quarta-feira, 4 de julho de 2012

BREVE HISTÓRIA DO MACHISMO





Em 1891, Lord Henry, personagem do Oscar Wilde em The picture of Dorian Gray, dizia: "Meu caro rapaz, nenhuma mulher é um gênio. As mulheres são um sexo decorativo. Elas nunca têm nada a dizer, mas o dizem de forma encantadora. Elas representam o triunfo da matéria sobre a mente, assim como nós, homens, representamos o triunfo da mente sobre a moral."


Mais de cem anos se passaram e, nesta época e lugar onde a televisão tem substituído o papel para falar às massas, os comerciais de importantes itens de consumo, como o automóvel e a cerveja, expressam o mesmo valor ideológico reservado às mulheres que aquele esboçado por um comentário machista – ainda que caricato e satírico – pertencente ao final do século 19.



Breve história do machismo
Jornal da Tarde, 16 de agosto de 2001

As mulheres sempre foram exploradas pelos homens. Se há uma verdade que ninguém põe em dúvida, é essa. Dos solenes auditórios de Oxford ao programa do Faustão, do Collège de France à Banda de Ipanema, o mundo reafirma essa certeza, talvez a mais inquestionada que já passou pelo cérebro humano, se é que realmente passou por lá e não saiu direto dos úteros para as teses acadêmicas.
Não desejando me opor a tão augusta unanimidade, proponho-me aqui arrolar alguns fatos que podem reforçar, nos crentes de todos os sexos existentes e por inventar, seu sentimento de ódio ao macho heterossexual adulto, esse tipo execrável que nenhum sujeito a quem tenha acontecido a desventura de nascer no sexo masculino quer ser quando crescer.
Nosso relato começa na aurora dos tempos, em algum momento impreciso entre Neanderthal e Cro-Magnon. Nessas eras sombrias, começou a exploração da mulher. Eram tempos duros. Vivendo em tocas, as comunidades humanas eram constantemente assoladas pelos ataques das feras. Os machos, aproveitando-se de suas prerrogativas de classe dominante, logo trataram de assegurar para si os lugares mais confortáveis e seguros da ordem social: ficavam no interior das cavernas, os safados, fazendo comida para os bebês e penteando os cabelos, enquanto as pobres fêmeas, armadas tão-somente de porretes, saíam para enfrentar leões e ursos.
Quando a economia de coleta foi substituída pela agricultura e pela pecuária, novamente os homens deram uma de espertinhos, atribuindo às mulheres as tarefas mais pesadas, como a de carregar as pedras, domar os cavalos, abrir sulcos na terra com o arado, enquanto eles, os folgadinhos, ficavam em casa pintando potes e brincando de tecelagem. Coisa revoltante.
Quando os grandes impérios da antiguidade se dissolveram, cedendo lugar aos feudos perpetuamente em guerra uns com os outros, estes logo constituíram seus exércitos particulares, formados inteiramente de mulheres, enquanto os homens se abrigavam nos castelos e ali ficavam no bem-bom, curtindo os poemas que as guerreiras, nos intervalos dos combates, compunham em louvor de seus encantos varonis.
Quando alguém teve a extravagante ideia de cristianizar o mundo, tornando-se necessário para tanto enviar missionários a toda parte, onde arriscavam ser empalados pelos infiéis, esfaqueados pelos salteadores de estradas ou trucidados pelo auditório entediado com os seus sermões, foi novamente sobre as mulheres que recaiu o pesado encargo, enquanto os machos ficavam maquiavelicamente fazendo novenas ante os altares domésticos.
Idêntica exploração sofreram as infelizes por ocasião das cruzadas, onde, armadas de pesadíssimas armaduras, atravessaram os desertos para ser passadas a fio d'espada pelos mouros (ou antes, pelas mouras, já que o machismo dos sequazes de Maomé não era menor que o nosso). E as grandes navegações, então! Em demanda de ouro e diamantes para adornar os ociosos machos, bravas navegantes atravessavam os sete mares e davam combate a ferozes indígenas que, quando as comiam, – era porca miséria! – no sentido estritamente gastronômico da palavra.
Finalmente, quando o Estado moderno instituiu o recrutamento militar obrigatório, foi de mulheres que se formaram os exércitos estatais, com pena de guilhotina para as fujonas e recalcitrantes, tudo para que os homens pudessem ficar em casa lendo A Princesa de Clèves.
Há milênios, em suma, as mulheres morrem nos campos de batalha, carregam pedras, erguem edifícios, lutam com as feras, atravessam desertos, mares e florestas, sacrificando tudo por nós, os ociosos machos, aos quais não sobra nenhum desafio mais perigoso que o de sujar nossas mãozinhas nas fraldas dos nossos bebês.
Em troca do sacrifício de suas vidas, nossas heróicas defensoras não têm exigido de nós senão o direito de falar grosso em casa, de furar umas toalhas de mesa com pontas de cigarros e, eventualmente, de largar um par de meias no meio da sala para a gente catar.

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LUTA CONTRA O MACHISMO



“A luta contra o machismo está intrinsecamente relacionada à luta contra a repressão sexual porque o machismo se define a partir de uma moral repressora da sexualidade espontânea. No machismo arcaico, rudimentar, passado, pré feminista, encontramos a mulher obrigada a permanecer virgem até o casamento e depois casada por imposição com um homem a quem deveria ser fiel. A possibilidade de encontrar plenitude e satisfação afetiva sexual, dentro das restritas opções que tal quadro impunha, eram mínimas. Questão de loteria: casar sem ter tido a possibilidade de conhecer outras pessoas, sem experiência sexual, com alguém que não se escolheu e obrigada a permanecer nesse lugar, sem possibilidade de segunda chance.

A tensão entre moralismo repressor da livre sexualidade e a expressão da mulher é bem expressa na questão das roupas. A minissaia, o decote, a roupa colante, que valoriza o corpo. A mulher se veste como quem diz aos homens: corpo existe, desejo existe. Os homens se vestem quase sempre como robôs. Principalmente o homem capitalista neoliberal, o “homem de negócios”. As roupas dos homens geralmente os tornam mais retos, quadrados, escondem suas curvas. O papel clássico do homem dentro do regime de criação machista é o de repressor da sexualidade das mulheres.
Tudo isso mudou muito com a revolução feminista do século passado – uma revolução sexual, assim como a ancestral revolução de costumes que nos humanizou. A continuidade dessa revolução no início deste século representa a luta pela retomada do processo de humanização, rumo a uma sociedade onde seja possível resgatar a plena capacidade de amar do ser humano. Falar hoje em revolução sexual significa falar em revolução amorosa, para o amor, pró-amor, no sentido de promover criação, educação e ambiente social que facilite e incentive as trocas amorosas em todos as esferas relacionais.” Fabio Veronesi






No que se refere a Era Industrial, o machismo predominou e ainda predomina nos comerciais. 

VEJA ABAIXO IMAGENS DE COMERCIAIS MACHISTAS


É assim que os fazedores de comerciais desenvolvem estas ideias de que mulheres (mulheres de verdade) devem fazer dieta, gostar de shopping, usar rosa, ser delicadas e sentimentais, etc, etc. O senso comum é necessário pra manutenção da ordem vigente, que é totalmente conveniente para as empresas, porque assim, não é preciso criar nada novo, só fazer reformas. Pega aquela propaganda do século retrasado, sacode a poeira, diminui a roupa da modelo e diz que é algo totalmente inédito.




Propagandas de eletrodomésticos, produtos de limpeza, roupas e maquiagem são coisas de mulher. Porque um publicitário tem em seu gene a certeza absoluta de que mulheres nasceram pré-determinadas a desempenhar um papel em nossa sociedade. Geralmente subalterno, de enfeite, como um mero objeto pra servir aos desejos mais íntimos dos homens.













LUGAR DE MULHER É ONDE ELA QUISER






ENTENDA O FEMINISMO






CIÊNCIA UMA PALAVRA POUCO FEMININA - LEIA O ARTIGO

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