1) Quanto custará a Copa
no Brasil?
A previsão atual do comitê
organizador é que sejam investidos em obras relacionadas a Copa um total de R$
28,1 bilhões.
Aí estão incluídos 327
projetos que vão desde obras de infraestrutura básica, como aeroportos e
corredores exclusivos para ônibus, até gastos diretamente ligados ao torneio de
futebol.
Apesar dos torcedores
quererem a Copa no Brasil, muitos questionam o valor gasto pelo governo
Do total, R$ 7,5 bilhões
serão gastos em estádios; R$ 8,9 bilhões em obras de mobilidade urbana; R$ 8,4
bilhões em aeroportos e R$ 1,9 bilhão em segurança. O restante será investido
em desenvolvimento turístico, portos e telecomunicações.
Tais obras fazem parte do
que o governo chamou de "Matriz de Responsabilidade" da Copa e podem
ser conferidas no Portal Transparência, mantido pela Controladoria Geral da
União (CGU), embora alguns dados estejam desatualizados.
2) Foi a Copa mais cara da
história?
A comparação entre países
é complicada por uma série de razões, como explicou para a BBC Brasil Holger
Preuss, Professor de Economia do Esporte na Universidade Johannes
Gutenberg-University, na Alemanha, que estudou o impacto econômico das duas
últimas Copas.
Para começar, nem sempre
os governos realizadores dos eventos disponibilizam seus gastos. "E mesmo
que o façam, a prestação de contas não é padronizada, o que dificulta a
comparação", diz Preuss.
Recentemente, a Rússia
anunciou que seus gastos para o evento de 2018 devem ficar em mais de R$ 35
bilhões, por exemplo – e no caso russo, a lista de projetos também inclui obras
de infraestrutura básica e mobilidade urbana.
Segundo a assessoria de
imprensa do deputado Romário, os dados citados pelo jogador no vídeo mencionado
acima constavam em um editorial de jornal.
"É preciso ver quais
obras foram incluídas nos gastos de outros países. No caso do Brasil, o valor
ficou alto porque incluímos essas obras de infraestrutura e mobilidade urbana
que iriam ser feitas com ou sem Copa e ficarão como um legado para a população",
diz Luís Fernandes, secretário-executivo do ministério dos Esportes e
integrante do CGCopa.
"De fato, é preciso
muito cuidado para evitar uma comparação entre maçãs e bananas", concorda
o especialista em Gestão, Marketing e Direito no Esporte Pedro Trengrouse, da
FGV. "Muitas dessas obras só foram catalisadas pela Copa. Não há dúvida de
que precisávamos de mais aeroportos, por exemplo. Só o aeroporto de Atlanta,
nos EUA, tem mais fingers (passarelas móveis usadas para o embarque de
passageiros) do que todos os aeroportos do Brasil juntos".
É claro que isso não quer
dizer que os custos de algumas obras específicas não possam ser contestados –
nem que não haja exageros de gastos, irregularidades ou superfaturamento em
algumas, ou muitas, delas.
Muitos especialistas
contestam, por exemplo, a construção de estádios imensos em lugares que parecem
não ter público ou clubes suficientes para manter a ocupação de tais estruturas
após o evento. Entre eles estariam o estádio construído em Brasília, que tem
capacidade para 71 mil pessoas e custou R$ 1,2 bilhão. E o de Manaus, que
abrigará 44 mil torcedores e custou R$ 583 milhões (segundo o Portal
Transparência).
As empresas e Estados
envolvidos nos projetos alegam que a adequação das obras ao padrão Fifa ajuda a
encarecê-las. Mas organizações da sociedade civil exigem mais explicações e
transparência sobre essas escolhas.
Segundo o conselheiro
Fabiano Silveira, do Conselho Nacional do Ministério Público, uma das questões
que o MP está investigando com atenção são os custos de estruturas temporárias
– as barracas que ficam em volta dos estádios para abrigar centros de
credenciamento, receber pessoal da Fifa e etc. Em alguns Estados, os custos de
tais estruturas chegariam a dezenas de milhares de reais, o que parece um
exagero na avaliação do conselheiro.
"Também não há como
negar que questões como corrupção e ineficiência podem encarecer alguns
projetos", diz Preuss, para quem o problema não é gastar muito, mas como
garantir, que, em cada caso, os recursos estejam sendo usados da maneira mais
eficiente possível.
3) Quem paga pelas obras
da Copa?
Cerca de um terço do valor
das obras (R$ 8,7 bilhões) está sendo financiado por bancos federais – Caixa
Econômica Federal, BNDES e BNB (Banco do Nordeste do Brasil).
Boa parte desses
empréstimos é tomada pelos próprios governos estaduais, sozinhos ou em
parcerias com o setor privado (PPPs), embora alguns empréstimos também sejam
contraídos por entes privados (como os R$ 400 liberados pelo BNDES para o
Corinthians construir o Itaquerão).
A Copa do Mundo tem sido
alvo de manifestações de protesto.
Além disso, as obras da
Matriz de Responsabilidade da Copa também consumirão R$ 6,5 bilhões do
orçamento federal e R$ 7,3 bilhões de governos locais (estaduais e municipais).
Dos R$ 28,1 bilhões, apenas R$ 5,6 bilhões serão recursos privados (que se
concentram principalmente nos aeroportos).
4) E pelos estádios?
Os bancos federais
financiaram cerca de metade dos R$ 7,5 bilhões gastos em arenas para a Copa.
Apenas R$ 820 milhões foram financiados com recursos privados (segundo valores
da CGU, que diferem um pouco de um levantamento do Tribunal de Contas da
União). O restante dos recursos foi aportado por governos locais,
principalmente estaduais. Na Alemanha, Preuss conta que os recursos públicos
financiaram apenas um terço dos 1,5 bilhão de euros gastos em estádios.
Segundo o secretário
federal de Controle Interno da Controladoria-Geral da União, Valdir Agapito,
dos 12 estádios, 4 são públicos e foram, ou estão sendo construídos ou
reformados pelos governos estaduais (Brasília, Manaus, Rio de Janeiro e Cuiabá
– apesar de o Maracanã, no Rio, estar prestes a ser entregue para exploração
pelo setor privado), 5 estão a encargo de esquemas de Parcerias Publico
Privadas, ou PPPs, (Salvador, Natal, Fortaleza, Recife e Belo Horizonte) e 3
são privados (Curitiba, Porto Alegre e São Paulo).
4) Como os governos
pretendem recuperar esse dinheiro?
No caso das PPPs, os
estádios serão entregues para exploração pelo setor privado, e o retorno que
obtiverem com jogos e uso dessas estruturas em shows e grandes eventos seria
usado para ajudar a pagar os empréstimos aos bancos federais.
No caso do Rio, um
consórcio formado pela empreiteira Odebrecht, a empresa IMX, do empresário Eike
Batista, e a companhia de origem americana AEG venceu em maio a licitação que
determinaria o responsável pela administração do estádio do Maracanã pelas
próximas três décadas. As condições da concessão e a licitação, porém, abriram
uma série de polêmicas.
Os três estádios públicos
serão administrados pelos próprios Estados. Ainda há dúvidas sobre a
rentabilidade de algumas arenas em capitais menos populosas no longo prazo. O
medo é que elas se tornem "elefantes brancos". A rentabilidade das
concessões ao setor privado para os Estados também é contestada por alguns
movimentos da sociedade civil.
5) Como a Fifa lucra com o
evento?
Muitos acreditam que a
Fifa não transfere ao país sede os benefícios financeiros gerados pelo torneio.
A Fifa lucra com os
contratos de transmissão dos jogos, de marketing e com os patrocinadores. Ela
tem seis patrocinadores fixos (Adidas, Coca-Cola, Emirates, Hyundai, Sony e
Visa) e contratos exclusivos para a Copa (no caso do Brasil, já são 14).
Além disso, a entidade não
precisa pagar impostos no Brasil - privilégio também garantido em outros
Mundiais.
"A Fifa faz uma festa
privada e se você quiser que essa festa seja na sua casa, precisa aceitar as
condições da entidade", diz Preuss. "A verdade é que ela não está
comprometida com o desenvolvimento econômico dos países que sediam as Copas. A
princípio é uma entidade sem fins lucrativos, mas cujo compromisso é com a
promoção do esporte – e particularmente do futebol - no mundo."
Segundo Silveira, do
Conselho Nacional do Ministério Público, a Fifa também mantém convênios com
hotéis dos quais cobraria uma porcentagem sobre a hospedagem – em um esquema
cujos efeitos sobre os preços estariam sendo analisados pelo MP.
6) Quanto foi comprometido
em isenção fiscal?
Aprovado em 2010, o Regime
Especial de Tributação para Construção e Reforma de Estádios da Copa, programa
conhecido como Recopa, garante a desoneração de impostos como IPI, PIS/ Pasep e
Cofins, além de tarifas de importação, na aquisição de equipamentos e
contratação de serviços para a construção de estádios do mundial.
Agapito, da Controladoria
Geral da União, diz não ter tido acesso ao dado de quanto foi desonerado.
Segundo Luís Fernandes, do CGCopa, o levantamento ainda está sendo feito. De
acordo com uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União), porém, as
isenções de impostos federais concedidas às construtoras responsáveis pelos
estádios da Copa somariam R$ 329 milhões.
No caso das isenções para
a Fifa, estima-se que o total desonerado ficaria em torno de R$1 bilhão.
Fonte: BBC
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