Paulo Reglus Neves Freire , nasceu em Recife em 19 de setembro de 1921 e faleceu em São Paulo em 2 de maio de 1997. Foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira
- Preso e exilado durante a ditadura militar nos anos 60, Paulo Freire comentou em uma entrevista, em 1994, como a história molda os discursos, e que ele já não era mais demonizado como fora antes. A história é mesmo curiosa, já que nos últimos anos o nome de Freire voltou às rodas de alguns setores da sociedade, que veem no educador um doutrinador e propagador do comunismo.
Mas, afinal de contas, qual era a proposta de Freire para a
educação? Por que ele é tão odiado por alguns e tão amado por outros?
Educação como prática de liberdade
De acordo com o biógrafo Sérgio Haddad, o texto do inquérito divulgado logo
depois que o educador partiu para o exílio afirmava que ele era “um dos maiores
responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos”.
Essa frase diz muito sobre a metodologia de Paulo Freire e
por que ela gerava tanto incômodo. O método tratava uma maneira de educar
intrinsecamente ligada à vida cotidiana — e por isso também à política. O
educador era contra o que chamava de “educação bancária”, que colocava o
professor como detentor do conhecimento e o aluno apenas como depositório. Para
ensinar, de acordo com ele, era preciso partir da experiência do aluno e do que
ele conhecia.
Foi assim que um grupo de professores, sob sua liderança, ensinou 300 adultos a ler e escrever em menos de 40 horas, na cidade de Angicos (RN), em 1963. A metodologia envolvia ensinar os fonemas por meio de palavras que faziam parte do cotidiano dos trabalhadores, como tijolo. A alfabetização em massa inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que foi arquivado e nunca mais retomado depois do Golpe de 1964.
Projeto anticomunismo
Inicialmente, a experiência de Freire foi financiada pela Aliança para o Progresso, do governo dos Estados Unidos, que acreditava que a alfabetização era um caminho para combater o avanço do comunismo no Brasil.
Em Petrópolis (RJ), no início da década de 60, crianças recebem leite - em pó - mandado pelo programa Aliança para o Progresso, do governo americano |
O governo militar, no entanto, viu nela um perigo iminente de revolta dos “menos favorecidos”. Isso porque Freire acreditava na educação como ferramenta de transformação social, como forma de reconhecer e reivindicar direitos.
Carta ao então presidente dos EUA, John Kennedy |
De acordo com uma reportagem publicada pela ONG Repórter
Brasil, muitos atribuíram uma greve dos trabalhadores em Angicos, que
reivindicavam carteira de trabalho assinada e repouso semanal, às discussões
ocorridas durante a experiência de alfabetização de Paulo Freire. Ao ensinar a
escrever a palavra “trabalho”, os professores também levantavam discussões
sobre o assunto, e os alunos chegaram inclusive a ler artigos da CLT.
Um outro ponto sensível aos militares da época tocado por
Freire e o Plano Nacional de Alfabetização era o direito ao voto. Na época,
apenas quem sabia ler e escrever poderia votar. Ou seja, Paulo Freire estava
formando leitores e eleitores críticos.
Paulo Freire ao redor do mundo
Paulo Freire é a segunda figura, da esq. para a dir., nesta
escultura de 1976 de Nye Engström. A obra fica em Estocolmo, na Suécia
De acordo com Sérgio Haddad, durante os 15 anos de seu exílio, Paulo Freire passou por diversos países a convite de governos, universidades, igrejas e movimentos sociais. De volta ao Brasil, deu aulas na PUC-SP e na Unicamp, e, de 1988 a 1991, foi secretário municipal de Educação na gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo.
Paulo Freire é o brasileiro que mais recebeu títulos honoris
causa pelo mundo. Ao todo, foi homenageado em pelo menos 35 universidades
brasileiras e estrangeiras. Além disso, mais de 350 escolas ao redor do mundo
levam seu nome.
Foto de Paulo Freire em 1963 / Arquivo Nacional |
Em 2016, o especialista em estudos sobre desenvolvimento e
aprendizagem Elliott Green, professor da London School of Economics, realizou
um levantamento por meio do Google Scholar e elencou Pedagogia do Oprimido, um
dos livros de Paulo Freire, como a terceira obra mais citada em trabalhos na
área das humanidades em todo o mundo. À época, ela já havia sido citada 72.359
vezes.
Diversos centros de estudo ao redor do globo se dedicam a estudar a obra de Paulo Freire. De acordo com a BBC, entre os países que estudam e aplicam o método do educador estão a África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
A Revere
High School, escola em Massachusetts que já chegou a ser considerada a melhor
escola pública de Ensino Médio dos EUA, é uma das aplicadoras.
Discordâncias
A mesma matéria da BBC aponta, no entanto, que não há
unanimidade entre pesquisadores a respeito de sua obra e da universalidade de
sua metodologia. O especialista em formação de professores Douglas J. Simpson,
da Faculdade de Educação da Universidade Cristã do Texas, por exemplo, publicou
um artigo que causou polêmica ao questionar se Paulo Freire deveria ser
“engavetado”.
Simpson afirmou também que não concorda com a aplicação de
uma mesma metodologia em todas as escolas, e que é preciso também se basear em
“práticas meritórias”. Na década de 70, um outro pedagogo americano chegou a
afirmar que a pedagogia de Freire abria espaço para acusações de doutrinação e
manipulação.
De acordo com seu biógrafo, no campo político Paulo Freire
também não gerava consenso. Recebia críticas dos setores progressistas por
conta da sua linguagem com ênfase no masculino (ao menos nas primeiras obras) e
por ser contra o aborto, por exemplo.
No entanto, sua contribuição e relevância no campo da educação, a despeito das críticas que possam ser feitas a ele, são consenso entre pesquisadores, assim como seus esforços para estimular o diálogo e o respeito em sala de aula.
“Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos
aprender a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros”, afirmou seu crítico
Douglas J. Simpson.
Livros de Paulo Freire para Baixar
1. A Importância do Ato de Ler
2. A Propósito de uma Administração
3. Ação Cultural para a Liberdade
4. Cartas à Guiné-Bissau
5. Educação como Prática da Liberdade
6. Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua
7. Extensão ou Comunicação
8. Medo e Ousadia
9. Pedagogia da Autonomia
10. Pedagogia da Esperança
11. Pedagogia da Indignação
12. Pedagogia: Diálogo e Conflito
13. Pedagogia do Oprimido
14. Política e Educação
15. Por uma Pedagogia da Pergunta
16. Professora Sim, Tia Não
17. Carta de Paulo Freire aos professores
Nenhum comentário:
Postar um comentário