Simone de Beauvoir,
filósofa francesa, existencialista, também conhecida por ser a parceira
intelectual do famoso Jean Paul Sartre, escritora, ativista política e acima de
tudo mulher. Como uma boa existencialista, Simone de Beauvoir, acreditava que
ao nascermos não possuímos um objetivo específico para dar sentido as nossas
vidas, mas somos livres para escolhermos aquilo que desejamos ser, ou seja,
somos donos de nosso próprio destino para criar uma existência autêntica para
nós mesmos.
Preocupada com questões e
situações que desvalorizam a mulher na sociedade, Simone escreve sua obra de
maior impacto (O Segundo Sexo) em um período conservador, que a mulher se via
limitada a tabus e costumes que agrilhoavam a liberação da mulher a uma
condição existencial de igualdade frente aos homens.
Para Beauvoir, as bases de
todo o pensamento, valores e juízos humanos foram erguidas sob uma matriz
Masculina, ou seja, todo o sistema de crença da humanidade foi construído em
cima de padrões Masculinos. Um fato disto é o próprio conceito de humanidade,
em que os homens são definidos como seres humanos e a mulher como fêmea (pág.
72, Cap. II SS).
Segundo Beauvoir, todas as vezes que a mulher se conduz como
ser humano, ela afirma-se como homem. Entretanto, mulheres não são homens,
logo, a mulher é definida pela sua diferença, seja biológica ou fisiológica,
como sendo o Outro sexo, ficando num limbo conceitual.
Neste sentido, Simone se
pergunta: o que é a mulher? O que é ser mulher?
Buscando compreender o que
é a mulher a partir de uma visão masculinizada de mundo, Simone, analisa os
preceitos, mitos e tabus que sustentam essa visão de mundo, segundo a passagem
do estado natural ao estado cultural a partir do modo de pensar as relações
humanas sob as formas biológicas de oposições (Lévi-Strauss).
O primeiro volume
de seu livro O Segundo Sexo, a filósofa busca fazer uma desconstrução dos
principais fundamentos desta razão machista, evidenciando incoerências ou
insustentabilidades nas teses biológicas, psíquicas e econômicas.
Numa perspectiva
fenomenológica em que o corpo é a chave de nossa percepção e realidade concreta
de nossa existência, Simone sustenta que a relação que cada pessoa tem com o
seu próprio corpo, com os outros ou com o mundo é fortemente influenciada pelo
gênero sexual.
Na perspectiva biológica a
mulher é a fêmea o ovário, tendo a perpetuação da espécie como seu principal
pressuposto para definir o que é a mulher. Segundo Simone, a necessidade
biológica do homem e o desejo de posterioridade coloca o macho em total
dependência da fêmea; dependência que cria um vínculo irredutível de poder e
submissão que é concretizado pelas relações econômicas em sociedade.
Economicamente homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade
de condições, os primeiros têm situação mais vantajosa, salários mais altos,
maiores possibilidades de êxito que suas concorrentes recém-chegadas. Nessa
relação de dependência, como do senhor e do escravo (Hegel) a mulher acaba
introspectivamente aceitando suas funções sociais assumindo o papel de fêmea.
Simone, não nega que
existam diferenças biológicas e fisiológicas, mas essas diferenças não são
suficientes para inferiorizar ou assegurar uma condição de menos importância às
mulheres, sendo, portanto, uma questão de perspectiva. O fato é que a mulher é
educada para pensar e agir de forma submissa. A sociedade é uma fábrica que
constrói sociologicamente, moralmente e profissionalmente boas mães, esposas
dedicadas e trabalhadoras do lar. Um exemplo disso é a diferença nas
brincadeiras, nos brinquedos, na literatura e na educação das meninas, que mais
tarde segue na formação profissional.
Para Simone de Beauvoir não existe uma
forma certa ou errada de viver, desde que seja uma existência autêntica e
livre, portanto, casamento ou maternidade devem ser escolhas e não formas de
realização das mulheres, pois a mulher é a dona de seu corpo e de seu destino.
Portanto, ao aplicar essa
ideia de liberdade à noção de mulher, ela demandou a separação do ente
biológico (a forma corporal com a qual nascem as mulheres) da feminilidade (que
é uma construção social). Já que qualquer construção é aberta a mudança e
interpretação, isso significa que existem várias maneiras de ser mulher. Logo,
viver uma existência autêntica traz mais riscos do que aceitar um papel
transmitido pela sociedade, sendo a liberdade o único caminho para a igualdade.
Por Alex
Machado da Silveira
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