quarta-feira, 1 de setembro de 2021

A HISTÓRIA E O CINEMA

 



O Cinema é comumente conhecido como um meio de entretenimento, mas ele vai muito além disso, é a História contando de um jeito visual acontecimentos do passado ou contemporâneos enquanto traz consigo críticas e reflexões socioculturais. 

A relação entre a História e o Cinema é antiga, estas duas áreas caminham de mãos dadas à décadas, portanto, falar sobre sua interdisciplinaridade é algo bem amplo e possui um leque de opções, podendo abranger tanto os aspectos referentes à História do Cinema de forma cronológica quanto temas históricos abordados nas telas, que será nosso objetivo aqui.


COMO TUDO COMEÇOU?




A Sétima Arte, nome pelo qual também é conhecido o Cinema nos dias de hoje, foi criada em 1895 contando com o primeiro projetor cinematográfico, inventado pelos irmãos Auguste e Louis Lumiére, desde então foi sendo aperfeiçoado e passando por diversas fases, sendo um filho de seu tempo e contexto social.

O Cinema foi criado inicialmente para ser uma forma de entretenimento da população, depois passou a ser comercializado e gerar lucro, posteriormente foi usado como meio de propagação ideológica e alienação das massas e por último, chegou ao posto de Arte, onde está inserida até os dias atuais.

 

O CINEMA NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL




Na Primeira Guerra Mundial, o foco era incentivar o recrutamento de novos soldados e trabalhadores fabris além de utilizar métodos para financiar a indústria bélica. Alguns anos após a invenção do Cinema, em 1914, eclodiu o primeiro grande conflito englobando grande parte das nações ao redor do mundo: A Primeira Guerra Mundial.

 Foi o primeiro conflito a envolver todas as camadas da sociedade, desde mulheres que trabalhavam na indústria bélica -substituindo a mão de obra masculina, que estava na guerra- até cidadãos comuns que financiavam os custos da guerra e Homens de todas as classes e idades nos campos de batalha. Para manter acesa a chama de esperança e nacionalismo em meio ao caos da guerra, foi descoberto um novo meio de alienar e influenciar as massas: O Cinema.

 Este, que em 1914 ainda era uma arte jovem, logo se tornou a ferramenta ideal.

 "A Primeira Guerra Mundial não foi apenas uma guerra sem precedentes em relação ao número de nações e da quantidade de novos equipamentos utilizados, foi também uma guerra de imagens, onde o Cinema, uma mídia relativamente nova, foi utilizado pela primeira vez na história para documentar um conflito em larga escala". Explica Anette Groschke, da Cinemateca Alemã Museu de Cinema e Televisão, em Berlim

 


As produções cinematográficas da 1ª Guerra Mundial se encaixam em um subgênero à parte, denominados de ‘’Filme-batalha’’ estes, eram filmes que relatavam (com filmagens reais ou não) os acontecimentos nos campos de batalha ao restante do povo.

 Todas as nações envolvidas na Guerra utilizaram estas estratégias para influenciar seus residentes, tinham a premissa de querer demonstrar uma superioridade militar em comparação aos seus adversários, muitas vezes difamando-os; arranjar financiadores para a Guerra ou para recrutar simpatizantes para o front ou para atuar como mão de obra nas Indústrias.

Podemos citar o Filme publicitário ‘’ Der feldgraue Groschen’’/’’O campo cinzento de Groshchen’’ (em tradução livre) de 1917, que retrata e impulsiona de forma apelativa uma estratégia utilizada pelo Governo Alemão para angariar fundos para seu país na Guerra. 

O filme fala sobre os ‘’Títulos de Guerra’’, uma estratégia do governo para controlar a inflação neste período. Em suma, o governo investia nas indústrias para produzir mais armamentos e os Títulos de batalha, que eram vendidos nos bancos, serviam para tirar o dinheiro de circulação, fazendo com que os cidadãos os comprassem e retornassem parte do dinheiro para o Estado, causando assim um ciclo de investimentos. O enredo do filme traz a ideia de que toda a nação deve estar unida para a batalha, assim, comprar os Títulos de batalha deve ser dever de todo cidadão.

 Assim como a Alemanha, outros países utilizavam estas estratégias e produziam diversos Filmes e vendiam Títulos de Guerra, como por exemplo: Rússia, Itália, Inglaterra, Austrália e Império Austro-Húngaro.

 Durante a Guerra, além do seu uso ideológico, o Cinema também era usado como meio de distração, principalmente para os militares, os comandantes buscavam proporcionar aos seus soldados formas de entretenimento enquanto eles estavam em seus momentos civis, longe do campo de batalha. Encontraram na Sétima Arte uma válvula de escape que fazia com que, por alguns instantes, esquecessem  suas responsabilidades militares, assim desfrutando com seus amigos e familiares. Estes momentos compensariam pelo menos um pouco da tensão que os soldados passavam diariamente nas trincheiras, assim os revigorando para futuras batalhas.

 


Através dessas informações podemos perceber a vital importância do Cinema no cotidiano neste período correspondente à Primeira Guerra Mundial e como ele interferiu direta ou indiretamente na Guerra. 

Ainda durante a Guerra, muitas produções foram feitas, diversos diretores compravam de cinegrafistas amadores gravações antigas e enviavam seus próprios cinegrafistas para registrar os eventos que aconteciam em tempo real. 

Tais registros serviram como base para reencenações cinematográficas e flashbacks que seriam utilizados nas décadas seguintes, podemos destacar e citar os filmes ‘’Zum Attentat gegen das österreichische Thronfolgerpaar’’/’’Sobre o assassinato do herdeiro Austríaco ao trono’’, de 1914, e ‘’Sajevski atentat’’/’’Atentado de Sarajevo’’, de 1968. 




O primeiro, um curta metragem que contava com filmagens e relatos reais pós assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, já o segundo, um longa metragem, era uma reencenação baseada em filmagens antigas e relatos de perspectivas diferentes.

 

O CINEMA PÓS 1ª GUERRA E A REVOLUÇÃO

 RUSSA




O Cinema pós Primeira Guerra Mundial sofreu grandes impactos e mudanças, as obras cinematográficas mudaram seu teor, foi criado um novo gênero de filme, os ‘’Filmes de Guerra’’ que relatavam os horrores causados durante a guerra. 

Mortes, explosões e os sofrimentos humanos  tomaram espaço nas telas ao redor do mundo. Assim como de forma fictícia foram criados filmes que se passavam em um mundo com o cenário apocalíptico de guerra, podendo envolver desde ficção científica à romance. Fato é que o Cinema nunca mais foi o mesmo. Havia sido corrompido e passara a ser utilizado como uma arma ideológica e de manipulação.



‘’Assim escrevia  Leon Trotski em 1923: ‘’O fato de até agora não termos ainda dominado o cinema prova o quanto somos desastrados e incultos, para não dizer idiotas. O Cinema é um instrumento de propaganda. ‘’Apoderar-se do cinema’’, ‘’Controlá-lo’’, Dominá-lo’’; Essas são expressões encontradas constantemente em Trotski, Lenin e Lunatcharski’’ (FERRO, Marc. 1977 p. 27)

 Em 1917 ocorreu a Revolução Russa e ao mesmo tempo o Cinema germinava na Rússia, ganhando notoriedade e um grande incentivo às artes e produções cinematográficas. 

Vladimir Lênin, atual líder político e principal dirigente do Partido Bolchevique, que estava no poder, dizia que o Cinema era a Arte mais importante para os socialistas. 

Após a 1ª Guerra mundial, a Rússia tomou como exemplo a massiva produção cinematográfica com cunho ideológico da Alemanha e ao longo dos anos seguintes desenvolveu seu próprio modo de fazer Cinema, sendo este, um dos principais auxiliadores na formação cultural da posterior URSS, criada em 1922. 

Segundo o Doutor em Ciências Sociais e Cinema, André Gatti (2018,Em entrevista ao LabjorFAAP), a Rússia pós revolução era um país onde a maioria dos cidadãos não era alfabetizada, eram camponeses e pessoas pouco letradas e Lênin viu o Cinema como um instrumento pedagógico e ideológico para formação cultural daquele povo. Era um Cinema voltado principalmente ao proletariado, muito mais do que uma Arte, era um exercício de cultura e educação.

 Sendo assim, o Cinema soviético nasceu para ser como um meio de dominação das massas, conseguindo unificar as repúblicas integrantes da URSS e plantar os ideais socialistas. 

Pode-se dizer que o Cinema foi estatizado e nacionalizado, portanto, a importação, produção e distribuição de filmes ficava por conta do Estado e qualquer filme voltado ao Indivíduo e não às massas era considerado uma ideia contrarrevolucionária. Entre os anos 1923 e 1930 o Cinema Soviético alcançou seu auge e com poucas produções influenciariam as seguintes décadas com suas novas características estéticas. 

Porém, os soviéticos não contavam apenas com filmes ideológicos, também contaram com produções que retratavam acontecimentos extremamente importantes na História da Rússia e mantinham a chama nacionalista acesa, exaltando a força e o heroísmo do povo russo, produções estas que são consideradas até hoje obras-primas e objetos de estudo da História.

 Podemos citar dois filmes que são essenciais quando falamos sobre o Cinema Soviético e a História Russa, obrigatório para todos aqueles que desejam, por meio do Cinema, tomarem conhecimento deste contexto histórico russo. Ambos os filmes são do diretor ‘’Sergei Eisenstein’’, um dos maiores –se não o maior-  nomes da época. 

O primeiro, ‘’Bronenosets Potyomkin’’/’’O Encouraçado Potemkin’’, de 1925, retrata um episódio real ocorrido na Rússia em 1905. A rebelião e motim dos marinheiros contra as condições inumanas de trabalho durante o governo Czarista. Este acontecimento foi uma das gêneses da posterior Revolução de 1917.




 O segundo, ‘’ Oktyabr/’’Outubro’’, de 1927, foi feito para celebrar os dez anos da Revolução Russa. O filme retrata o momento mais marcante da História Russa, a sua Revolução em 1917, abrangendo todos os acontecimentos deste evento, datados de Abril à Outubro, onde os Bolcheviques finalmente tomaram o controle político e militar da Rússia. O filme é uma exaltação do coletivismo russo e crítica direta ao partido Menchevique.

 


 

 

O CINEMA NAZISTA NA SEGUNDA GUERRA

 MUNDIAL




Serão abordados dois modelos cinematográficos que marcaram a Sétima Arte, o primeiro, o ‘’Cinema Nazista’’, no qual o Hitler utilizou o Cinema como arma ideológica – tal como Lênin, na citada Revolução Russa– para mostrar através de eufemismos sua ideologia ao povo Alemão e o segundo, o ‘’Cinema Antinazista’’, movimento no qual, principalmente os EUA, combateu o Nazismo.

 O cinema foi a principal arma de propagando política dos nazistas para se perpetuarem no poder, era um instrumento importante para criar um pensamento coletivo e obter a confiança e simpatia das massas da população. 

Alguns anos antes da guerra, em 1927 o ‘’Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães’’ passou a controlar o ‘’Universum Film Aktien Gesellschaft ‘’ (UFA), esta, era a rede cinematográfica mais importante da Alemanha.  



Alguns anos mais tarde, em 1933, Hitler ascendeu ao poder, sendo nomeado Chanceler da Alemanha. Uma de suas primeiras ordens como Chanceler foi nomear Joseph Goebbels como Ministro da Propaganda e passar a UFA para as mãos do mesmo, assim, demitindo empregados ‘’não arianos’’, estatizando as outras companhias cinematografias e dando os primeiros passos da ‘’Nazificação’’ alemã.




‘’A arte da propaganda reside justamente na compreensão da mentalidade e dos sentimentos da grande massa. Ela encontra, por forma   psicologicamente certa, o caminho para a atenção e para o coração do  povo.’’ (Adolf Hitler, Mein Kampf – 1927)

 Assim, Goebbels foi uma das peças fundamentais para a propagação da ideologia Nazista, aos poucos foi promovendo seus ideais alcançando as parcelas da população, através de produções cinematografias, rádio, imprensa e teatro, todas possuíam cunho ideológico e todos que eram contra seus ideais eram censurados.

 Fato é que sem toda a mobilidade e o ativismo de Hitler e Goebbels em dominar e expandir os meios midiáticos e de propaganda, o Nazismo não teria se difundido tão profundamente entre as camadas sociais. Era principalmente através do Cinema que o imaginário das massas era influenciado. Ninguém escapava da influência cinematográfica naquela época. Por exemplo, até mesmo as mulheres donas de casa eram alvo, eram produzidos e transmitidos filmes específicos para elas, assim como filmes educativos – com tendências manipulatórias- para os mais jovens. Cada detalhe era meticulosamente planejado por Hitler e Goebbels, foi um projeto grandioso e revolucionário onde até mesmo conceitos como beleza e estética urbana poderiam ser manipulados e facilmente plantados nas mentes da população.




 Outro grande nome e peça fundamental da cinegrafia Nazista na época foi ‘’Leni Riefenstahl’’, além de ser uma das primeiras diretoras femininas do Cinema, foi uma figura de extrema importância para o Terceiro Reich e também para o mundo da sétima arte de um modo geral, responsável por revolucionar o Cinema com suas técnicas de direção. Foi uma grande propagadora do Nazismo e da ideologia de superioridade da raça ariana, sendo assim responsável por parte da construção da figura de Hitler como um líder e exemplo a ser seguido. Sua filmografia conta com obras que exaltavam a figura de Hitler e a superioridade ariana.

‘’Leni Riefenstahl foi um dos maiores gênios do mundo das artes, particularmente da sétima, vulgo Cinema. Bailarina, atriz, produtora, montadora e realizadora, foi e ainda é, goste-se ou não da sua obra, uma das maiores perfeccionistas e inovadoras de todos os tempos. Lamentável e ironicamente, o talento marcou-lhe o destino. (...). Passou à história como Leni Riefenstahl, mais conhecida como a realizadora do Hitler, estigma que nunca mais a largou (...)’’ (PEREIRA, 2016).

 

Dentre as várias obras da época podemos destacar dois filmes, com finalidades diferentes: 

O primeiro, ‘’Triumph des Willens’’/’’Triunfo da Vontade’’, de 1935, dirigido por Leni Riefenstahl , é considerado o filme mais famoso de propaganda Nazista na história do Cinema e uma grande fonte histórica até os dias de hoje. O filme retrata o sexto congresso do Partido Nazista, em Nuremberg no ano de 1934, com imagens de soldados marchando e trechos de discursos de Hitler. É mostrado ao telespectador pessoas sorridentes e o grande poder influenciador de Hitler, onde o mesmo é mostrado sendo adorado pelas massas como uma divindade. 




O segundo, ‘’ Jud Süß’’/’’O Judeus Süss’’, de 1940, dirigido por Veit Harlan, diretor ‘’protegido’’ de Goebbels –este, que supervisionou toda a produção do filme–, assim possuindo financiamento pelo ministério da propaganda para a realizar o filme. 

É um dos muitos filmes que retrata, de maneira chocante e horripilante, a ideia antissemita do nazismo, fazendo com que os alemães alimentem uma imagem negativa e destilem ódio aos Judeus. 




Um filme famoso por sua importância história que nos mostra a visão estereotipada dos nazistas, adjetivos como ‘’sujos’’, ‘’traiçoeiros’’, ‘’manipuladores’’ e ‘’enganadores’’ são sutilmente mostrados ao longo da trama. O enredo do filme conta a história biográfica –de forma deturpada– de ‘’Joseph Süß Oppenheimer’’ que é retratado como um Judeu criminoso que após ser nomeado tesoureiro de um Duque, foi corrompido por sua busca de dinheiro e poder. O filme ganhou uma sequência/refilmagem, em 2010, chamado de ‘’Jud Süss - Film ohne Gewissen’’/’’Judeu Süss: Ascensão e Queda’’            

 

O CINEMA ANTINAZISTA




Será abordado adiante um outro lado do Cinema na Segunda Guerra Mundial, oposto ao alemão, criado como uma medida de agir contra a investida cinematográfica nazista, o Cinema Antinazista. 

Este, começou antes mesmo da eclosão da guerra, onde já se ‘’profetizava’' sobre o perigo que o Nazismo poderia vir causar ao mundo. Podemos perceber neste ponto do estudo como o Cinema pode ser subjetivo, variando muito do ponto de vista que o diretor deseja abordar e transmitir à quem assiste. 

Na Alemanha, foram produzidos filmes exaltando a figura de Hitler e dos ideais nazistas, já nos países Aliados e principalmente nos Estados Unidos, foram produzidos filmes com duras críticas e repúdio ao regime.

 Nos filmes estadunidenses muitos dos roteiros da época foram adaptados para colocar no papel de antagonistas os inimigos integrantes do Eixo: alemães, italianos e japoneses. Eram retratados como verdadeiros vilões desprovidos de sentimentos humanos e escrúpulos. 

Há uma explicação essencial para tais atitudes dos cineastas estadunidenses neste contexto de Segunda Guerra, grande parte deles eram alemães refugiados ou Judeus, dois grupos que sofreram pelas mãos do nazismo e encontraram abrigo em solo americano. 

Estes cineastas começaram com o movimento do cinema Antinazista fazendo com que ao longo dos anos ele fosse ganhando força e tamanho. 

A seguir, serão citadas algumas das obras que marcaram o gênero de filmes antinazistas e são de grande importância histórica, algumas consideradas até hoje obras primas da Sétima Arte.

 Começando pelo filme  considerado o primeiro da história a fazer uma propaganda antinazista: ‘’Hitler's reign of terror’’/’’O reinado de terror de Hitler’’ que foi lançado em 1934, antes mesmo da guerra de fato começar. É um filme independente que conta –ao mesmo tempo em que faz duras críticas- as ações de Hitler contra os Judeus. 

O filme é considerado uma raridade histórica pois são gravações reais de quando Hitler foi eleito. Esteve perdido durante décadas até ter sua única cópia restante encontrada nos arquivos da ‘’Cinémathèque Royale de Belgique’’ (Cinemateca da Bélgica) e ser restaurado.

 



‘’ The Great Dictator’’/’’O Grande Ditador’’ de 1940, foi um filme produzido antes mesmo dos EUA ingressarem na Segunda Guerra, é considerada uma das maiores obras de Charlie Chaplin e um dos filmes antinazistas mais influentes e relevantes. 

Foi uma comédia satírica, bastante ousada para o contexto mundial. Por mais que o gênero tivesse o foco em divertir o telespectador, o filme buscava ao mesmo tempo se posicionar e fazer críticas políticas sobre o Terceiro Reich e ao seu líder. 

O filme se passa no país fictício de ‘’Tomânia’’ onde o antagonista do filme - que fazia uma alusão à Hitler - se tornou um ditador e começou sua perseguição aos Judeus com o apoio de seus ministros e simpatizantes. Já o protagonista, era um Judeu, ex militar e dono de uma barbearia. 

A grande ironia é que ele era visualmente semelhante ao atual ditador do país, ocasionando diversas situações onde foi confundido com o vilão do filme. 

No fim do filme, o ditador é preso sendo confundido com o barbeiro Judeu, enquanto isso, o Judeu é levado à um palanque que estava aguardando por um discurso do ditador. 

Neste momento, temos um dos trechos mais brilhantes de todo o Cinema e peça chave do filme, o discurso ia contrapartida a tudo que o personagem inspirado em Hitler falaria, foi um discurso contra os regimes totalitários, buscando a promoção da paz, liberdade e solidariedade de toda a raça humana.

 ‘’Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, gentios, negros e brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.’’ (THE GREAT DICTATOR, 1940)

 

Até mesmo o estúdio ‘’Walt Disney’’, conhecido mundialmente por suas animações e comédias voltada para o público jovem, aderiu ao modelo satírico-crítico e ousou em suas produções, introduzindo o pensamento antinazista em suas obras e personagens à pedido do Governo. (Destaque à animação de 1943 ‘’Education for Death:The Making of the Nazi’’/ Aprendizado para a Morte’’, onde mostra o processo doutrinatório de Nazificação na vida de uma criança, que cresce louvando Hitler e sendo exposta ao ódio, se tornando uma máquina pronta para matar se necessário)

Além de comédias e animações, a filmografia correspondente ao Cinema Antinazista é bastante extensa. Diversos filmes foram feitos durante a participação dos EUA na Guerra, sendo assim, tais filmes possuíam cenários e enredos envoltos à Guerra, geralmente estes filmes possuíam o mesmo modelo de produção e eram pertencentes ao gênero dramático com histórias românticas, podemos citar: ‘’Since You Went Away ‘’/’’Desde que partiste’’ (1942), ‘’Mrs. Miniver ‘’/‘’Rosa da Esperança’’ (1942) e ‘’ This Is the Army ‘’/‘’Forja de Heróis’’ (1943).

 


Porém, o grande destaque do gênero é ‘’Casablanca’’ de 1942, considerado uma das maiores obras da Sétima Arte. O filme gira em torno de uma narrativa dramática focada em um romance entre os protagonistas. 

É uma história fictícia, porém com acontecimentos que eram influenciados pelo contexto caótico de Guerra que o mundo vivia, gerando consequências diretas à trama; resumidamente, a trama se passava na cidade marroquina Casablanca, local que era utilizado por muitos fugitivos como rota para escapar dos nazistas. 

O protagonista, Rick, era um refugiado americano dono de uma casa noturna que ajudava refugiados a conseguirem suas fugas. Certo dia um casal vai à seu encontro para pedir ajuda em sua fuga para Portugal. 

A mulher, Isla, era uma antiga amante de Rick, o homem, era um dos líderes da resistência Tcheca. Ao longo da trama acompanhamos Rick em suas tentativas de despistar os nazistas e de reconquistar seu antigo amor. No filme, podemos observar os diferentes modos nos quais as pessoas lutavam em prol uma das outras para sobreviverem ao regime nazista, reforçando uma ideia coletivista, mesmo em meio às dificuldades e perseguições.

 


Com o passar dos anos, o cinema se tornou uma grande fonte de lucro, assim, o gênero de filmes de guerra e o subgênero antinazista foram se tornando extremamente populares, contando com filmes que retratavam, também, a Segunda Guerra de modo mais amplo, com seus variados acontecimentos simultâneos ao redor do mundo, mas nunca deixando seu legado antinazista para trás, principalmente para que seja perpetuado na memória coletiva das novas gerações os acontecimentos causados pela Alemanha de Hitler e jamais sejam repetidas tais atrocidades. 

Nas décadas seguintes pós guerra, contamos com incontáveis filmes focados no conflito e suas ramificações. Mais adiante serão citados os mais notáveis, contando diferentes acontecimentos.



 Começando por, ‘’Pearl Harbor’’ (2001), filme biográfico de guerra que retrata fielmente o ataque à base americana de Pearl Harbor e resultando na entrada dos EUA à Segunda Guerra Mundial.

 ‘’Der Untergang’’/’’A Queda’’ (2008), um filme a ser considerado uma aula de História em Tela, retrata os últimos dias de Hitler e seus subordinados enquanto se escondiam em um abrigo subterrâneo em Berlim durante a época em que a cidade fora tomada pelos soviéticos. 




A história nos é contada sob a perspectiva da secretária particular de Hitler, Traudl Junge, contando com depoimentos da mesma; ‘’ Enemy at the Gates’’/’’Círculo de Fogo’’(2001), filme franco-estadunidense que retrata do ponto de vista soviético a sangrenta batalha ocorrida em 1942, onde os soldados nazistas tentavam invadir a cidade Russa de Stalingrado, historicamente considerada a primeira derrota alemã na guerra. 



A trama principal é focada em um duelo entre dois grandes atiradores de elite da Segunda Guerra, Vassili Zaitsev,  pertencente ao lado soviético e o outro, Erwin König, do lado nazista. O filme aborda como a vitória do exército vermelho foi um fator importante para o rumo da guerra.

 ‘’Estrada 47’’ (2015), filme baseado em fatos reais que relatam a participação do Brasil na guerra, em 1941, enviando seus 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira para agir contra os nazistas alemães e fascistas italianos; por último, mas não menos importante temos filmes que contam o maior horror do século XX e um dos maiores na história da humanidade: O Holocausto. 




O genocídio em massa de Judeus e outras classes marginalizadas nos Campos de Concentração. Este é o tema mais aclamado entre as produções cinematográficas e também o mais chocante, possuindo grandes informações históricas que nos permitem tomar ciência do que se passava por dentro destes campos. 




Filmes como ‘’La vita è bella’’/’’A vida é bela’’ (1997), ‘’Playing for Time’’/’’A Amarga Sinfonia de Auschwitz'’ (1980), ‘’Olga’’ (2004), ‘’Schindler list’’/’’ A Lista de Schindler’’ (1993) e ‘’The Boy in the Striped Pajamas’’/’’O Menino do Pijama Listrado’’ (2008) são produções brilhantes de grande importância didática e histórica que transmitem ao telespectador parte da rotina desumana e mortes à sangue frio às quais os prisioneiros eram submetidos pelas mãos dos soldados nazistas.




 

O CINEMA E A GUERRA FRIA


Após a Segunda Guerra mundial, o mundo sofreu uma grande bipolarização, entrando em uma guerra política, econômica e ideológica. Duas nações foram extremamente importantes na guerra e após a mesma se tornaram potências mundiais a terem seus modelos econômicos seguidos. 

Os EUA, lideravam o bloco capitalista (Lado Ocidental) e a URSS liderava o bloco comunista (Lado Oriental). Foi um período onde não ocorreram confrontos diretos, as disputas se davam principalmente por meios de propaganda e posicionamentos políticos. Ambas as nações tinham o objetivo de estender sua influência à nível global entre todas as nações. 

Também se criaram blocos de aliança político-militares, a OTAN, composta pelos EUA e seus aliados e o Pacto de Varsóvia, composta pela URSS e seus aliados.

 Com a chegada da Guerra Fria, os EUA viram em seu cinema um meio de espalhar seus ideais para o mundo através de filmes que reforçavam o modo de vida americano, seu nacionalismo e é claro, seu posicionamento anticomunista. Alguns filmes americanos retratavam o momento em que o mundo vivia, trazendo consigo críticas, mensagens anticomunistas. 

Tal como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial com os nazistas, os inimigos americanos eram desmoralizados, vistos como vilões a serem combatidos. 

Foi um período em que cineastas espalhavam o medo através de seus filmes, implantavam seus ideais e criavam uma noção no imaginário coletivo de um novo inimigo a ser combativo, mostravam nos filmes uma ameaça comunista assolando o mundo, alertas de uma iminente terceira guerra mundial ou guerra nuclear, indícios de que espiões soviéticos estavam infiltrados em seu país e muito mais, ao mesmo tempo em que fomentavam o combate à esses inimigos e reforçavam seu nacionalismo e heróis nacionais. Uma espécie de propaganda e contrapropaganda política.

 

A Guerra Fria abrange um período de quatro décadas no século XX, começando em 1945 ao fim da Segunda Guerra Mundial e terminando em 1991 com o fim da URSS. 

Portanto, é um longo período com centenas de produções cinematográficas, contando também as guerras secundárias neste período. Citaremos algumas: Começando por um filme noir (subgênero de filmes policiais com toques de drama, geralmente. Chamado assim por sua técnica de coloração preta e branca, inspirada no expressionismo alemão) famoso na época

 

‘’Pickup on South Street’’/’’Anjo do Mal’’ (1953), conta a história de um batedor de carteiras chamado Skip que rouba a carteira e os pertences de uma mulher que estava em sua frente no vagão do metrô. 

Por infelicidade do destino, esta mulher era uma agente comunista infiltrada que carregava em seus pertences um microfilme americano confidencial e estava sendo seguido por agentes do FBI que se encontravam no mesmo vagão de metrô e presenciaram todo o furto. Skip então passa a ser procurado pelos agentes, suspeito de também ser um agente infiltrado.

‘’Dr. Strangelove’’/’’Dr. Fantástico’’ (1964), um dos maiores clássicos do cinema é um filme satírico que faz duras críticas ao militarismo americano no período da Guerra Fria, tratando todo discurso acerca da ameaça comunista uma histeria coletiva. 

A obra conta a história um general louco que, acreditando em uma conspiração comunista, dá ordens para que a Rússia seja bombardeada, causando uma iminente Guerra Nuclear, porém, o presidente dos EUA ao saber do ocorrido tenta a todo tempo parar o processo. 

O filme também conta com personagens militares retratados ironicamente e estereotipados de forma crítica. Ao fim do filme, presenciamos a bomba sendo lançada, dizimando parte da população mundial e uma resposta da URSS ao ataque, lançando com um gás que cobrirá toda a Terra em uma nuvem radioativa durante 90 anos. 

Mais do que uma obra ficcional, era um presságio do que poderia resultar esta nova guerra; ‘’ Thirteen Days’’/ 13 Dias Que Abalaram o Mundo’’ (2000) O filme retrata a ‘’Crise dos mísseis de Cuba’’, um confronto político-ideológico real que durou 13 dias entre os EUA e a URSS, debatendo sobre a implementação de mísseis em Cuba, marcando a corrida armamentista. 



É mostrado ao telespectador um avião U-2 que fazia uma vigilância rotineira tirando fotos que revelam os planos soviéticos de colocar uma plataforma de lançamento de mísseis nucleares em Cuba. A partir de então acompanha-se os planos do então presidente John F. Kennedy para evitar a construção dessa plataforma. 

O perigo de uma guerra nuclear nunca havia sido tão real e durante 13 dias o governo americano se reuniu na Casa Branca para encontrar soluções para a situação. 

Após tensas negociações acordos foram feitos, a base foi desfeita e as armas foram retiradas de Cuba; ’’Good Bye, Lenin!’’/ Adeus, Lenin!’’ (2003) Este filme não relata a Guerra Fria em si mas sim o fim dela e o desmantelamento da URSS. Vemos também um dos eventos mais importantes neste o fim de guerra, a queda do Muro de Berlim. 




 

A história retrata a vida de uma mulher que entrou em coma durante a Guerra Fria e só acordou após seu fim. Após esta mulher acordar do coma, seu filho recebe do médico que acompanhou sua mãe uma advertência: a mulher não poderia passar por muitas emoções. 

O filho então decide não contar à sua mãe sobre a queda do Muro de Berlim nem sobre o fim do regime soviético –que sua mãe tanto apoiava- e a vitória do Capitalismo. 

Assim, para que sua mãe viva em uma ilusória Alemanha Socialista o filho modifica embalagens de produtos industrializados e modifica jornais e cria documentários para evitar a exposição ao recente modelo capitalista no país. 

O filme nos mostra um pouco como ficaram os países que seguiam o modelo econômico da URSS após o seu fim, a derrota do socialismo e as mudanças que o capitalismo trouxe consigo para o mundo.

 

O CINEMA CONTEMPORÂNEO E A 

REPRESENTATIVIDADE




Após analisarmos a trajetória do Cinema ao longo dos grandes acontecimentos históricos no século XX, finalmente chegamos ao Cinema Contemporâneo

Uma indústria totalmente remodelada e com finalidades diferentes das que estávamos acostumados a presenciar nos períodos de Guerra e revoluções. Tomemos como exemplo a Alemanha pós queda do muro de Berlim, o cinema alemão (com grande influência americana) deixou seus traços ideológicos para trás e se tornou um ‘’cinema popular’’ com uma nova leva de cineastas focados em fazer filmes lucrativos e que interessem a população. 

Não foi diferente no resto do mundo, os EUA após sua ‘’vitória’’ na Guerra Fria trouxeram ao mundo um novo modelo de cinematografia, o Cinema voltado para ser definitivamente uma Arte e não uma arma ideológica, ao mesmo tempo em que se tornaria um produto comercial (e cultural) gerador de lucro.

Com o avanço da tecnologia o cinema foi se expandindo, cada vez mais salas de cinema foram criadas ao redor do mundo, efeitos criados no computador melhorando o audiovisual, evolução do cinema 3D, célebres cerimônias como o Oscar e o Festival de Cannes se tornaram eventos transmitidos e repercutidos à nível mundial, serviços de streaming, vide Netflix




Tudo isto em conjunto serviu para movimentar a indústria e enriquecê-la, fazendo com que o Cinema lucre bilhões todos os anos.

Estas informações nos mostram como o Cinema evolui ao longo dos anos e nunca fica estagnado. De fato é um Cinema totalmente diferente do que tínhamos no século XX, mais leve, descontraído, didático, inclusivo, crítico e representativo. 

Assim como a História, podemos dizer que o Cinema é filho de seu tempo, portanto, ele se adaptou às necessidades e aos desejos de quem o assiste. Foram criados novos gêneros de filmes, novos personagens simbólicos, novas opções e lugares para se assistir as obras, novas técnicas de direção ... mas, apesar de tantas mudanças, o Cinema não perdeu sua essência, ainda traz consigo reflexões socioculturais, mesmo que de maneira sutil. 

Um filme nunca é só um filme, ele é um estudo e uma contra-análise de todo o contexto social no qual está inserido.

 Nos tempos atuais, assuntos como racismo, machismo e desigualdade infelizmente ainda são recorrentes. Por mais que tenhamos evoluído nas áreas referentes à tecnologia, ainda temos muito a evoluir na área humanitária. 

É um longo processo, porém, o Cinema nos auxilia abordando estes temas de maneira crítica e se perpetuando no imaginário social, incitando mudanças no modo de como enxergamos o mundo ao nosso redor. Sendo assim, o Cinema é para todos, sendo de livre acesso muitas vezes sendo utilizado como método didático-pedagógico em escolas e palestras.

 Acerca da sociedade, contamos com diversos tipos de filmes: os que relatam movimentos sociais, raciais e sufragistas do passado, os que analisam problemas do presente e os que empoderam grupos sociais de maneira representativa, dando protagonismo e voz àqueles que são marginalizados e silenciados, atuando no imaginário. Serão citados alguns filmes e suas finalidades  sociais.

 


Filmes que relatam movimentos sociais:‘’Suffragette’’/ ‘’As Sufragistas’’ (2015)  é um filme que se passa em 1912, na Inglaterra. Acompanhamos a resistência das mulheres inglesas que eram submetidas à explorações nas fábricas onde trabalhavam e também a trajetória deste grupo em busca de independência materna, direito ao voto e principalmente respeito. 

Após tentativas falhas de uma revolução pacífica, as sufragistas percebem que o único jeito de terem suas vozes ouvidas seria através da desobediência civil. Após muitas batalhas e sacrifícios, o direito de votar foi –parcialmente- concedido no ano de 1925. 

Esta obra é uma mensagem à todas as mulheres que assistem este filme, mostra por que o feminismo e a militância se tornam tão necessárias, relatando às atuais gerações a primeira onda feminista em que os feitos ecoaram nas gerações futuras e se perpetuaram até os dias de hoje.



 ‘’The Black Panthers: Vanguard of the Revolution’’/’’Os Panteras Negras: Vanguarda da Revolução’’(2015). É um filme documentário que reúne fotografias, cenas históricas e depoimentos dos Panteras Negras, grupo político, revolucionário e de resistência urbana que atuou nos EUA durante a década de 60. Ao longo do documentário presenciamos as diversas repressões que este grupo sofreu pelas mãos do governo e também suas conquistas e feitos. 

É um filme essencial para compreender a história e importância deste movimento racial que foi responsável por trazer de volta o orgulho negro. 

Filmes que analisam e retratam problemas do presente: ‘’Get out!’’/’’Corra!’’ (2017) é um filme que mescla elementos de ficção, suspense e terror que aborda de maneira corajosa o racismo velado nos dias atuais. 



Corra! conta a história de Chris, um fotógrafo negro que vai passar o fim de semana na casa dos pais de sua namorada branca. Toda a história gira em torno do racismo ao qual o personagem é submetido ao longo da trama. Começando de maneira sutil até ser exposto totalmente. 

O filme cria um ambiente desconfortável deixando nítida a tensão no ar. Por baixo de diversos acontecimentos ficcionais, simbolismos e estereótipos a mensagem que o filme deixa a quem o assiste é de como o Negro ainda é retratado e visto nos dias de hoje, como um escravo, um corpo hiper sexualizado, um meliante aos olhos da polícia, um animal a ser capturado e abatido. 

Um filme desconfortante por conter situações tão reais que parecem ser tiradas de uma ficção;

‘’ The Mask You Live In’’/ ‘’A Máscara em que Você vive’’ (2015) 



É um filme documentário que retrata de maneira brilhante um grande problema na vida dos homens: o Machismo. Ao longo do documentário são expostos diversos casos e relatos de como o machismo é algo quase que intrínseco à figura masculina e como esta ideia é muitas vezes criada em um âmbito familiar, na infância. 

Criando assim uma máscara que força os homens a reprimirem e esconderem seus sentimentos desde cedo, trazendo problemas ao longo das etapas de suas vidas, criando traumas, distúrbios e interferindo em suas interações sociais. Vemos como ‘’meninos machucados tornam-se homens machucados’’ e como o machismo é muitas vezes responsável por fomentar a agressividade e a objetificação da mulher na adolescência e na vida adulta;

‘’Cidade de Deus’’ (2002) : Trazendo para o cenário socioeconômico e cultural brasileiro, temos o renomado filme Cidade de Deus que aborda dois grandes problemas de nosso País, a desigualdade e o crime. Somos apresentados ao protagonista ‘’Buscapé’’, ainda em sua infância em uma periferia carioca e acompanhamos seu crescimento. 




No filme acompanhamos Buscapé no cenário caótico da Cidade de Deus se tornando um fotógrafo mesmo com tantas propostas e oportunidades para entrar para o crime, ao mesmo tempo em que vê amigos de infância tomando rumos opostos aos seus e entrando para o tráfico devido à falta de oportunidades na vida. No filme vemos temas como a marginalização do pobre, o incentivo que as crianças têm para entrarem na vida do crime e as condições precárias em que os moradores da periferia vivem. Retratos tristes, porém realistas de grande parte de nossa sociedade.


FILMES DE EMPODERAMENTO E 

REPRESENTATIVIDADE

Aqui abordaremos um gênero pouco citado, porém bastante válido nesta análise e que vêm ganhando notoriedade com o passar do tempo: Os filmes de Super-Heróis. 

Estes, são filmes que colocam como protagonistas personagens que seriam pouco ou talvez nem mesmo utilizados em filmes padrões (geralmente, com homens brancos protagonizando), dando destaque a eles e fazendo com que aquele que assista, se sinta representado. 

Como vêm acontecendo na leva recente de filmes do gênero, super heróis negros e super heroínas sendo utilizados como protagonistas, reverberando no imaginário principalmente de crianças e jovens. O gênero ainda têm muito para evoluir nas questões representativas, porém já caminha a passos largos para o futuro. Assim é o trabalho da empresa ‘’Marvel’' com seu universo cinematográfico, responsável por possuir a maioria dos filmes e heróis que conhecemos.

 


Podemos citar o recente filme ‘’Black Panther’’/‘’Pantera Negra’’ (personagem criado para o mundo dos quadrinhos nos anos 60, inspirado pelo movimento racial dos Panteras Negras), de 2018, que vai muito além de um filme de Super Herói. 

É uma aula de história sobre a matriz africana. O filme é ambientado no país fictício de Wakanda e é repleto de referências históricas e culturais do continente, desde trilhas sonoras remetendo a sons tribais às peças de vestuário. 

É o primeiro filme individual de um Herói negro nos cinemas, é um grito de resistência e representatividade negra, contando com um elenco em que quase todos os seus integrantes são negros e ocupam papéis de destaque. É um filme que levou multidões ao cinema, crianças e jovens que pela primeira vez se sentiram representados na pele de um herói e não negativamente através de estereótipos.

 Há também no Universo Cinematográfico Marvel um grande coletivo de heroínas que vêm sendo exploradas nas produções, são personagens que quebram os padrões do ‘’sexo frágil’’ e trazem consigo empoderamento e representatividade para as mulheres que assistem aos filmes. 



Temos o recente filme ‘’ Captain Marvel’’/’’Capitã Marvel’’ (2019) onde é apresentado ao público o ser mais poderoso do universo ficcional Marvel... e é uma mulher! Utilizando todo seu poder sem perder sua feminilidade e mostrando que a mulher no cinema não precisa ser sexualizada para ser bem explorada e protagonizar um filme, a personagem traz consigo toda a mensagem do feminismo atual sem mesmo precisar utilizar esta palavra. É um filme importante, necessário, que quebra paradigmas e dá espaço ao sexo feminino.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos compreender a importância do Cinema para a sociedade. Vimos como ele foi peça-chave  em diversos acontecimentos e eventos mundiais ao longo do século XX e como nos dias atuais continua a exercer um papel fundamental para análise do mundo, caminhando de mãos dadas com a História e outras áreas das ciências humanas como a Política, Filosofia e Sociologia.

Podemos ver como o Cinema de modo geral ainda dá mais voz e espaço ao Homem Branco, seja atuando ou dirigindo os filmes. Aos poucos, com atuais produções representativas esta diferença vem diminuindo, mas ainda é um longo trajeto a ser percorrido. 

Comparando com as mulheres, vemos os homens protagonizando e dominando os filmes, possuindo muito mais tempo em cena e oportunidades de dialogar, além de terem uma vida mais longa na indústria cinematográfica. Quanto mais velhas as mulheres vão ficando, menos são as propostas de trabalho e vão sendo substituídas por mulheres mais jovens (acontecimento que ressalta a sexualização da mulher). Comparando com os negros, tantos os homens quanto as mulheres brancas possuem mais oportunidades de trabalho, seja atuando ou dirigindo. A desigualdade racial e o racismo velado na sociedade são raízes difíceis de serem cortadas.

Espero que esta postagem possa acrescentar à vida todo aquele que o leia, trazendo consigo reflexões pessoais e incitando  novas pesquisas relacionando a História e as ciências humanas com o Cinema e outras artes. A Sétima Arte especificamente, nos dá um grande leque de possibilidades e abordagens, portanto, pode e deve ser propagada e utilizada como método didático principalmente por aqueles que compõem o magistério.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DUTRA, Eliane Aparecida. Cinema: ferramenta de conhecimento cultural ou massificação e alienação. Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.

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MARTINS, Sheila Peil. O Cinema e a Sociedade: Um caso de Amor. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2014.

NICOLAU, Luan Santos. História do uso do Cinema como ferramenta de propaganda política durante a II Guerra Mundial. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017.

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Referências Cinematográficas: Der feldgraue Groschen (1917)

Zum Attentat gegen das österreichische Thronfolgerpaar (1914)

Sajevski atentat (1968)

Bronenosets Potyomkin (1925)

Oktyabr (1927)

Triumph des Willens (1935)

Jud Süß (1940)

Hitler's reign of terror (1934)

The Great Dictator (1940)

Education for Death:The Making of the Nazi (1943)

Since You Went Away (1942),

Mrs. Miniver (1942)

This Is the Army (1943).

Pearl Harbor (2001),

Der Untergang (2008),

Enemy at the Gates (2001)

Estrada 47 (2015),

La vita è bella (1997)

Playing for Time (1980),

Olga (2004)

Schindler list (1993)

The Boy in the Striped Pajamas (2008)

Pickup on South Street (1953)

Dr. Strangelove (1964),

Thirteen Days (2000)

Good Bye, Lenin! (2003)

Suffragette (2015)

The Black Panthers: Vanguard of the Revolution (2015)

Get out! (2017)

The Mask You Live In (2015)

Cidade de Deus (2002)

Black Panther ( 2018)

Captain Marvel (2019)

Texto adaptado de  Vitor Amoroso

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