domingo, 10 de novembro de 2019

QUE HISTÓRIA É ESSA? A COR ROSA É DE MENINA E AZUL É DE MENINO?



Segundo pesquisa realizada pela historiadora Jo B. Paoletti. Autora do livro Pink and Blue: Telling the Girls From the Boys in America (“Rosa e Azul: diferenciando meninas de meninos nos EUA”), durante a Primeira Guerra Mundial tons pasteis ainda eram as cores mais usadas pelas crianças. À época, inclusive, azul era uma cor feminina, porque teoricamente representava “delicadeza”. O rosa, por remeter ao sangue, representava força e decisão – conceito abraçado pelos homens.

Isso só foi mudar a partir de 1920, na Alemanha, popularizando-se durante a década de 1970. Os dados são do livro A Psicologia das Cores, de Eva Heller. Na obra, a especialista aponta que a transição atingiu seu auge durante os anos 1980, quando as principais lojas de departamento dos Estados Unidos decidiram optar pela distinção “rosa para meninas e azul para meninos”.

Segundo Eva, não há razões genéticas ou ancestrais que justifiquem essa decisão. As crianças, no fim das contas, eram atraídas por cores intensas, tais como vermelho e azul.

Diversas pesquisas apontam que o azul é a cor favorita tanto de homens como de mulheres. Isso se justifica pela relação que as pessoas fazem com a cor do céu ou do mar, por exemplo. Em A Psicologia das Cores, os dados são ainda mais interessantes: o rosa é a cor favorita de menos de 5% das mulheres, contrariando estereótipos.


Outra pesquisa mostra que os significados das cores, em muitos casos, são definidos de forma arbitrária.

No Brasil, por exemplo, “amarelar” remete à covardia, enquanto que em países como China e Egito, a cor do sol pode se associar à felicidade. 

Em um vídeo famoso na internet, uma garotinha reclama por ter brinquedos somente na opção rosa. 



ROSA NEM SEMPRE FOI COR DE MENINA

Pintura 'Alice e Elisabeth Cahen d'Anvers', mais conhecida como 'Rosa e azul', do pintor impressionista francês Renoir, de 1881 e que faz parte do acervo do Masp, em São Paulo
Pintura 'Alice e Elisabeth Cahen d'Anvers', mais conhecida como 'Rosa e Azul', do pintor impressionista francês Renoir, de 1881 e que faz parte do acervo do Masp, em São Paulo




"A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina."
O parágrafo acima foi publicado há cem anos, em 1918, por uma revista de moda infantil americana, a Earnshaw, voltada para profissionais da área. Foi encontrado por Jo Paoletti, professora emérita de Estudos Americanos na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America (Rosa e Azul: Distinguindo Meninos de Meninas nos Estados Unidos).
"(Encontrar essa frase) virou minhas suposições de cabeça para baixo", lembra a pesquisadora, em conversa com a BBC News Brasil. Afinal, o rosa nem sempre havia sido uma cor de menina, nem o azul cor de menino.
"A ideia de que há algo natural e permanente sobre o uso de rosa para as meninas e azul para garotos é historicamente errada", diz Paoletti. "Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso. Não é dos estereótipos de gênero que nasce a identidade homossexual ou trans."


A RELIGIÃO E AS CORES




Segundo o livro “The Story of Colour: An Exploration of the Hidden Messages of the Spectrum” do Gavin Evans, onde ele fala sobre a cultura das cores, entre o final do século XIX e início do século XX as mães costumavam ouvir que se elas queriam que seus filhos crescessem másculos, era necessário vestí-los de cores masculinas, como o rosa e se quisessem que as meninas crescessem bem femininas, teriam que vestí-las de azul. Sim, ao contrário mesmo! 

A origem disso vem da Europa, onde a cor azul era associada com o feminino por conta do manto da Virgem Maria, uma cor serena que transmitia calma e ternura. Já o rosa era uma versão para os meninos da masculina cor vermelha, que era uma cor quente, viríl, representava lutas e guerras e também a cor do manto de Jesus Cristo.


Gradualmente isso foi mudando pela metade do século XX, mais precisamente no pós-guerra, pela década de 1950, onde havia fortes propagandas criadas pelas agências de publicidade que induziam as pessoas a aceitarem o rosa como uma cor exclusivamente feminina, o que fez com que a mudança fosse aceita muito rapidamente.




Vale constar também que antes de tudo isso, todos os bebês usavam roupas brancas, pois era muito mais fácil de limpar e não desbotavam com o uso de produtos de limpeza fortes que serviam para tirar manchas, além de poderem ser repassados para todos os filhos da família. O detalhe é que na época do branco, independente de gênero, todas as crianças usavam vestidos por serem mais práticos também. Os meninos começavam a usar calças apenas depois do primeiro corte de cabelo ou ainda mais adiante.




Assistam o vídeo abaixo para uma versão bem completinha e resumida sobre o assunto (é em inglês, mas basta ativar as legendas com tradução automática):



POR QUE VOCÊ NÃO USA ROUPA ROSA?

Todos nós sabemos que as cores são ótimos abreviadores imagéticos. Um cobertorzinho azul indica que o bebê é menino, já o rosa pode apontar que é menina. Roupas negras serão luto em um velório (no ocidente) e um vestido vermelho será sempre tido como uma peça sexy.
 Mesmo nunca tendo estudado moda, você já sabe ler todas essas informações, mérito das convenções sociais que nos cercam desde antes de nascermos.
E que tal se, pela primeira vez na vida, você descobrisse o porque de ter seguido a mais clássica de todas estas tradições?
EIS AQUI COMO TUDO COMEÇOU ...
Ok, poderiam ao menos não ter dado o chapéu pro moleque, né
Os motivos eram surpreendentemente coerentes: eles usavam vestidos pois, assim, as fraldas eram bem mais fáceis de serem colocadas e retiradas. Já a cor branca era exatamente para “denunciar” se a criança estava ou não suja, além, é claro, de ser mais barato do que tecidos coloridos.
Outro motivo que os fazia usarem as mesmas roupas é que, ao vestirem as crianças sem distinção de gênero, os pais não tinham a necessidade de explicar a elas qualquer coisa que fosse de caráter sexual, nem mesmo seus gêneros.
E, por último, ao utilizar a mesma roupa para ambos os sexos, era sempre possível que um casal reutilizasse a roupa do filho mais velho no filho mais novo, fosse ele menino ou menina.
Foi somente no início do século 20 que as crianças começaram a se vestir com roupas coloridas, não só devido ao aumento do consumo, mas também por conta da maior facilidade de tingimentos industriais, que fez com que roupas coloridas pudessem ser facilmente lavadas na água quente sem desbotar.
E eis aqui o fato mais surpreendente desta história: ao começarem a utilizar cores, o rosa era a cor do menino e o azul era a cor da menina!
As grandes lojas americanas tiveram uma forte influência nesta escolha. Devido aos Estados Unidos serem um país muito cristão, o rosa (que era encarado apenas como uma tonalidade mais clara de vermelho) era a cor dos meninos devido a sua origem mais “quente” e “colérica”, portanto, mais forte e máscula.
Também era a cor que sempre acompanhava a indumentária de Jesus (numa história longa onde os pintores que o retratavam com um manto vermelho são os “culpados”).
Já o azul era associado as meninas devido a bondade da Virgem Maria e a tranquilidade do reino dos céus.
Tirinhas de 1907, do fantástico "Little Nemo In Slumberland"
Acima:  Tirinhas de 1907, do fantástico "Little Nemo In Slumberland"
A inversão das cores ocorreu na década de 40, no pós-guerra, quando nasceram os baby boomers, porém, não existe uma razão considerada conclusiva para esta troca.
Na minha opinião, a fonte mais lógica é que isso ocorreu devido a uma forte influencia dos nazistas, pois os gays que eram colocados nos campos de concentração tinham, costurados, um triangulo rosa em suas roupas.
Os soldados americanos, vendo aquilo, retornaram para seus lares com esta distinção de gênero em suas mentes, em que o rosa não servia mais para o homem e, ao que parece, o mercado entendeu esta tendência e começou a direcionar a produção de distinção de gêneros de maneira mais clara e inversa, sendo o azul para meninos e o rosa para meninas.
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Nas décadas de 60 e 70, ocorreu um breve retorno ao estilo unissex de vestir das crianças, retorno esse atribuído a luta da mulher por direitos iguais aos dos homens.
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Eis então que chegamos ao meio dos anos 80 e à criação do exame pré-natal, em que era possível saber o sexo do bebê antes que ele nascesse. Claro que isso mudou novamente o curso das coisas.
A indústria entendeu que aquela era uma ótima oportunidade mercadológica, afinal, os pais tinham que comemorar de alguma forma a notícia antecipada que teriam um menino ou uma menina. Então, nada melhor do que voltar a diferenciá-los com cores.
Assim, as compras feitas antes do nascimento -- fossem as fraldas rosas das meninas ou o enxoval azul dos meninos -- seriam ainda mais especiais pois se tornariam mais pessoais, personalizados e únicos, e o mercado de produtos segue aqui uma lógica infalível de raciocínio que perdura até os dias de hoje: quanto maior o significado de um produto, maior é o número de suas vendas.
Mas esta história sobre distinção de gêneros não acaba por aqui, senhores. Este assunto nos permite continuar explorando um território ainda mais fértil: o da masculinidade.
É interessante notarmos como as noções de gênero sofreram com os ruídos dos anos e ganharam características universais aparentemente equivocadas, como a atribuição da masculinidade exclusivamente aos homens e feminilidade exclusivamente às mulheres.
É muito fácil cairmos em armadilhas causadas por conjecturas que nos induzem ao erro.
 “Se você é um homem, você não é uma mulher.”
A afirmação acima está correta. Agora, veja se a frase abaixo faz a mesma afirmação: “Se você é um homem, você é o oposto de uma mulher.”
Apesar da aparente igualdade das frases, é importante notar que diferença não é o mesmo que oposição. Assim sendo, a segunda frase é falsa.
Portanto, julgar a masculinidade de uma pessoa de acordo com seu grau antagônico de feminilidade é um erro.
Aliás, a masculinidade em si não tem caráter universal, pois varia de cultura para cultura e também não tem caráter biológico, visto que é uma construção social. Então podemos dizer que a masculinidade nada mais é do que a relação de poder entre um homem e outros seres humanos, sejam eles mulheres ou homens.
E este é um dos motivos que nos faz associarmos mulheres poderosas a uma personificação máscula. Não se trata do gênero, mas sim do poder.
A origem da masculinidade como qualidade remete ao início das estruturas sociais, em que a existência de um macho alfa era vital a sobrevivência do grupo. Esta atribuição de masculinidade foi reforçada ao longo dos anos, principalmente após o início do período romano e devido ao sucesso do modelo patriarcal da maioria das culturas ocidentais desde então.
Mas, ano a ano, estas convenções têm se tornando mais fracas. Conforme a estrutura social tem ficado mais complexa, a necessidade de um macho alfa foi se tornando menor e suas atribuições mais difíceis de serem classificadas.
Portanto, é bem provável que a evolução permita que, um dia, você consiga encontrar para comprar uma cueca rosa que você goste, sem que isso te traga problemas. Até esse momento chegar, você pode desfrutar dos outros avanços sociológicos que já obtiveram e escolher sem problemas uma camiseta rosa pra usar amanhã de manhã.
E é isso meus amigos, como sempre, espero que tenha sido útil, ou ao menos, divertido!
Obs: durante o começo da utilização de cores nas roupas do dia a dia das crianças (com exclusão das muito ricas, que sempre utilizaram peças coloridas), alguns países europeus tinham as cores invertidas (azul e rosa), porém, para a nossa explicação ser menos longa e confusa, tomei por base a linha cronológica que ocorreu nos Estados Unidos, pois foi a partir dela que as variações cromáticas se tornaram padronizadas como são hoje em dia tanto no Brasil como no mundo (ocidental).

Um comentário:

  1. vou indicar para os alunos do período integral SP, boa abordagem aqui no blog, recomendo a leitura a todos os professores, execelente post, encantada

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