O que é feminismo?
Feminismo não é o contrário de machismo?
E por que, em vez de feminismo ou machismo, não falamos de humanismo?
Porque humanismo é um sistema filosófico de pensamento, não um movimento social ou político. O humanismo se refere à valorização do pensamento e da produção
humana, em oposição à ideia de um ser sobrenatural que comanda o mundo.
E por que está todo mundo falando de feminismo agora?
Por vários motivos. Primeiro, porque já há algum tempo, as redes sociais tornaram possível que grupos de mulheres se encontrassem e falassem sobre como se sentem no mundo em que vivemos,
dividindo questões como os assédios nas ruas, relatando estupros, situações de desvalorização no mercado de trabalho, etc. Esse novo impulso que o feminismo teve com as redes sociais
já mostrou sua força em vários momentos, em especial na última semana, quando as mulheres reagiram ao caso MasterChef Junior com a campanha #primeiroassedio.
E o que rolou nessa campanha?
Na internet, homens adultos dirigiram comentários de cunho sexual a uma menina de 12 anos, participante do programa. Então, milhares de mulheres passaram a relatar publicamente a primeira vez que
foram assediadas sexualmente e muitos casos envolviam algum tipo de violência: estupro, pedofilia, constrangimentos.
E sobre o ENEM? Ouvi dizer que a prova foi feminista…
Outra questão, sobre Simone de Beauvoir, citava uma frase famosa da autora: “ninguém nasce mulher, torna-se”
e pedia que a resposta apontasse para qual movimento social o pensamento de Beauvoir contribuiu. A resposta correta era a “organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero”.
A prova não se posicionava contra ou a favor do feminismo, apenas pedia que os alunos tivessem conhecimento sobre o que é esse movimento.
Mas se as mulheres já podem votar, já podem ir para o mercado de trabalho, os direitos já não são iguais? O que
mais as feministas querem?
As feministas querem o fim da violência de gênero – no Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é violentada, de acordo com uma pesquisa
da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal, a cada 10 minutos, uma mulher é estuprada, de acordo com o Mapa da Violência, e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada, de acordo
com o IPEA. Todas essas violências estão relacionadas à questão de gênero – são casos que durante muito tempo foram chamados de “passionais”, são casos que acontecem
dentro de casa, no seio familiar, e que se diferem da violência que atingem os homens, que morrem por diversos motivos, mas nunca por serem homens. No Brasil, as mulheres ainda ganham em média 30% a menos do que
os homens para exercer a mesma função, de acordo com uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mulheres também são maioria no trabalho doméstico, acumulando funções
dentro e fora de casa. São as maiores vítimas de assédio sexual no trabalho, normalmente cometido por homens em situação de hierarquia superior. Enfim, por vários motivos, ainda há
muito o que conquistar em termos de direitos.
Feministas são contra a família, o casamento, e se recusam a ter filhos?
Isto não é verdade. É apenas um mito criado em torno da luta dessas mulheres. Feministas são a favor da escolha da mulher, isto é – que a mulher case apenas quando e se
quiser casar, que tenha filhos apenas quando e se quiser tê-los e que seja livre para fazer essas escolhas, não sendo julgada se não quiser fazê-las.
Feministas são a favor do aborto?
Mas e se todo mundo começar a fazer aborto? Onde vamos parar?
Bom, feministas não querem que todo mundo comece a fazer aborto. Elas querem que ele seja regulamentado e tratado como uma questão de saúde, não criminal, para que mulheres que se sentem
em situação de vulnerabilidade e desejam recorrer ao aborto recebam atendimento psicológico, médico, remédios e acompanhamento de saúde. Países como EUA e França preveem
a possibilidade de interrupção da gravidez, e, no Uruguai, depois da legalização, o número de abortos caiu, talvez exatamente porque ao receber apoio, a mulher se sente encorajada a levar
a gravidez até o fim, porque sabe que há uma rede de assistência com a qual poderá contar. Depois da legalização, o Uruguai também não registrou mais casos de morte de
mulheres durante o aborto – porque essas mulheres deixaram de recorrer a clínicas clandestinas e passaram a contar com atendimento médico. Enquanto isso, a cada dois dias uma brasileira, em geral das classes
mais baixas, morre vítima de um aborto mal realizado.
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