Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me
reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino
Não aprendo as causas e consequências só decoro os
fatos
Desse jeito até história fica chato...
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que
preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!!
(...)
Vamos fugir dessa jaula!
Ainda bem que as coisas estão mudando ,(LENTAMENTE) ,mas estão. Na época da Ditadura Militar tudo tinha que ser vigiado. Os livros, professores , as conversas. Ninguém poderia pensar por si, por isso a DECOREBA era estimulada. De lá pra cá DECORAR a matéria, o conteúdo tornou-se uma prática comum. Tão comum que não é difícil eu ouvir no dia -a dia em sala de aula que História é decoreba. Ouço isso de alunos, pais e pior, de professores de outras áreas de ensino. ( Ainda bem que não ouvi isso de nenhum colega da área de História).
Dá uma sensação tão ruim saber que em pleno século XXI as pessoas ainda pensam assim. E pior, é saber que os JOVENS pensam assim. :(
Pelo que vejo, as coisas a vão demorar ainda pra mudar. Está sendo um processo leeeeeeeeeeeeennnnnnntooooooooooo. E isso se dá por vário motivos. Um deles é a própria preguiça de pensar da geração atual ( talvez pela falta de estímulo pra isso), a facilidade com que as escolas aprovam os alunos, mesmo sabendo da incompetência de alguns destes. Não estou aqui defendendo a reprovação, estou defendendo o PENSAR, o RACIOCINAR, o ESTÍMULO AO PENSAMENTO CRÍTICO, o HÁBITO DA LEITURA, DA ESCRITA, DOS PORQUÊS.
Pra tentar refletir um pouco sobre o tema, leiam um texto bem bacana que foi publicado na Revista Superinteressante sobre o assunto.
BOA LEITURA!!
A decoreba já vai tarde
Em 1911, boa memória era sinônimo de inteligência. Até dá para entender.
Naquela época, quando o governo brasileiro tornou o vestibular obrigatório para
universidades públicas e particulares, conhecimento era coisa para poucos. Ter
um baú de informações na cabeça já permitia a qualquer um ser pelo menos um bom
profissional. Então não era surpresa que os vestibulares se preocupassem em
testar basicamente a capacidade de memorização.
Um século e muita decoreba depois ela continua sendo uma habilidade louvável,
mas não é nem nunca foi a mais importante - só a mais fácil de testar numa prova.
Coisas fundamentais, como o raciocínio e a criatividade, ainda são menos
levadas em consideração do que deveriam na hora de selecionar quem entra na
universidade. Não é de espantar, então, que muita gente deseje a morte dos
testes tradicionais. E não é desculpa de estudante burro: o próprio Albert
Einstein dizia que a obrigação de decorar fórmulas foi a maior, e mais inútil,
tortura pela qual passou na vida. Por isso mesmo todo mundo interessado no
assunto vibrou quando o Ministério da Educação anunciou uma nova versão do
Exame Nacional do Ensino Médio para substituir e unificar as provas das
universidades federais. A exemplo do Enem antigo, ela promete exigir muito mais
análise e raciocínio lógico do que informação bruta a ser decorada. Está aí a
solução para o tormento?
Vamos ver. O MEC admitiu que inspirou-se no americano SAT (sigla em inglês para
Teste de Medição Escolar), que é aplicado 7 vezes por ano (por enquanto aqui é
só uma, mas a ideia é alcançar 7 também). Em duas versões: uma de raciocínio,
que avalia matemática, leitura crítica e redação, e outra que testa o
aprendizado de matérias específicas - física, história etc. Ambas reconhecidas
pela qualidade das questões, que obrigam o aluno a de fato raciocinar. Mas a
grama do vizinho não é tão verde assim. Apesar de bem formulado, o SAT é o
terror mais profundo dos estudantes. Igualzinho ao que ocorre aqui, existe por
lá toda uma indústria de cursinhos especializados em dicas e macetes para que
os alunos se saiam bem nas provas. E há quem garanta que são necessários anos
para esquecer o trauma do exame.
Os chineses que o digam. Por lá, a pressão para se sair bem em uma prova
semelhante, que também é unificada e ocorre uma vez por ano, é tão forte que o
vestibular está entre as causas das altas taxas de suicídio no país, de até 3,5
milhões de pessoas por ano.
Na Dinamarca, a prova simplesmente não existe: o que conta são as notas obtidas
durante todo o ensino médio. Se o curso pretendido é engenharia, os
examinadores levam mais em conta as notas do candidato nas aulas de matemática.
Se a ideia é cursar letras, não tem muita importância ter passado raspando em
química por 3 anos. Um sistema correto, mas também desesperador: quem é bom,
mas repetiu o 1º colegial por alguma bobeira de adolescência, pode se complicar
na hora da seleção. Como não dá para voltar no tempo e mudar as notas, o jeito
é mudar de país.
Quem sabe para a Argentina, a Bélgica ou a França. Nesses, o acesso é garantido
sem vestibular nem currículo: basta ter um diploma de nível médio, pelo menos
para entrar nas faculdades menos concorridas (é o que acontece na prática por aqui também, já que os "processos
seletivos" de algumas das nossas particulares permitiriam a matrícula de
um babuíno). Mas o acesso automático não garante nada em alguns casos: na
Argentina, ao fim do primeiro ano de curso, há uma prova para decidir quem
segue na faculdade ou não.
Entre as universidades mais disputadas do mundo, o método é mais complexo. É o
caso das que fazem parte da Ivy League, o grupo das 8 americanas de elite
(entre as quais Yale, Harvard, Colúmbia e MIT). Elas até levam em conta as
notas do SAT, mas também avaliam currículos, exigem cartas de recomendação,
fazem entrevistas pessoais... até a personalidade do candidato entra em jogo.
Tudo conta: participação em grêmio estudantil, viagem de mochilão, trabalhos
comunitários...
Na Universidade de Colúmbia, por exemplo, o que os examinadores olham mesmo são
os trabalhos que o candidato desenvolveu na escola nos 4 anos anteriores. Para
conquistar uma vaga no MIT, entre outras coisas o aspirante precisa fazer uma
lista das 5 atividades mais importantes que considera já ter feito na vida. E
pode ainda optar por falar sobre isso ao vivo, em uma entrevista com um
examinador da universidade, o que pode aumentar significativamente as chances
de admissão. Tudo isso, por sinal, não existe só para o bem do aluno. Mas para
o da própria instituição. Um diploma de Harvard foi importante para a carreira
de Barack Obama. Mas ter formado um Barack Obama que virou presidente é ainda
mais valioso para Harvard, pois aumenta o prestígio que a universidade já tem.
Daí a importância de uma seleção realmente precisa.
Mas claro que, por melhor que seja, o novo Enem não vai transformar nossas
federais em Harvards. Será apenas mais justo que os vestibulares-decoreba de
sempre. Mas, se você acha que isso vai deixar as coisas mais fáceis, pode tirar
o gabarito da chuva. Neste ano, cerca de 5 milhões de estudantes vão concluir o
ensino médio no Brasil, mas há menos de 300 mil vagas nas faculdades públicas,
as mais concorridas. Nos 5 cursos mais disputados das 5 universidades top de
linha, são só 1 300 vagas. Um baita funil, que vai continuar duro de
atravessar. Além disso, não importa o quanto o vestibular, ou mesmo a educação
como um todo, melhore: sempre vai haver um punhado de instituições preferidas
por alunos, professores e pelo mercado de trabalho. O caso dos EUA é
emblemático: entre as mais de 4 mil universidades de lá, só aquelas 8 são
objetos de desejo para valer. E, se é numa das favoritas que alguém quer
entrar, não tem jeito: vai ter que ralar para mostrar mérito. Ainda bem.
Longe de casa
O novo vestibular pode acelerar o amadurecimento dos jovens. E deixar a vida
deles mais divertida, até. Sim: é que, hoje, quase todo mundo faz faculdade
dentro do estado onde já mora - só 0,04% dos brasileiros se mudam, contra 20%
dos americanos. Mas agora, com uma única prova valendo faculdades de vários
cantos do Brasil, o fluxo migratório de estudantes deve crescer. E deixar a vida
universitária daqui mais parecida com a dos EUA: serão mais sotaques se
misturando e mais jovens vivendo em repúblicas, longe da asa dos pais.
Fonte: Revista Superinteressante
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