A Kraft durch Freude , que
pode ser traduzido como “Força pela Alegria”,
a organização para os tempos livres da DAF – Deutsche Arbeitsfront, a
Frente Alemã do Trabalho, a grande organização corporativa do regime nazista,
foi quem mandou construir a fábrica de Wolfsburg, onde foi produzido o “carro
do povo”.
Tudo começou em 1934
quando o ditador Adolf Hitler encomendou ao engenheiro austríaco Ferdinand
Porsche o desenvolvimento de um pequeno automóvel “para o povo”.
Porsche tinha sido diretor
técnico da empresa Daimler-Benz, mas no começo dos anos 1930 tinha-se
estabelecido por conta própria como designer de automóveis de competição, em
Stutgart, no sul da Alemanha. Um dos seus projetos era o de desenvolver um
carro pequeno que fosse, ao mesmo tempo, barato e económico; um «carro
popular», que em alemão se dizia Volkswagen.
O primeiro estudo foi
realizado em 1931 para a fabricante de motocicletas Zundapp, também conhecida
como Zünder- und Apparatebaugesellschaft. O protótipo, com o nome de tipo 12,
foi produzido no ano seguinte, mas logo foi abandonado. Em 1932, este projeto
foi reaproveitado por outra fabricante de motocicletas, a NSU Motorenwerke AG,
mas também acabou por ser abandonado.
Porsche apresentando a Hitler seu projeto |
Em 1933, Hitler abordou
Porsche, que conhecia desde 1924, sobre a realização de um carro popular e
pediu-lhe a apresentação de projetos. Porsche, entre outros, apresentou um
trabalho com base numa plataforma com suspensão dianteira e traseira com barras
de torção, com um motor de 4 cilindros,
refrigerado a ar. A carroçaria baseava-se no carro Tropfenwagen, desenvolvido
pelo austríaco Edmund Rumpler, um veículo em forma de gota de água. Foi este
projeto que Hitler apoiou em 1934, e que foi formalmente contratado com a
Reichverband der Automobilindustrie (RDA), a associação industrial da indústria
automotiva.
O carro que foi
encomendado tinha que ter como características um motor traseiro de 986
cilindradas, 26 cavalos, uma velocidade máxima de 100 km/hora, não pesar mais
de 650 kg, ser refrigerado a ar, e consumir sete litros de gasolina a cada cem
quilômetros. Imitando a solução encontrada pela Ford, com o seu modelo T, o Volkswagen, também só seria fabricado numa
única cor – um azul escuro acinzentado, quase preto. Certamente uma cor bem ao
estilo da política alemã da época.
Hitler conhecendo os primeiros protótipos - Fonte - Time/Life
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Os primeiros protótipos
foram terminados em fins de 1935, sendo batizados com o código VW1 e VW2. Os
primeiros ensaios em estrada foram realizados de Outubro a Dezembro de 1936,
com base em três protótipos, e depois de estes serem analisados por uma comissão
de admissão à produção, composta por representantes de todos os construtores de
automóveis alemães, o projeto foi aceito.
Em 1937 e 1938 foram
fabricados à mão, pela Mercedes-Benz,
por ordem expressa de Hitler, duas séries de protótipos, conhecidos pelo nome
de VW38. Uma primeira série de 30 e posteriormente uma nova série de 60
unidades, que realizaram ensaios de avaliação em grande escala.
Foi em 1938 que se decidiu
construir uma fábrica para produção dos Volkswagen. O local escolhido foi a
propriedade do conde von Schulenburg, o castelo de Wolfsburg, em Fallersleben
na Baixa-Saxónia, a 80 km da cidade de Hanover.
A empresa que iria
produzir o novo carro foi registada, em 28 de Maio de 1938, com o nome
Gesellschaft zur Vorbereitung des Volkswagens (GEZUVOR) – Companhia para o
desenvolvimento do Volkswagen, que foi mudado para Volkswagenwerk GmbH em
outubro seguinte.
A fábrica foi lançada por
Hitler em 26 de Maio de 1938, sendo aí apresentados os protótipos definitivos.
O New York Times de 3 de Julho descrevia-o ironicamente dando-lhe o nome de
«Beetle» – Besouro. A sua apresentação ao grande público ocorreu no Salão
Automóvel de Berlim de 1939, com o nome de Kdf Wagen – o Carro Força pela
Alegria ! Ao mesmo tempo em que se construía a fábrica para a produção do
carrinho, criava-se uma cidade que teve o nome provisório de Stadt des
KdF-Wagens – Cidade do carro Força pela Alegria.
Anúncio ao KDF-Wagen mostrando a caderneta de poupança para organizar o pagamento do carrinho.
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O preço estabelecido foi
de 990 Reich Mark’s, mais 200 marcos para o pagamento dos seguros, num total de
quase 1.200 marcos, fantasticamente divididos em pagamentos semanais de 5
marcos. O contrato previa a possibilidade de rescisão, mas a empresa seria
indemnizada com 20% do capital pago, não se obrigando a um prazo de entrega,
mesmo que o carro já tivesse sido pago.
Em finais de 1938 havia
150.000 contratos realizados, que chegaram, em Novembro de 1940, aos 300.000,
mas nenhum “Volkswagen” foi entregue a particulares. Entre Maio de 1938 e Setembro de 1939 foram
fabricados, à mão, 215 exemplares, sendo que o primeiro destinado à venda saiu
da fábrica em 15 de Agosto de 1939. Estes exemplares foram todos entregues a
dignitários nazistas.
Hitler e seu carro popular - Fonte - Getty Images |
A produção em série só
começou em Julho de 1941, sendo produzidos ao todo 41 modelos, basicamente
militares. Quando em Agosto de 1944 a fábrica foi integrada na indústria de
armamento alemã, sobretudo para produzir os foguetes V1, e a produção dos
KdF-Wagen foi terminada, tinham sido produzidos, ao todo, 630 exemplares.
O primeiro modelo militar,
construído na fábrica da Kdf, foi um
carro para oficiais, com tração nas quatro rodas e um chassi mais elevado, que
teve o nome de Kommandeurwagen e foram construídos 667 exemplares. O modelo
tinha boas qualidades em todo-o-terreno, mas o seu desempenho na estrada era
ruim pela falta de tração. Foi o carro que voltou a ser fabricado em 1946,
quando a fábrica, destruído durante a guerra, voltou a produzir novamente.
Um Kommandeurwagen preservado |
O Kübelwagen, o modelo
seguinte teve muito mais sucesso, tendo sido produzidos 50.788 exemplares. Foi, de fato, o Jeep
alemão. Devido o motor refrigerado a ar, podia ser usado em qualquer região do
mundo, tanto no Ártico como no Norte de África.
O Kübelwagen, o "Jeep" alemão |
Em 1944 o motor de 984
cilindradas foi substituído por um de 1.131, o mesmo motor que será usado nos
primeiros Volkswagen produzido no pós-guerra. Este modelo voltou a ser produzido
nos anos 60, tanto numa versão militar, como numa civil, sendo conhecido nos
Estados Unidos por “The Thing” – A Coisa!
O Kübelwagen |
A outra versão militar, e
a última, produzida durante a Segunda
Guerra Mundial foi o Schwimmwagen. Veículo anfíbio produzido a partir de 1942,
com uma carroçaria completamente estanque, o Schwimmwagen era um bom veículo de
reconhecimento e era tracionado para todo terreno.
O Schwimmwagen, usando o
motor de 1.131 cilindradas que será utilizado depois no Kubelwagen, foi
fabricado até 1944, tendo sido produzidos 14.283 veículos.
Um Schwimmwagen pronto para o combate |
No fim da 2.ª Guerra
Mundial a Volkswagenwerk estava destruída. Quando os soldados da 102.ª divisão
de infantaria do exército americano avistaram a fábrica e a cidade da
Volkswagen, em 11 de Abril de 1945, desconheciam a sua existência porque a
localidade não vinha representada em nenhum mapa. Entretanto, as máquinas para
produção dos automóveis estavam intactas, e havia material armazenado que
permitia o recomeço da produção.
Mais tarde, com a divisão
da Alemanha em quatro zonas de ocupação, a cidade passou a ser responsabilidade
do exército britânico. Foi encarregado de reativar a fábrica o major Ivan Hirst,
do Corpo de Engenheiros do exército britânico, pois carros pequenos eram
necessários para as forças de ocupação britânicas.
A fábrica destruída |
Nos primeiros tempos a
fábrica serviu para reparação de Jeeps do exército britânico, e produção de
motores. Logo dois KdF-Wagens foram montados à mão, para uso do Quartel General
do exército britânico. Os britânicos fizeram uma encomenda de 20.000 automóveis
à Volkswagen e até ao fim de 1945 foram produzidos 1.785 automóveis, e no ano
seguinte chegou-se aos 10.000 veículos. O preço unitário era de 5.000 marcos,
sendo entregues à Comissão aliada de Controle da Alemanha, e distribuídos aos
Correios, à Cruz Vermelha e a outras instituições nascentes no país em
reconstrução. Não foram vendidos exemplares a particulares.
No dia 2 de Janeiro de
1948 o exército britânico entregou a Heinz Heinrich Nordhoff, um antigo
engenheiro da empresa Opel, a direção da fábrica. Em 1949 os Aliados entregaram
o controle dos bens públicos do estado alemão ao governo federal, entre estes a
fábrica da Volkswagen.
Heinz Heinrich Nordhoff e os novos "Carros do Povo" |
Apesar de tudo que havia
ocorrido, a empresa entregue à Alemanha era uma empresa de sucesso. Empregava
quase 10.000 pessoas, produziria até ao fim de 1949 46.154 veículos, dos quais
23% seriam exportados para nove países. Uma produção que aumentava rapidamente.
O Volkswagen era o carro mais vendido na Alemanha, tendo 50% do mercado. A
empresa estava a criar uma rede de vendas e de serviço na Alemanha e no
estrangeiro, e tinha inovado ao criar um seguro especificamente para os
compradores de Volkswagens.
Fonte - vwboxerpatos.blogspot.com |
Logo estes veículos
cruzariam a linha do equador e desembarcariam em um grande país tropical, onde
seriam eternamente conhecidos como “Fusca”.
Baseado em texto
encontrado no site – http://tokdehistoria.com.br/
Que legal, o fusquinha
ResponderExcluirMuito interessante isso.
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