O imaginário sobre as
bruxas foi constituído em torno do horror, sendo elas retratadas como símbolos
e praticantes do mal. Em torno dessa representação maligna elas foram
retratadas como mulheres assustadoras, sinistras e passaram a povoar histórias
de terror e narrativas para assustar crianças, estando presentes na elaboração
de lendas, na criação literária e em filmes. As imagens de figuras más e
perigosas foram sendo passadas de geração em geração.
Feministas e pesquisadores
a partir da década de 1970 começaram a rever essas caracterizações e
estereótipos, indo em busca de outras perspectivas e outras histórias sobre as
bruxas. A Idade Média é um período importante para compreender a história da
bruxaria, pois nesse período acusação de bruxaria era grave e frequentemente
terminava com condenações a morte por meios cruéis. Mas as origens da bruxaria
medieval não tem nada a ver com as acusações de vínculos com o Demônio que a
Igreja Católica e o Estado insistiam em abordar através da imposição de regras,
expressões de moralidade, condutas e papéis sociais e doutrinas religiosas.
Claro que nem todo mundo se enquadrava nesses parâmetros e muita gente não
queria se enquadrar, inclusive muitas mulheres se recusavam a seguir os ditames
de então e viravam alvos de uma reação violenta e variada.
Em comunidades camponesas
ou em grupos isolados eram comuns as atuações de pessoas que realizavam
atividades de curandeirismo - inclusive pela ausência de uma atividade médica
regular. Para realizar os procedimentos recorria-se ao socorro de insumos
naturais e o conhecimento sobre ervas, raízes, misturas e rituais de cura
acabou sendo também enriquecido por algo muito presente naquelas sociedades: o
misticismo. Mulheres, geralmente submissas, conheciam liberdade quando atuavam
como curandeiras e suas atividades lhes davam certa influência sobre as
comunidades, pois eram vistas como orientadoras religiosas, referências de
sabedoria e, claro, como destacadas lideranças entre essas populações, o que
era um problema para quem controlava o poder.
Perseguir mulheres que
claramente desempenhavam essas atribuições era uma solução para exercer mais
controle sobre as comunidades e fazê-las cumprir penas decorrentes das
acusações de bruxaria era um meio eficaz de impor "exemplos" para quem
eventualmente fugisses dos parâmetros tidos como aceitáveis e, na verdade,
obrigatórios para as pessoas. É verdade que muitas das acusadas realmente
renegavam a diretriz instituída pela Igreja, pelo Estado e pelos costumes
predominantes, seguindo outros princípios religiosos e morais, sendo certamente
estas as mais fáceis de caírem diante das acusações e virarem alvos dos meios
repressivos. Não era raro que mulheres vivessem diante da vulnerabilidade da
perseguição por causa de outros fatores, como o caso de viúvas ou mulheres
solitárias cujos bens eram cobiçados e tomados quando acusadas de bruxaria
mesmo sem evidências dignas de cuidado.
O sistema patriarcal
favorecia a pressão acusatória sobre mulheres e exercia por meio da
qualificação delas como bruxas um meio de intimidação evidente. E associado a
todos esses fatores estava, obviamente, estava o forte fanatismo religioso que
vinculava muitos comportamentos a efeitos demoníacos intoleráveis e passíveis
de uma intervenção severa para livrar o mundo do mal de agentes de Satanás.
Mesmo finda a Idade Média
a atuação contra as alegadas bruxas continuou. Estima-se que cerca de nove
milhões de mulheres foram vítimas de intolerância na Europa e nas colônias
britânicas na América entre os séculos XVI e XVII por acusações de prática de
bruxaria.
Fonte: História Blog
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