Todo homem tem a mulher que merece. Nelson Mandela é prova disso. Um homem com suas qualidades não poderia estar acompanhado de outra mulher que não fosse Graça Machel.
Graça Machel atua na política e é ativista dos direitos humanos em Moçambique.
Foi a primeira-dama de
Moçambique, desde 1976, quando se casou com Samora Machel, o primeiro
presidente de Moçambique, morto em 1986. Em 1998, casou-se com Nelson Mandela,
o primeiro presidente negro da África do Sul. Pelos casamentos, Graça Machel
tornou-se a única pessoa no mundo a ser primeira-dama de mais de uma nação.
Com
Samora Machel teve dois filhos: Josina Z. Machel y Malengani Machel.
Graça Machel formou-se
como bacharel em Filologia da língua alemã pela Universidade de Lisboa. Voltou
a Moçambique como professora e lutou clandestinamente com a FRELIMO durante a
Luta Armada de Libertação Nacional. Foi ministra da Educação e da Cultura no
primeiro governo moçambicano, durante cerca de 14 anos.
Após a morte de Samora
Machel, em 1986, continuou a sua atividade política no partido Frelimo e criou
uma organização sem fins lucrativos a Fundação para o Desenvolvimento da
Comunidade. Em 1990 foi nomeada pelo secretário-geral da Organização das Nações
Unidas para o Estudo do Impacto dos Conflitos Armados na Infância. Como
reconhecimento do seu trabalho, recebeu a "Medalha Nansen" das Nações
Unidas em 1995.
É presidente do Conselho
de Administração da Universidade da Cidade do Cabo.
O ROMANCE COM MANDELA
Graça Machel casou-se com
Mandela em 1998, dois anos depois do turbulento divórcio do líder negro. Uma
separação marcada por casos de corrupção, autoritarismo desmedido e
infidelidade vindos da parte de Winnie. Já em 2010, quando veio a São Paulo
receber o título de doutor honoris causa conferido pela USP a Mandela, Graçaanunciaria numa entrevista ao Estado a decisão de fechar sua agenda para
compromissos externos, terminar com a ponte aérea semanal entre Maputo e
Johannesburgo (fica na capital de Moçambique a Fundação para o Desenvolvimento
da Comunidade, que ela criou e preside), só para se dedicar a Madiba. "Meu
marido está com 92 anos. Tem todo o conforto de que necessita. Nada lhe falta.
Mas ele me quer a seu lado", disse.
Discreta quanto à vida
privada, não se negou a explicar como e quando o romance começou. Viúva do
presidente moçambicano Samora Machel, morto em 1986 num suspeito acidente de
avião em espaço aéreo sul-africano, Graça Machel procurou o presidente Mandela
para cobrar dele empenho nas investigações. "Era o décimo aniversário da
morte de Samora e não se avançava na investigação sobre o envolvimento de
elementos ligados ao apartheid. Madiba ouviu, acolheu minha revolta e assim
tudo começou", contou. Teria sido amor à primeira vista? "Creio que
estávamos, ambos, muito sozinhos naquele momento". A partir daí, o que se
viu foi um Mandela feliz, exaltando "a maravilha de estar
apaixonado".
Mas a personalidade solar
do líder não eclipsou Graça Simbine Machel. Nem a transformou em peça de
cerimonial.
A MULHER DE DOIS PRESIDENTES
Mulher de dois
presidentes, primeira-dama em dois países, comprometida com o fim do
colonialismo, Graça desembarcou na África do Sul dos anos 90 já a bordo de uma
sólida biografia pessoal. Nascida em família pobre e numerosa, estudou com
apoio de organizações religiosas até doutorar-se em filologia da língua alemã
pela Universidade de Lisboa. Fez-se poliglota.
Voltaria à pátria para
atuar na Frente de Libertação de Moçambique, a Frelimo, incluindo a fase das
armas. Independência conquistada, foi por 14 anos a primeira ministra da
Educação de um país livre, mas com índice de analfabetismo de 93%.
O pan-africanismo é marca
de seu pensamento e ação. "Depois de décadas lidando com a ruptura do
colonialismo, só agora as nações africanas começam a definir seu destino",
avalia.
O ATIVISMO SOCIAL
Graça Machel, Nicolae
Ceauşescu e Samora Machel,
em Maputo, em 1979
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Graça saltou do front
político para o ativismo social, no campo dos direitos humanos, tendo a
sabedoria de atualizar as suas causas. Por exemplo, em Darfur, jogou o peso de
sua influência ao denunciar a violência de gênero, em particular o estupro de
mulheres e meninas. Em países como Etiópia e Índia, enfrentou tradições
culturais arraigadas ao condenar o casamento imposto a crianças, como prática
natural e socialmente aceita. "Tira-se a menina da escola, isolam-na
grávida em casa, não lhe dão serviços médicos adequados. É devastador".
Outro momento de alta
performance de Graça acontece nos anos 90, quando a ONU a convoca para conduzir
um amplo levantamento sobre a situação da infância em zonas de conflito.
Liderou um batalhão de especialistas ao compor o célebre Relatório Machel, numa
época em que havia perto de 30 conflitos armados em curso. Denunciou a morte de
2 milhões de crianças no espaço de uma década. O triplo em termos de portadores
de sequelas. Tratou do problema em todos os seus vieses: crianças como alvo
preferencial em combates, recrutadas como soldados, aliciadas para a
prostituição, amputadas em minas terrestres, órfãs, sem lar nem escola. "É
impressionante. Já pude vê-la em fóruns com personalidades incríveis. Assim que
Graça começa a falar, vê-se que está num nível superior de inteligência,
carisma e clareza", declarou recentemente John Carlin, biógrafo de
Mandela.
"Não é a origem
social que determina o que és, nem o que virás a ser"
costuma repetir a
ex-ministra da Educação que sonhava transformar um país numa grande escola.
Semanas antes de o marido morrer, extenuada com o lento definhar e com o clima
de disputa entre os Mandelas, meteu-se numa videoconferência de Johannesburgo,
para dar um puxão de orelhas no presidente de seu país. Cobrou medidas para
conter a onda de sequestros de crianças, algo que atemoriza a sociedade
moçambicana. "Ela se manteve à frente de tudo nesse período difícil",
comentou o advogado George Bizos, companheiro de Mandela na luta contra o
apartheid. Assessores de Graça acreditam que, daqui para frente, ela vai se
voltar ainda mais para o social. A política não a seduz. O ativismo, sim.
Josina, uma das filhas com
Samora Machel, faz outra previsão: Graça deve se recolher, para elaborar a
perda do homem que lhe deu toda a beleza de um amor crepuscular: "Hoje o
que ela sente é dor".
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