direito de voto (sufrágio) às mulheres. Em 1893, a Nova Zelândia se tornou o
primeiro país a garantir o sufrágio feminino, graças ao movimento liderado por
Kate Sheppard. Outro marco neste processo foi a fundação, em 1897, da “União
Nacional pelo Sufrágio Feminino”, por Millicent Fawcett, na Inglaterra. Após o
fim da Primeira Guerra Mundial, as mulheres conquistaram o direito de voto no
Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1919.
Bertha Maria Julia Lutz |
No Brasil, uma líder
fundamental foi Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976). Bertha Lutz conheceu os
movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos nas primeiras décadas do
século XX e foi uma das principais responsáveis pela organização do movimento
sufragista no Brasil. Ajudou a criar, em 1919, a Liga para a Emancipação
Intelectual da Mulher, que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso
Feminino, criada em 1922 (centenário da Independência do Brasil). Representou o
Brasil na assembleia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos EUA,
onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Após a Revolução de 1930 e dez anos depois da criação da Federação Brasileira pelo Progresso
Feminino, o movimento sufragista conseguiu a grande vitória no dia 24/02/1932.
A primeira mulher
eleita deputada federal foi Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), que tomou
posse em 1934 e participou dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte.
Com a implantação do Estado Novo, em novembro de 1937, houve o fechamento do
Legislativo brasileiro e grande recuo das liberdades democráticas. Na retomada
do processo de democratização, em 1946, nenhuma mulher foi eleita para a
Câmara. Até 1982, o número de mulheres eleitas para o Legislativo brasileiro
poderia ser contado nos dedos da mão.
Carlota Pereira de Queirós |
Somente com o processo
de redemocratização, da Nova República, o número de mulheres começou a
aumentar. Foram eleitas 26 deputadas federais em 1986, 32 em 1994, 42 em 2002 e
45 deputadas em 2006 e 2010. Mas este número representa apenas 9% dos 513 deputados
da Câmara Federal. No ranking internacional da Inter-Parliamentary Union (IPU),
o Brasil se encontra atualmente no 142º lugar. Em todo o continente americano,
o Brasil perde na participação feminina no Parlamento para quase todos os
países, empata com o Panamá e está à frente apenas do Haiti e Belize. No mundo,
o Brasil perde até para países como Iraque e Afeganistão, além de estar a uma
grande distância de outros países de língua portuguesa como Angola, Moçambique
e Timor Leste.
As mulheres brasileiras
conquistaram o direito de voto em 1932, mas ainda não conseguiram ser
representadas adequadamente no Poder Legislativo. Até 1998 as mulheres eram
minoria do eleitorado. A partir do ano 2000, passaram a ser maioria e, nas
últimas eleições, em 2010, já superavam os homens em 5 milhões de pessoas aptas
a votar. Este superávit feminino tende a crescer nas próximas eleições. Contudo
existem dúvidas sobre a possibilidade de as mulheres conseguirem apoio dos
partidos para disputar as eleições em igualdade de condições.
Nas eleições de 2010, a
grande novidade foi a eleição da primeira mulher para a chefia da República.
Neste aspecto, o Brasil deu um grande salto na equidade de gênero, sendo uns
dos 20 países do mundo que possui mulher na chefia do Poder Executivo. Com a
alternância de gênero no Palácio do Planalto, o número de ministras cresceu e
aumentou a presença de mulheres na presidência de empresas e órgãos públicos,
como no IBGE e na Petrobrás.
Nos municípios, as
mulheres são, atualmente, menos de 10% das chefias das prefeituras. Nas Câmaras
Municipais as mulheres são cerca de 12% dos vereadores. Mas, em 2012, quando se
comemoram os 80 anos do direito de voto feminino, haverá eleições municipais. A
Lei de Cotas determina que os partidos inscrevam pelo menos 30% de candidatos
de cada sexo e dê apoio financeiro e espaço no programa eleitoral gratuito para
o sexo minoritário na disputa. Os estudos acadêmicos mostram que, se houver
igualdade de condições na concorrência eleitoral, a desigualdade de gênero nas
eleições municipais poderá ser reduzida.
As mulheres brasileiras
já possuem nível de escolaridade maior do que o dos homens, possuem maior expectativa
de vida e são maioria da População Economicamente Ativa (PEA) com mais de 11
anos de estudo. Elas já avançaram muito em termos sociais e não merecem esperar
mais 80 anos para conseguir igualdade na participação política.
Fonte: Agência Patrícia Galvçao
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